sábado, 9 de junho de 2012

ARTIGO

MÍSTICA EUCARÍSTICA Partir o pão! Com esta expressão singela, carregada embora de significado, os discípulos de Jesus designavam a celebração da Eucaristia durante os primeiros decênios da era cristã. O Senhor Jesus elevou o gesto hospitaleiro de partir o pão com amigos a um inimaginável patamar sobrenatural. Já tinha deixado sinais desta sua surpreendente intenção ao multiplicar cinco pães e dois peixes com uma grande multidão. Narram os quatro evangelistas que antes de multiplicá-lo, o Mestre pegou o pão em suas mãos e após dar graças – fazer eucaristia – o repartiu e mandou que fosse distribuído. Antecipou o ritual que seguiria na ceia derradeira, reservando, todavia, para a ocasião uma inesperada novidade. Na última ceia, antes de repartir o pão entre os presentes, declarou: tomam e comam, é meu Corpo! Três dias depois, ao repetir o gesto com dois discípulos na aldeia de Emaús, provocou um impacto singular. Graças a este gesto, os olhos dos dois se abriram e reconheceram, de forma inconfundível, que aquele solícito peregrino era o Senhor ressuscitado. Os primeiros cristãos assimilaram que, na celebração da Eucaristia, ao repetirem o singelo gesto de repartir o pão consagrado, o senhor Jesus se fazia particularmente presente entre eles, externando para com seus amigos sua profunda ternura, estimulando-os a reproduzirem entre si os mesmos sentimentos de comunhão e solidariedade. Celebravam a Eucaristia como o memorial do Senhor! O livro dos Atos dos Apóstolos registra que os primeiros seguidores captaram o desejo do Mestre com tanta convicção que ao praticar com assiduidade o rito do partir o pão viviam como se fossem um só coração e uma só alma. O mais primitivo aceno sobre a Eucaristia revigora a exigência da comunhão entre os irmãos que o rito pressupõe. Escrevendo aos cristãos de Corinto, o apóstolo Paulo censura energicamente a divisão existente na comunidade e recorre à celebração da Eucaristia para recolocar os convertidos no trilho da união. Recorda-lhes que um só é o pão repartido, como também um só é o cálice distribuído entre os fieis. Uma só em Cristo Jesus, portanto, deve ser a comunidade dos discípulos. Impensável celebrar a Eucaristia e permanecer desunido, ou, pior, alimentar rivalidades. Esta preocupação com a plena comunhão como conseqüência principal da celebração da Eucaristia encontra sua maior inspiração no longo discurso de Jesus a seus discípulos durante a última ceia, conforme registro do evangelista João. No ambiente da Primeira Eucaristia da história, celebrada na carne pelo próprio, Jesus, carregado de emoção, insiste no amor que deve reinar e distinguir a comunidade dos discípulos. Naquela memorável noite, justamente após repartir o pão, já transformado no seu Corpo Sagrado e o cálice de vinho no seu Sangue, Jesus legou aos comensais o seu único mandamento, o seu mais profundo desejo. Ordenou-lhes que se amassem entre si, não com um afeto qualquer, mas com o mesmo amor com que o Mestre os amava. Reforçava este pedido apelando à condição de amigos a que os elevava. Vocês serão meus amigos se fizerem o que peço, declarou Ele, e o que peço é isto, amem-se mutuamente. A ligação entre Eucaristia e o testemunho do amor fraterno é explicita e exigente. Ao celebrar a Eucaristia os cristãos fazem memória, sintetizam, por assim dizer, a vida do Mestre Jesus e ao comungar seu Corpo e seu Sangue comungam seu amor profundo ao Pai, e, como natural conseqüência, seu amor igualmente profundo para com todas as pessoas. Amava Jesus o Pai e amava também ficar no meio dos homens! Banquete fraterno é a Eucaristia, sinalizado magnificamente pelo gesto de partir o pão. Suplica, a propósito, o celebrante principal, nas intercessões após a consagração, que ao comungar o Corpo e o Sangue do Senhor sejam os fiéis reunidos pelo Espírito Santo num só corpo e num só espírito. Essencialmente fraterna é a mística eucarística. Comunitária. Eclesial. Empobrece demais o profundo sentido da Eucaristia todo gesto individualista, toda piedade particular. Em nenhuma refeição decente os comensais se isolam. Muito menos na celebração da Eucaristia! WWW.pecharles.blogspot.com.

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