sábado, 24 de dezembro de 2011

Artigo da Semana (4)

SOL RESPLENDENTE
Pe.Charles Borg (25.XII.2011)

Evangelho é o nascimento de Jesus! As reduzidas narrativas que registram o nascimento na carne do Filho Unigênito de Deus são marcadas por uma clara tensão. De um lado, o esforço de Deus para comunicar ao mundo o aparecimento do Salvador. Do lado oposto, a indiferença dos cidadãos e até a declarada oposição de gente notável e influente à criança que acaba de nascer. As narrativas referentes ao nascimento de Jesus exploram em síntese precisa a tensão histórica que caracteriza o diálogo entre Deus e a humanidade. Nas entrelinhas das narrativas sobre o nascimento de Jesus se percebe o conflito. Vislumbra-se também o feliz desfecho.
Ao analisar os textos de Mateus e Lucas percebe-se logo a tensão. Jesus é acolhido pelos mais simples, mas ignorado e perseguido pelos distintos e influentes. Com dificuldade Maria e José encontram lugar onde abrigar o divino menino que está para nascer. Certamente na cabeça de ambos algumas pertinentes interrogações; quem reconheceria um salvador que nasce no fundo de uma casa? E se permanecer desconhecido que eficácia a sua missão teria? O Criador, no entanto, tratou de iluminar e tranqüilizar, por meio dos acontecimentos, as presumíveis dúvidas de Maria e de José. O próprio Altíssimo cuidou de divulgar o nascimento do seu Filho Unigênito, primeiro à pastores, e por intermédio desses desqualificados mensageiros, aos demais cidadãos de Belém. Pois ao verificarem a autenticidade do anúncio dos anjos, saíram comunicando a boa notícia a todos os conhecidos.
A mesma tensão transparece na história dos reis magos, os sábios vindos do Oriente. Para eles, a mensagem do nascimento do Deus-menino foi comunicada pelo surgimento de uma brilhante estrela, que decidem seguir. Não é o caso de averiguar a realidade histórica do fato, tudo indica tratar-se de uma parábola. É com uma lição bem direcionada. Em Jerusalém, os astrólogos pagãos procuram informar-se no palácio do rei Herodes acerca do novo rei. Curioso detalhe, sem nenhuma pretensão são eles, infiéis astrólogos, que anunciam à Herodes e aos sacerdotes a seu serviço a chegada do Salvador. Admirável, Deus usa de todos os meios para tornar conhecido seu amor pela humanidade. Cuidou de apresentar à pagãos, usando uma linguagem familiar a eles, seu Filho Unigênito que veio salvar a humanidade inteira, sem exclusão de ninguém. E por meio deles levar a mensagem a Herodes e sua corte! Enquanto os magos se alegram ao ver o Menino, Herodes, que as Escrituras conhecia, planeja matá-lo. Não é um tirano doente, porém, que estragaria o projeto divino de libertação. É preciso muito mais de um exército à mando de um paranóico para impedir a ação divina.
Formidável, portanto, foi a intuição dos cristãos do quarto século quando decidiram introduzir no calendário litúrgico a festa do nascimento de Jesus aproveitando-se dos festejos do rei sol. Conhecedores profundos que foram do conjunto dos textos evangélicos enxergaram nas entrelinhas das narrativas referentes ao nascimento do Filho de Maria uma iluminadora e instrutiva alegoria. O sol sempre brilha, mesmo que os homens em sua prepotência, arrogância ou ignorância tentam impedir a sua ação ou diminuir a sua importância. A alegoria com o sol sustenta magistralmente toda mística e toda alegria que envolve a celebração do nascimento do Senhor Jesus Cristo. Por mais que o Homem com argumentos racionais e experimentos científicos tenta negar a existência do Salvador ou reduzir e desqualificar a importância da sua influência no cotidiano das pessoas, o resultado sempre será pífio apesar do espalhafatoso ruído. Jesus não será vencido, malgrado a aparente fragilidade e a imponência do arsenal de seus adversários. Lamentam-se apenas a persistente teimosia e soberba que retardam o Homem a reconhecer os benefícios de acolher o salvador. Incompreensível despropósito! Conhecer Jesus é, na verdade, a maior ventura!
Brilha o sol, mesmo que alguns teimam em se esconder ou fugir dele. Jesus, igualmente, reinará e não descansará enquanto não atrair todos a si. Nada frustrará esta meta. Pelo profeta anuncia o Altíssimo: certamente, pode-se tomar do valente o prisioneiro, e salvar das mãos do forte caçador a presa feita; eu lutarei com os que lutam comigo e salvarei os teus filhos!(Is 49,25). Jesus, o Sol verdadeiro, resplenderá!

Nenhum comentário:

Postar um comentário