REDENÇÃO
Impõe-se
o humanismo. Sociólogos de renome afirmam que o mundo está se reorganizando a
partir de um núcleo de valores genuinamente humanos. Acima de qualquer outro
interesse, as várias culturas percebem a necessidade de promover valores que
beneficiam as pessoas enquanto seres humanos. O fenômeno da globalização
certamente tem proporcionado valiosa contribuição para revitalizar esses
conceitos. As agudas crises que, recentemente, vêm afetando os vários países,
igualmente, comprovam não existir turbulência isolada. O mundo toma consciência
da íntima dependência que existe entre uma nação e outra, entre uma cultura e
outra. E, obviamente, entre cidadãos como indivíduos. Avanços e contratempos
não ficam mais restritos a uma área exclusiva. Cedo ou tarde seus
desdobramentos respingam em outras áreas, afetam outros cidadãos.
Papel
fundamental exerce o cristianismo na redescoberta da dimensão humanitária.
Jesus Cristo afirmou solenemente estar no mundo para que todos tenham vida e a
tenham em abundância. Captando a essência deste propósito, renomado teólogo do
segundo século cristão escreveu que o que mais glorifica a Deus é o ser humano
em pé. Quanto mais se promove a dignidade do ser humano, mais se santifica o
nome de Deus. Doutrina esta que se inspira nos ensinamentos de Jesus e,
principalmente, no jeito como Ele tratava as pessoas. Distinção maior do
caráter de Jesus Cristo é a misericórdia. Uma feliz frase recorrente nos
evangelhos descreve Jesus como profeta ‘cheio de misericórdia’. Diante das
várias necessidades do ser humano, diante de suas inúmeras misérias e lamentáveis
limitações, Jesus sempre procura manifestar que se importa acima de tudo com o
ser humano. Ao homem decaído, sem perder-se com as circunstâncias da sua
prostração, Jesus sempre lhe estende a mão com o precípuo objetivo de erguê-lo.
LEVANTA-TE, é uma das expressões mais freqüentes nos lábios de Jesus, precedida
ou seguida por atitudes concretas de compaixão. Antes de qualquer lei ou
ordenança, a preferência é para o ser humano! Ninguém é mais humano do que o
Filho de Deus feito homem!
Ao
propor o amor ao próximo como mandamento ‘siamês’ ao do amor a Deus, Jesus
induz seus seguidores a entender ser impossível servir a Deus sem colocar-se a
serviço do semelhante. Ora, colocar-se a serviço do semelhante significa, na verdade,
considerar e tratar o outro como um ser superior a si. Dar ao outro a
preferência. Respeitar o próximo, em suma. Certamente esta é uma postura
valiosíssima na construção de um humanismo consistente e genuinamente digno. Respeitar
radicalmente o outro representa, contudo, andar na contramão da cultura vigente,
caracterizada por um individualismo exacerbado. O dogma atual do comportamento exalta
o egoísmo acima de qualquer outro valor, vendendo a ilusão de que é possível a
pessoa ser feliz isoladamente. Seduzido por tantas facilidades, em especial de
crédito, o cidadão se deixa inebriar pelo prazer imediato, fácil,
descomprometido. Neste hedonismo pragmático o prazer não raramente se
transforma em frustração, dor, isolamento. A superficialidade e a falta de
sustentabilidade desta mentalidade acenam claramente para a falácia dessa doutrina.
Evidente está a desintegração do ser humano, tanto no campo individual como
coletivo. Conflitos e ansiedades estão à flor da pele. Urge olhar além do
imediato e do material. O material é finito. Transitório. A natureza humana reclama
pelo transcendente! Carece colocar-se em patamares acima do material. É esta
busca do transcendental que gera genuíno equilíbrio e autêntica serenidade à
existência humana. Que torna, em suma, o homem feliz e agradecido por ser
gente!
Em
linguagem teológica, a satisfação de se reconhecer gente responde pelo nome de
redenção. Ao redimir o Homem, Jesus Cristo o livra da diabólica praga do
individualismo, da traiçoeira ilusão de uma realização egoísta e imediata.
Redimido, o Homem não está liberto automaticamente da terrível tendência
individualista. Torna-se, sim, mais vigilante sobre seus impulsos e suas
escolhas porque conduzido por valores e princípios que o educam a agir sempre
com o devido respeito e consideração para com o semelhante. Imprescindível e
urgente a contribuição dos cristãos na construção de um humanismo consistente e
digno!
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