sábado, 21 de abril de 2012

MANSIDÃO Absurda está a violência. Insuportavelmente presente em todas as áreas do convívio social. Agride-se em família. Agridem-se menores e mulheres. Agridem-se covardemente pobres, homossexuais, torcidas adversárias. Agride-se fisicamente, verbalmente, moralmente! O recurso à violência está se tornando obsessivo. Recentemente, acompanhei, estarrecido, o depoimento de um internauta, aparentemente culto, que criticava a deliberação do governo do Rio de Janeiro de patrocinar o ensino religioso nas escolas públicas do estado. Este senhor, ao protestar contra a orientação do Executivo estadual fluminense recheava sua critica com impropérios e xingamentos vulgares, chulos mesmo. Preocupado profundamente fiquei, não com a opinião do internauta, afinal é um direito garantido manifestar as próprias convicções, mas com a agressão insultuosa e grosseira. Infere-se que para reforçar um argumento o sujeito precisa recorrer à maledicência. O murro convence mais que o argumento. A truculência é mais persuasiva que a razão. Absurdo retrocesso, incompatível com uma civilização tão avançada tecnologicamente como a atual. Alarmante é o surto desta terrível bactéria comportamental que, parece, desenvolveu uma genética resistência a todas as vacinas corretivas. Impressiona como a sociedade moderna encontra prazer em investir na violência. Torneios de lutas violentas ganham espaço nobre em canais abertos de Tv, exaltando campeões, exibindo músculos, mas, manhosamente, escondendo as contusões graves, fatais algumas, sofridas por praticantes. Mídia com games de combate encontram mercado garantido e lucrativo. A palavra de ordem parece ser, a valentia resolve e compensa. Enquanto isso, o grande número de cidadãos, que sempre foi pela paz e abomina confusão, acompanha perplexo e se vê refém, indefeso e com medo. Acuado, o cidadão pacato se recolhe. Encolhe. Quanta gente deixou de freqüentar estádios ou outras praças de diversão temendo a violência! Quantos professores entram em sala de aula receosos por conta de possíveis confrontos com alunos por causa de elementares exigências de disciplina e respeito! Estranho, ser da paz soa como defeito, falta de personalidade! Frouxo! Urge fazer frente a esta insana apologia da violência. Resignar-se diante da ebulição da cultura da violência representa, na verdade, um velado estímulo à estupidez. Os cristãos, em particular, devem sentir-se convocados a abraçar esta missão profética de promover a cultura da paz. Afinal, Jesus Cristo se autoproclamou manso e humilde de coração. Dele foi escrito com precisão que, ao ser agredido, não revidou, quando ultrajado, não retaliou (1Pdr 2, 23). Ao contrário, ensinou amar os inimigos, fazer o bem aos desafetos. Perdoar os agressores. Orar pelos adversários. Considerando que os seguidores de Jesus constituem um dos segmentos mais numerosos entre os cidadãos do mundo, legítima se torna a interpelação; por que recrudesce tanto a violência? Por que a apologia da violência encontra tantos adeptos? A resposta é óbvia: não estamos fazendo direito o nosso dever de casa. Gritante é a distância entre o que proclamamos e o que praticamos. Os nossos lábios louvam a Deus, misericordioso e paciente, mas a nossa conduta compactua com o diabo da discórdia, adere ao demônio da conflito. Temos vergonha de mostrar que somos da paz. Quando insultados, preferimos revidar. Afinal, viril é quem não leva desaforo para casa. Somos batizados, mas não nascemos de novo! O Homem Velho, e valente, permanece ativo e influente. Reprimir os briguentos é necessário. Punir os delinqüentes é imperioso! No entanto, a cultura da violência regredirá somente quando for suplantada por uma cultura de paz, de mansidão, de reconciliação. Ingente tarefa, ingênua ou até utópica segundo alguns, profética, contudo, para quem acredita que o Senhor Jesus saiu vitorioso sobre todas as maldades ao optar abençoar ao invés de retaliar. O medo paralisa o agente, mas estimula a estupidez. Urge mostrar que a única estratégia eficaz contra a violência é a mansidão. Esta virtude, quando autêntica, nada tem de frouxidão. Ao contrário, luta pelo que é certo, mas sem agredir. Defende firmemente o que considera direito, mas sem achincalhar. Somente os verdadeiramente corajosos são mansos. E somente os mansos triunfarão de verdade! WWW.pecharles.blogspot.com

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