Reflexões para crescer no amor a Deus, no amor aos irmãos e fortalecer-se na fé cristã.Viver, em suma!
sábado, 26 de janeiro de 2013
DÉBITO
Em crise está a Igreja. Como instituição, a Igreja Católica passa por uma grave crise de credibilidade, especialmente na Europa. O Velho Continente, reconhecido como casa e eminente propagador do cristianismo, ensaia renegar suas raízes cristãs. Triste tendência notada também em outros continentes. Gente batizada considera irrelevante, ou mesmo incômoda, a condição de seguidora de Jesus. Na verdade, esta nova situação confirma a tendência há muito percebida de um gradual esvaziamento das celebrações religiosas, da Missa principalmente. Várias são as análises para explicar a debandada e, simultaneamente, encontrar a maneira adequada de recuperar o prestígio e reconduzir de volta os fiéis dispersos. A verdade, triste e indigesta, é que as pessoas não se encantam mais com a Igreja. Julgam-na instituição caduca. Desnecessária.
Curiosamente, em seu tempo, Jesus enfrentou o mesmo descrédito quanto à religião oficial. Na época, a prática religiosa também andava desgastada e estagnada. Os rituais, formais e rotineiros, haviam se transformado em celebrações que ratificavam o sistema dominador vigente. O Templo, símbolo maior da religiosidade, foi transformado, sob a tutela da classe sacerdotal, em casa de comércio onde o faturamento valia mais que a devoção. Os sacerdotes mais se preocupavam em preservar seu prestígio e seus privilégios que com o fortalecimento espiritual do povo. Vivia-se uma religiosidade de fachada que, à semelhança da proverbial figueira, muito prometia, mas que, na realidade, não passava de uma estéril, embora vistosa, árvore.
Neste ambiente decadente e desmotivador emerge Jesus. Na condição de legítimo intérprete da Palavra de Deus, devolve às Escrituras sua leitura luminosa e leve, colocando em evidência a supremacia do ser humano. Com ênfase destaca que não é o Homem para a Palavra, mas a Palavra para o Homem. A meta da salvação é o Homem, não a instituição. O zelo religioso deve encontrar sua maior expressão no resgate da dignidade humana e não na preservação das tradições, na maioria fabricadas por interesses humanos e contingentes. Diante da ovelha perdida e desorientada, a postura recomendada é de procura, de acolhida, de cura, de resgate. Nunca de abandono nem de indiferença. De festa, enfim, pela recuperação de quem estava perdido, mas foi encontrado; morto, mas voltou a viver.
Como contraponto à estereotipada religiosidade, Jesus anuncia um Reinado de Deus, no qual o único soberano é o Altíssimo, com destacada postura de um pai cheio de ternura e onde os membros não são vistos e tratados como súditos, mas como filhos amados e livres. Coerentemente, a marca maior do Reino, seu distintivo singular, se expressa no tratamento fraterno e respeitoso entre os membros. E, a partir deles, a prática da caridade para com todos! Ousado, mas radicalmente coerente, Jesus aponta a misericórdia como culto privilegiado, agradável a Deus. Minguado valor têm os rituais se não se apoiassem na prática da compaixão! Fundamentalmente, o reinado se distinguiria pela profunda reverência a Deus e por igualmente radical respeito e consideração pelo próximo.
Nada estranho, que a primitiva comunidade cristã, levando a sério a proposta de viver radicalmente a fraternidade, atraia multidões. Este fenômeno agregador dava-se, é bom lembrar, em um ambiente hostil e desfavorável. Nesta comunidade, a celebração da Eucaristia, apropriadamente chamada de ‘partilha do pão’, reforçava e purificava o jeito novo de relacionar-se com o outro, fosse ele amigo ou inimigo. O mandamento do amor fraterno é universal e incondicional! Emerge espontânea a explicação da crise porque passa a religião católica e o cristianismo em geral. Virou a religião numa instituição formal e pesada, longe da leveza, da liberdade e da alegria que emanam do convívio fraterno. Onde reina a comunhão não há cobranças, mas apelos para crescer em caridade. Urge voltar às origens, recuperar a radical dimensão da comunhão, não tanto para melhorar as estatísticas, mas principalmente para resgatar a humanidade. Sem o Evangelho de Jesus Cristo o Homem depressa envelhecerá. Mais célere ainda se embrutecerá. A fraterna comunhão ajudará a Igreja a sair purificada da crise e ainda recuperar a original vocação de atrair pessoas para Jesus Cristo. Débito intransferível este que a Igreja tem para com a humanidade.
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