sábado, 10 de março de 2012

ARTIGO 14


TRANSFIGURAÇÃO
Jesus é mistério! Na acepção bíblica, mistério acena para algo que, de tão sublime, supera a capacidade intelectual do ser humano. Jesus Cristo é esta realidade excelsa que muito supera as categorias humanas de entendimento e de comunicação. Curioso, e ao mesmo tempo confortador, as pessoas que mais conviveram com Jesus se viam muitas vezes confusas a respeito da sua identidade. Ao querer enquadrá-lo segundo padrões humanos de celebridade, deram-se mal. Na realidade, quem tenta entender Jesus baseado apenas na acuidade da inteligência, fatalmente fracassa. Conhecer Jesus demanda uma nova configuração mental, uma operação que conta com a direta colaboração do Mestre.
A três discípulos Jesus, intencionalmente, deu a oportunidade de testemunharem duas situações, ao mesmo tempo díspares e complementares. Em ambas as situações houve uma transfiguração. No monte Tabor, a transfiguração foi gloriosa. Naquela ocasião, Pedro, João e Tiago, viram Jesus assumir inconfundivelmente a sua condição divina. Encontravam-se, à convite de Jesus, no cume de um monte, lugar privilegiado para epifanias divinas. O rosto de Jesus assumiu um impar esplendor, sua túnica adquiriu uma alvura especialíssima – lembrando que, naqueles tempos, túnicas brancas eram vestimentas reservadas a gente de carreira vitoriosa – e, com especial destaque, a voz de Deus confirmou ser Jesus o Filho único e amado. Vestindo a ‘roupa de Deus’ Jesus revela a sua verdadeira identidade. Precisava, na verdade, tranqüilizar os discípulos quanto à sua origem divina como também quanto à legitimidade de sua missão. É que os discípulos, e os outros numerosos contemporâneos, condicionados por padrões humanos de vitória, não conseguiam conciliar a imagem de Jesus como Messias, isto é, em sua condição de ungido de Deus, com a declaração, feita em viva voz, de que estava indo a Jerusalém onde seria morto na cruz! A condenação e morte na cruz, racionalmente, são incompatíveis com a condição do Amado de Deus. Que Ungido seria este? Os amados são protegidos e não expostos e abandonados. Ao proporcionar a seus amigos a magnífica experiência do monte Tabor, Jesus pretende não somente confirmar a sua divina identidade, mas também alertar a quem deseja conhecê-lO que deve estar disposto a descartar todos os paradigmas humanos. Jesus é um mistério, admirado e venerado por quem aceita ajustar seus conceitos.
A experiência gloriosa do monte Tabor foi uma estratégia cuidadosamente executada em vista de uma outra transfiguração, que os três estavam escalados a testemunhar mais tarde. A Jerusalém chegado, pressentia Jesus que seu fim estava próximo. Com seus discípulos comeu a Ceia Pascal, elevando o ritual a um novo patamar de caridade e de serviço. O Ungido de Deus, primeiro, rebaixou-se para lavar os pés de cada integrante do grupo e depois, ofereceu-se a si mesmo para ser consumido sob as espécies de pão e de vinho. O Mestre desafia os limites da racionalidade! Não bastasse o inusitado rebaixamento e a inefável caridade, os três foram ainda convidados a testemunhar a dolorosa agonia de Jesus no horto. Presenciaram uma nova transfiguração, igualmente querida pelo Mestre. O mesmo Jesus esplendoroso no Tabor, era visto prostrado no chão, suando sangue de tão tenso e suplicando ao Pai, que O havia declarado Filho amado, que afastasse dEle aquele cálice de dor!
Jesus do horto é o mesmo Jesus do Tabor! Sem perder nada da condição divina, Jesus se mostra extremamente vulnerável! Racionalmente, são realidades difíceis de ser conciliadas. E entendidas. Jesus é um mistério. Diante do sublime, a postura mais recomendada é a reverência. Reverenciar é reconhecer com grata franqueza que o objeto contemplado é infinitamente superior à capacidade humana de assimilação. Diante de tão sublime realidade cabe somente o obsequioso silêncio. Jesus não é tese. A abordagem racional induz à inevitáveis confusões e equívocos. Para os intelectuais, Jesus é uma fantasia. Invenção piegas. Jesus é o Redentor vivo que quer ser conhecido, aceito e seguido. O Homem precisa dEle. Quem com honestidade por Ele procura, fique ciente, Jesus dará um jeito de encontrar-se com ele. Todo itinerário de fé passa pela experiência da transfiguração!

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