sábado, 4 de agosto de 2012

BÊNÇÃO, PADRE! Raro é pedir bênção! O hábito bonito e cheio de significado de pedir bênção ao padre, ou mesmo aos pais, vem caindo em desuso. É verdade que se vive hoje uma mudança de épocas. Influentes hábitos novos substituem costumes antigos. O ritmo dinâmico da vida impõe mudanças e adaptações constantes. No entanto, ao querer assimilar o progresso pode-se cair numa triste ambigüidade, desvalorizar por completo hábitos antigos, considerando-os sumariamente ultrapassados. Fazer pouco das tradições e não reconhecer seu valor é um grosseiro desaforo. Sábia é a pessoa capaz de criteriosamente mesclar hábitos tradicionais genuinamente valiosos com novos valores igualmente preciosos. Esta tese aplica-se, naturalmente, ao campo da vivência da religião. As profundas mudanças perceptíveis nas condutas e nos relacionamentos sociais refletem necessariamente na maneira de viver e de praticar a religião. Em tempos passados as observâncias religiosas aconteciam de uma maneira rotineira, inquestionável, quase obrigatória. Hoje, a mentalidade autônoma questiona a razão e a conveniência de cada gesto. Nada mais é aceito por imposição. Valoriza-se somente o que se enxerga com sentido. O acessório é sumariamente descartado. Emerge neste contexto um envolvente debate sobre a identidade do padre católico. Quem é? O que se espera dele? Que importância tem a sua presença na Igreja? E no mundo? Urge debater se o espaço que o padre ocupa no atual contexto religioso e social seja real e intransferível ou se é fictício, amparado apenas no vigor da tradição. A objetividade da discussão impõe levar em conta as múltiplas demandas impostas pelos vários ambientes e situações que marcam a cultura moderna ou pós-moderna. Sem descurar, evidentemente, da rica teologia sacramental, como também das necessidades pastorais da Igreja, manifestas nos anseios do povo de Deus. A envergadura do debate não se esgota, obviamente, em poucas linhas. Exige pluridisciplinar abordagem. Focam-se, neste espaço, observações apenas pontuais. A experiência pastoral cotidiana destaca a dimensão utilitária na procura pelas igrejas. Os fiéis, em sua maioria, vão à igreja em busca de algum benefício bem definido. Batizar filho, casar-se, curar-se. São necessidades específicas. Atender e acolher bem o fiel é indispensável, pastoralmente recomendável. O amadurecido zelo pastoral, contudo, inspira ulteriores atenções. Sacramentos e bênçãos não são fins em si! São canais de graça, sementes de vida. Na dimensão teológica e pastoral, os efeitos dos sacramentos e das bênçãos florescem a partir do rumo que se toma após suas celebrações. Celebra-se um sacramento porque se pretende cultivar a graça nele inerente. Paradoxalmente, situa-se neste detalhe o frequente foco de tensão entre o zelo pastoral e a mentalidade imediatista e subjetiva predominante. O padre quer abençoar, mas num sentido mais pleno e envolvente. Ele não se sente realizado atuando como um mero executor de rito. Estranho, poucos são os fiéis a compreender esta dimensão pastoral. Por conta dessa divergência os desencontros são inevitáveis, desgastantes. Os fiéis partem contrariados e inconformados e o padre amarga um solitário malogro. Paradoxalmente, essas situações de tensão induzem o sacerdote a buscar reafirmar sua verdadeira identidade. Ele quer ser o fiel dispensador dos extraordinários favores divinos, mas no sentido evangélico da missão. Reconhece-se chamado a levantar as pessoas, devolver-lhes a liberdade. Assegurar-lhes, em suma, uma digna autonomia espiritual, reclamada tanto pelo homem moderno! Profundo e doído é o desgosto do padre ao ver ministros outros acomodando situações e fazendo concessões para satisfazer imediatos desejos e passageiras vaidades, subtraindo das pessoas as legitimas e libertadoras bênçãos. São condescendências que não educam, que em nada colaboram para um vigoroso e consistente amadurecimento espiritual. Se não fosse a íntima comunhão com Jesus, muito padre, nessas horas, se desencantaria. Questionaria sua identidade. Felizmente, a maioria dos padres cultiva uma profunda sintonia com Jesus, o sacerdote por excelência. Nele inspirados, esses sacerdotes seguem decididos em sua original missão de fazer discípulos! “Bênção, padre”! WWW.pecharles.blogspot.com.br

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