sábado, 25 de maio de 2013

ÚLTIMO LUGAR

Para servir encarnou-se o Filho de Deus! Inúmeras vezes, durante sua jornada missionária, Jesus abordou o assunto, na tentativa de ajustar a equivocada mentalidade dos discípulos, obstinados em conceber o Reino a moda do mundo. A cultura triunfalista atrapalhava seriamente a assimilação das verdades sobre o Reino ensinadas pelo Mestre. Pedro considerou inadmissível absurdo Jesus ir a Jerusalém para entregar a vida. Onde se viu, o Messias cair vítima de lideres corruptos e prepotentes? Aguardava-se um Messias vencedor, legítimo guerreiro, a restaurar a hegemonia do povo judeu, o povo escolhido por Deus! Os irmãos João e Tiago, por sua vez, ambicionavam para si os cargos mais vistosos no futuro reino, certamente se achando melhores que os demais companheiros. Pretensão que gerou, obviamente, rivalidades entre o grupo de discípulos. Precisou Jesus recorrer à figura de um garoto, para convencer seus amigos que o estilo de vida a ser inaugurado e seguido nada tinha a ver com os esquemas petulantes do mundo. Pois enquanto no mundo, os poderosos fazem e desfazem e são bajulados, no Reino quem pretende ocupar lugar de destaque deve se fazer servidor de todos, abrindo mão de reconhecimentos e gratificações. Justamente igual à criança, que no tempo de Jesus nem para fazer número era considerada. Mesmo com todas as explicações, Jesus percebia que seus amigos permaneciam condicionados aos esquemas frívolos do mundo. Reservou, então, para o último e solene encontro a lição maior. Reunido com os discípulos para a ceia pascal, uma celebração que exaltava a especial proteção divina sobre o povo judeu e invocava a restauração da esplendorosa dinastia de Davi, Jesus se levanta e começa a lavar os pés de seus comensais, tarefa reservada, na época, ao mais desqualificado servidor, de preferência gentio. Nenhum judeu merecia rebaixar-se tanto. Imagina-se o espanto do grupo. Faz todo sentido a recusa de Pedro, sem dúvida o integrante mais impetuoso do grupo. Onde se viu, um judeu, e ainda mais o Rabi, humilhar-se tanto. Aquele gesto representava uma afronta à dignidade de um cidadão do glorioso povo de Deus! Era, certamente, a reação que Jesus queria provocar para, de forma contundente, fixar na consciência de todo discípulo a mais fundamental das exigências do Reino. E um dos seus mais singulares distintivos: servir, considerar o outro merecedor de atenção! Ficava claro, enfim, que quando discursava sobre serviço, o Mestre não estava usando linguagem figurada. Falava do serviço mesmo. Quando mencionava o último lugar, tampouco fazia demagogia. Referia-se, sim, à despretensão total, a uma rebaixar-se efetivo. Na solene ocasião da ceia, Jesus, ao reconhecer ser o Mestre e o Senhor, este último título evocava sua condição divina, e ao, espontaneamente, rebaixar-se para lavar os pés de seus amigos, pretendeu dissipar toda dúvida acerca da fundamental exigência de servir. A disposição para servir é exigência condicionante para fazer parte do Reino! Emerge outra ilação evidente: Jesus, intencionalmente, associa a celebração da Eucaristia, a celebração maior da nova Aliança, à atitude de serviço. Naquela noite memorável, a ceia pascal cedeu lugar para a Eucaristia, o cordeiro animal perdeu espaço para o Cordeiro de Deus, a celebração libertadora deixou de ser étnica e passou a ser universal. A primeira Aliança foi substituída pela Nova e Eterna Aliança. Ora, se a refeição pascal foi precedida pelo extremo gesto de Jesus de lavar os pés dos discípulos, é legitimo concluir que a refeição eucarística deve ser igualmente precedida por uma sincera disposição a rebaixar-se em favor do próximo. Sem humildade no coração é impossível participar frutuosamente da Eucaristia. Verdade que induz a reavaliar as disposições prévias para uma participação proveitosa da Eucaristia. Comunga verdadeiramente o Corpo de Cristo quem se dispõe a servir sem se preocupar com reconhecimentos e gratificações. Exigente e transformadora premissa, com evidentes reflexos, tanto para o campo individual como também para o convívio coletivo. Na Eucaristia, Jesus realiza, literalmente, o que de si Ele fala: vim para servir e dar a vida em resgate por muitos. Conclusão lógica: somente reúne condições para sentar-se à mesa com Jesus e com Ele partilhar da sagrada refeição quem se dispõe a servir e a ocupar o último lugar!

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