domingo, 15 de julho de 2012

ARTIGO

REVERÊNCIA Pe. Charles Borg Cresce o número de ateus. Crescimento consistente. É o que aponta o resultado da pesquisa do censo religioso apresentado recentemente e amplamente divulgado pela mídia nacional. Os números apresentados pelo censo geram, obvia e obrigatoriamente, diversas especulações. Os católicos praticantes, em sintonia com a hierarquia eclesiástica, externam uma compreensível preocupação com a sensível redução porcentual dos membros da Igreja. Os evangélicos, obviamente, festejam o aumento porcentual de seguidores, mesmo concedendo que o segmento evangélico seja imensamente fragmentado. O fenômeno interessante da pulverização entre o segmento evangélico pode ser um dos caminhos a explicar tanto a redução de católicos como também o aumento dos ‘crentes’, dos ateus e dos sem religião. Argumenta-se que um dos principais fatores a explicar a debandada dos católicos seja a intransigência da disciplina católica, com especial enfoque à moral sexual e à indissolubilidade do matrimônio. Insatisfeitos e inconformados com as orientações morais, os católicos migram para outras religiões onde encontram o que procuram, a legitimação, por exemplo, de um segundo casamento. Na realidade, a migração religiosa retrata o fenômeno cultural a distinguir a atual civilização. O homem moderno vive em busca de produtos que satisfazem suas imediatas necessidades. Ao aparecer um produto que atenda suas imediatas urgências, o cidadão, sem dar a mínima para compromissos anteriores ou antigas fidelidades, empenha-se em adquiri-lo. A mentalidade utilitária infiltrou-se também nas atuais preferências religiosas. Adere-se àquela religião que promete solucionar imediatamente situações subjetivas, particularmente incômodas e dolorosas. O sujeito estudado e o cientista, por sua vez, encontram para os seus questionamentos soluções e explicações acadêmicas e, amparados nos formidáveis avanços tecnológicos, simplesmente descartam a religião e decretam a aposentadoria de Deus. Como, dizem, Deus não lhes faz falta, declaram-se ateus ou sem religião. O retrato que o censo apresenta, embora evidentemente objetivo, carece, todavia, de precisão. Estatísticas representam apenas tendências, sem esgotar a realidade, em especial quando o assunto é religião, cujo objetivo primeiro e fundamental é convencer o Homem a adorar e servir a Deus. Vive de verdade o Homem quando a Deus reverencia. Recorda-se, a propósito, o primeiro e fundamental mandamento da religião cristã: Amar a Deus sobre todas as coisas e com todo o coração. Isto significa que a pessoa é genuinamente religiosa quando reverencia e se curva somente perante Deus. Crente é quem aceita o Todo-Poderoso como o exclusivo Senhor da vida. Emerge uma pista importantíssima, o recenseador registra a resposta do entrevistado, mas não lhe cabe nem está habilitado a conferir a autenticidade da mesma. O zeloso pastor, no entanto, não se contenta em estacionar no aspecto estatístico. O zelo pastoral o empurra a ir mais à fundo. Lança-se a descobrir, com isenção e objetividade, quantos, entre aqueles que se declaram adeptos do cristianismo, prestam objetivamente o verdadeiro culto a Deus. Religião, fundamentalmente, não é questão de doutrina nem de templo, mas de reverência e de culto. Emerge, assim, uma indigesta realidade, há muito praticante, católico ou evangélico, que afirma crer em Deus, mas cuja vida é orientada por valores materialistas e princípios profanos. Pessoas assim são classificadas na Bíblia como idólatras. Reconhece-se, há muita idolatria dissimulada entre os freqüentadores do templo. Possivelmente seja esta uma das razões principais a explicar a debandada religiosa e o aumento dos ateus e dos sem religião. Por outro lado, não é de todo inverossímil afirmar ser possível encontrar entre os ateus declarados gente que pauta sua conduta por genuínos valores de justiça e de solidariedade. Não é, rigorosamente falando, o ateu que desqualifica a religião, mas, sim, o idólatra, o crente de vida pagã. O ateu e o cidadão sem religião em nada afetam o testemunho religioso. O crente de vida pagã, este sim, detona o verdadeiro espírito religioso porque troca Deus para servir a profanos senhores. Pastoralmente falando, o censo ilude. Entre os assíduos freqüentadores do templo, sejam católicos ou evangélicos, há muita gente pagã. O número de ateus, na realidade, é muito maior do que o declarado. Quadro este que só se estanca e se reverte quando os crentes, católicos ou evangélicos, passam a reverenciar e servir somente a Deus. WWW.pecharles.blogspot.com.br charlsbg@terra.com.br

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