
Em discórdia vive boa parte da humanidade. Impressiona e entristece a variedade e a gravidade de litígios que perturbam o cotidiano das pessoas. Ao analisar com detalhes a natureza desses conflitos é-se forçado a deduzir que a maioria deles podia, com pontuais intervenções, ser evitada, tamanha a sua insignificância. À semelhança de um tumor que se deixa de extirpar logo no nascedouro, o desentendimento se agrava e quando, enfim, se decide enfrentá-lo, se repara que o desconforto somente se corrige com um tratamento agressivo. Ao qual pouca gente se dispõe a submeter-se. Omissões e disfarces agravam conflitos que, por óbvio, evoluem para divisões e rivalidades mais profundas. O grau acentuado de desarmonia é, certamente, um dos males maiores que afligem a humanidade e atrasam seu progresso.
Deste grave pecado e atraso Jesus veio libertar a humanidade. A redenção da dignidade humana passa necessariamente pelo restabelecimento da harmonia entre raças e indivíduos. A concórdia devolverá ao homem a alegria de viver. Acompanhando com atenção o ministério de Jesus se percebe, até com certa facilidade, o seu empenho em aproximar pessoas, em ajudar a superar barreiras. Em formar comunidade, em suma. Ao chamar gente para segui-lo, Jesus os convida a aprenderem com Ele a desconsiderar preconceitos que, normalmente, causam divisão e antagonismo. Propõe Ele um novo jeito de convívio inspirado e moldado na incondicional e generosa fraternidade, valor supremo por Ele anunciado. Qualquer outro critério, familiar, étnico, religioso e até de gênero, perde significado e importância diante do valor maior de integrar a comunidade de Jesus Cristo. Tal conversão radical exige, logicamente, por parte dos seguidores uma completa revisão de postura e mentalidade. É a conversão exigida pelos postulados evangélicos. É a renúncia tão insistentemente pregada por Jesus.
Ciente das dificuldades em assimilar tal proposta, como também das exigências práticas que envolve, Jesus promete a seus discípulos a assistência do Espírito Santo. Na condição de ‘personal’ instrutor, o mesmo Paráclito que animou a missão de Jesus desde o batismo até sua paixão, morte e ressurreição, acompanhará os discípulos e lhes convencerá da verdade anunciada pelo Redentor. Para lhes assegurar a identidade e a continuidade da missão, Jesus insiste que o Espírito será enviado em nome dele. Apropriadamente, o designa como o Espírito da Verdade. Dando ao conceito de verdade uma dimensão que ultrapassa os limites de teses acadêmicas ou de escolas de pensamento filosófico. É da verdade, porque o Espírito Santo ajudará a estimar e a praticar o amor fraterno, valor fundamental que genuinamente colabora para a realização da pessoa humana. O salutar impacto da verdade do evangelho, na realidade, não depende tanto da acuidade mental, mas sim da sua perseverante prática. É graças à aplicação prática do respeito incondicional pelo outro que a pessoa compreende a real profundidade da verdade proposta. É a vivência que garante consistência racional à fé! Jus se faz ao interesse de Jesus de enviar o Espírito Santo. Ciente da particular vulnerabilidade do ser humano diante do tumor da divisão: ciente da sua habilidade em justificar as recorrentes epidemias de conflitos e de rivalidades, ao enviar o Espírito Santo como força que vem do alto, Jesus sacode e introduz no discípulo um inovador sopro de vida. A conversão para a reconciliação, genuína e comprometida, é a maravilha maior que o Espírito Santo provoca no discípulo e, consequentemente, no mundo. Evidente, esta transformação não acontece automaticamente. É preciso que o discípulo queira e se disponha a receber e a moldar-se pelo sopro inovador do Espírito de Deus.
Por um raciocínio oposto, reconhece-se que o pecado maior que o discípulo de Jesus comete é tornar-se causa de discórdia e de divisão entre pessoas. Conflitos contínuos denunciam resistência à ação do Espírito Santo de Deus, inadmissível falta e verdadeiro escândalo quando ressentimentos e rivalidades acontecem em ambiente religioso. Ciente da condição de seguidores de Jesus, agraciados pelo dom do Espírito Santo, os discípulos empenham-se em promover a harmonia perfeita entre as pessoas e a restauradora reconciliação. Convencer homens e mulheres a viverem em plena comunhão na diversidade é a grande e inestimável contribuição que a Igreja de Jesus Cristo deve ao mundo.
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