sábado, 14 de abril de 2012

ARTIGO (17)


DESTEMIDOS
“Ressuscitou. Não está aqui”! Uma mulher foi a primeira destinatária humana a receber a mais venturosa notícia da história. A ousadia na escolha da destinatária vai além de conflitos ideológicos e culturais envolvendo os gêneros. O fato histórico de que a mulher, na sociedade contemporânea de Jesus, não gozava de credibilidade certamente pesou na escolha. Especialmente quando a associamos a outras escolhas, igualmente ousadas, feitas por Jesus. A instituição da Eucaristia e do sacerdócio cristão, eventos singulares na obra evangelizadora, foram presenciados apenas por doze homens, de cultura discutível, e em clima de terrível tensão. Humanamente falando, os dois eventos principais da fé cristã, a ressurreição e a instituição da Eucaristia, tinham tudo para serem facilmente esquecidos e racionalmente ignorados. Afinal, quem daria crédito a uma mulher? Quem confiaria no testemunho de homens que, não bastasse o pavor, estavam ainda se investindo da mais alta autoridade religiosa?
Deus usa o que é humanamente desprezível para realizar maravilhas. Esta estranha estratégia evangelizadora confirma a pétrea verdade de que o bem e a verdade possuem vitalidade própria. Seu vigor não depende tanto dos credenciais dos anunciadores, mas, sim, de uma inerente potencialidade. Ao contrário de todos os pronunciamentos e teses que precisam da chancela de autoridades credenciadas e da aprovação de instituições acadêmicas, as verdades cristãs se sustentam por si mesmas. Justamente porque são verdades com desdobramentos existenciais, transformadores de vidas, e não teses acadêmicas. Aos evangelizadores cabia, e cabe, a transmissão fiel e incansável da verdade. Os desdobramentos ficaram, e ficam, por conta da vitalidade inerente do próprio anúncio. Não faltaram, ao longo da história, duras contestações, científicas pesquisas, enérgicas oposições e cruéis perseguições na tentativa de desqualificar verdades e pregadores. No entanto, essas verdades passadas de geração em geração, na simplicidade da catequese, animadas pela convicção dos anunciadores preservaram a identidade e a vitalidade originais. Este fenômeno talvez seja o milagre maior a confirmar a confiabilidade da fé cristã. Nenhuma instituição permaneceria em pé e por tanto tempo, malgrado tantos obstáculos, perseguições, confusões, inclusive internas, se fosse fundada numa fantasia.
A religião cristã passa hoje, também, por sérios questionamentos. Pesquisas científicas contestam as verdades da fé. Estudos articulados argúem dogmas secularmente aceitas, causando dúvidas em mentes pusilânimes. Faltam para alguns sólidos argumentos para debater com a lógica racionalista. Complica o quadro religioso a desastrosa incoerência entre o que se prega e o que se vive, entre o que se professa e a ética que regula o cotidiano dos fiéis. A dicotomia entre fé e vida é evidente. São milhares os fiéis que frequentam templos regularmente, sem que a sua presença no mundo seja eficazmente transformadora. A incoerência, além de desestimular a adesão de novos membros, alimenta a mentalidade de que a religião é uma proposta caduca, retrógrada, incompatível com os avanços científicos e as conquistas tecnológicas modernas. Difusa está a tese que a religião chegou, de fato, ao ocaso. Não há mais espaço para ela na sociedade moderna. Já cumpriu seu papel. Não possui mais utilidade. O Homem genuinamente moderno tem que ser ateu. Soberano. Coerente e bacana é ser pessoa sem fé!
Resgata-se neste sombrio contexto a atitude da Madalena e a atuação dos onze apóstolos sobreviventes da primeira eucaristia. Para eles, todas as forças eram contrárias. Recuaram e encolheram, num primeiro momento. Mas quando ficaram convencidos da vitalidade da verdade a eles transmitida, saíram e a anunciaram com tanto vigor e convicção que a mensagem foi se espalhando sem que eles soubessem como. Lembravam, certamente, da lição do Mestre, a semente boa é naturalmente fecunda. Enormes permanecem os desafios, argutos os contestadores, ingentes as adversidades, nada, no entanto, desanima os humildes e despretensiosos evangelizadores. Estão convictos, são portadores de uma notícia intrinsecamente boa, salutar, imprescindível para uma vida humana genuinamente digna. Motivados por uma genuína e generosa caridade seguirão destemidos dando fiel testemunho do Evangelho de Jesus Cristo!
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