EM REDE
Vínculos afetivos são indispensáveis no processo educativo. Educar não é o mesmo que ensinar. O ensino representa uma etapa no processo formativo de uma pessoa. O ensino pode satisfatoriamente ficar sob a responsabilidade de um só agente. A educação, no entanto, é processo que envolve necessariamente a comunidade. “È preciso de uma aldeia inteira para educar uma criança”. É a convicção do educador mineiro Tião Rocha. Educar é construir identidade. Formar consciência. Fincar princípios que regulam e guiam o comportamento de uma pessoa. Para ensinar é necessário conhecimento. Para educar é preciso possuir convicções. Para aprender é preciso estudar. Para adquirir identidade é preciso seguir exemplos. Entende-se porque toda etnia e toda digna associação cultua heróis e cultiva sua memória. Discute-se muito atualmente a questão escolar. Debate-se quanto á métodos, disciplinas, horários e equipamentos. De fato, variados são os métodos de ensino, a maioria de reconhecida eficiência. Numerosas são as instituições escolares que oferecem laboratórios com sofisticados equipamentos. É de se reconhecer que o investimento na infraestrutura escolar é formidável. No entanto, amarga-se na sociedade atual uma preocupante curva descendente no nível de civilidade. Gritante é o desrespeito pela pessoa alheia, de indigência atroz é o tratamento cortês entre as pessoas, cada vez mais exíguo é o sentido de limites, desafiador o empenho com a preservação do meio ambiente. Recrudesce a grosseira. Promove-se a vulgaridade. Estimula-se a violência bruta. Escolaridade existe. Civilidade, no entanto, está em crescente falta. Ensinar não é o mesmo que educar!
A situação já foi diferente. Antes da massiva urbanização, quando as colônias – as aldeias – representavam forte referencial, seguia-se um padrão definido de comportamento. O sujeito se identificava com o clã, experimentava relações sociais básicas, crescia acompanhando e participando de hábitos seculares. Havia menos escolaridade, é verdade, ignorava-se, nas conversas, a concordância, mas, em compensação, havia respeito entre pessoas, como também pelas instituições e pelas tradições. Havia vinculações afetivas com histórias e pessoas. A urbanização melhorou a concordância, sofisticou o visual, mas fragilizou os relacionamentos afetivos. Desfeita a aldeia, as famílias, ao se separarem das raízes e da história, fragmentarem-se. As pessoas perderam a identidade e foram engolidos para uma enorme massa anônima. Sem raízes e história, sem afetiva vinculação a um grupo, alija-se o processo educativo. Esta ruptura gera um imenso vácuo cultural, rompe referências, gera insegurança. Num contexto cheio de incertezas é natural que a estupidez recrudesça. No esquema urbano, a afirmação da identidade atrela-se à produção, ao consumo, ao lucro. À imagem, enfim. Valores tão vorazes quanto voláteis. A urgência do ter e do poder, de sair do anonimato e ser reconhecido aguça a competitividade, estimula a rivalidade, acelera o ritmo, corrói os relacionamentos. Fomenta o medo. Insegurança e subjetivismo são as marcas mais evidentes de uma disforme cultura urbana.
Neste contexto repressor emerge um fenômeno, curioso, mas igualmente indicativo e promissor, o crescimento vertiginoso de redes virtuais. Graças à informática, globalizante e instantânea, surgem e multiplicam-se as comunidades virtuais. Em rede, as pessoas manifestam a vontade e a necessidade de se encontrar. De trocar experiências, confidências. De estabelecer vínculos. De conviver, em suma. O ser humano, incisivamente, clama por viver em comunidade. O isolamento e o anonimato destroçam a sua natureza. É em grupo que ele forma, e afirma, a sua identidade. É em ‘família’ que cresce e evolui. Urge, portanto, incentivar a criação de pequenas células de convívio social. Da virtual passar para a rede real do contato, do olho no olho, da amizade calorosa. Requer, claro, superar a resistência reinante, vencer o conforto atrofiante, derrotar a difusa preguiça. Urge estimular as pessoas a saírem de seu comodismo e isolamento e a se associarem a grupos de convívio. Nessas pequenas comunidades as pessoas se redescobrem, criam vínculos, resgatam a identidade, reassumem o protagonismo. Indispensável é ensinar. Imprescindível é educar.
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