sábado, 1 de junho de 2013

ATEUS

Creio em Deus. Deus é amor. Creio no amor! O silogismo induz naturalmente a compreender o sentido genuíno da fé. Ajuda, consequentemente, a definir com precisão quem pode se considerar pessoa de fé. Seguindo a risca o raciocínio exposto não fica difícil concluir que, entre os tantos que se julgam pessoas de fé, encontra-se um número bom cuja fé é, no mínimo, duvidosa. Ou, como bem diz o apóstolo Tiago, possuidores de uma fé inoperante, morta. Por outro lado, não é nada improvável encontrar, entre os que se declaram sem fé, gente que vive como se fé tivesse. A liturgia da Igreja Católica reconhece formalmente esta possibilidade ao afirmar que pessoas há cuja fé somente Deus conhece. Desconfia-se, há muitos ateus religiosos. E há muita gente religiosa que, na prática do cotidiano, comporta-se como autêntico pagão. O que define a condição religiosa da pessoa não é a adesão formal a Igreja, pelo batismo. Nem, necessariamente, a frequência com que participa do culto ou a assiduidade com que lê a Palavra de Deus. Tem muita gente que não falta a Missa, conhece bem a Palavra, mas não aplica na vida os princípios ensinados. Sua vida familiar e profissional é regida por princípios diversos, quando não contrários, aos valores de justiça e de fraternidade propostos por Deus. Enquanto está na igreja, comporta-se de um jeito. Fora dela, a conduta é outra. Na igreja o sujeito ora, canta e comunga, mas ‘no mundo’ pensa e age motivado preferencialmente por valores subjetivos e materiais. Sem que este comportamento ambíguo provoque crises de consciência! Quantos não vivem esta triste distância entre o credo que a boca professa e os interesses que na realidade pautam a conduta! Fala-se muito hoje na privatização da religião. O sujeito afirma ter uma religião, mas a segue de uma forma subjetiva. Abraça o que interessa. E descarta sem o menor questionamento o que não convém. Quando a cobrança ficar muito exigente, troca de igreja ou de pastor. Começa a rezar em casa! Muitos estão vivendo uma religião fabricada pela própria cabeça. Privatizam a fé! Dizem que estão bem com Deus e é isto que importa. Pelo contexto das afirmações ou manifestações, infere-se estarem se referindo ao Deus cristão - o 'Homem lá de cima' como muitos gostam de expressar-se. Impõe-se, todavia, a questão crucial: que conceito possuem deste Deus, que imagem fazem do ‘Homem’? Um conceito fundamentado na revelação que Jesus nos trouxe, ou uma caricatura elaborada a partir de vagos sentimentos e fragmentadas informações? Pouca gente pára para analisar que quem privatiza a religião a detona mais do que o ateu declarado e combativo. Ao subjetivar a religião o sujeito não se converte, ao contrário acomoda a religião às suas conveniências. O Deus anunciado por Jesus Cristo é um Deus que ama. Não um amor sentimental, piegas, mas um amor comprometido que busca fazer-se sempre próximo ao ente amado, no caso o ser humano! Ao revelar-nos que Deus é amor-doação, Jesus ensina que a fé em Deus só pode encontrar sentido e manifestação quando se transforma em gestos de amor concreto pelo próximo. Crer no Deus revelado por Jesus Cristo significa necessariamente adotar a caridade como princípio motivador de toda atividade, não importa se religiosa ou profissional. Para o verdadeiro crente não há circunstância profana. Todas as situações se revestem de dimensão religiosa. A fé em Deus, portanto, reflete-se necessariamente na promoção do ser humano. Ilusão grave imaginar que se pode viver uma fé caseira, privatizada. Descomprometida. A fé verdadeira é essencialmente ativa, transformadora, promotora do bem-estar do Homem. Pela lógica do raciocínio, permite-se então concluir que toda pessoa que genuinamente se envolve com a promoção do ser humano, professa, mesmo de forma velada, fé no Deus da vida. Perde tempo e se desgasta quem se ocupa em classificar pessoas segundo critérios dogmáticos, litúrgicos ou filosóficos. Parámetros exteriores, em suma. Jesus ensina que Deus olha as pessoas a partir de outra referência, mais confiável e mais exigente. Chama esta referência de ‘segredo do coração’. Segundo este critério, há muito crente que necessita operar um radical ajuste em sua religiosidade. E há muito ateu que está mais próximo a Deus do que ele próprio imagina! Ou consinta admitir!

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