domingo, 9 de junho de 2013

CONFLITOS


Tensões atestam vitalidade! Cadáveres não reagem! A existência de tensões é sinalização clara de personalidade ativa, tanto na esfera individual como institucional. Uma pessoa sem conflitos não vive, existe. Igualmente, uma instituição sem conflito de opiniões, não marca presença, não progride. Enfeita apenas. Enorme ilusão exaltar uma instituição que se apresenta sem conflitos. Propaganda que veicula ausência de divergências naturalmente gera desconfianças. Conhece-se a estratégia de regimes totalitários. Exibe suposta uniformidade a custa de duras repressões. Limitado é o governo, em qualquer área de atividade, que inibe oposição. Pensar diferente gera saudável tensão, pois induz a aprimorar objetivos e clarear conceitos. Quem pensa diferente soma e não deve, necessariamente, ser considerado adversário. Emerge uma conclusão salutar: pela maneira como se administram as tensões se revela a maturidade e o preparo de um individuo ou de uma instituição. Pessoas maduras e instituições sólidas valorizam as tensões e delas se aproveitam para progredir e crescer. O grande sinal de que a Igreja é uma instituição dinâmica é, justamente, a presença de conflitos, tanto no campo interno como também nos diversos relacionamentos com outras instituições. Salutares são essas crises. Conhecendo a sua história, reconhece-se que a Igreja amadureceu e progrediu todas as vezes que precisou lidar com graves divergências. Tanto no campo doutrinário como também místico e pastoral. Paradoxalmente, quanto mais aguda a crise tanto mais valioso e sustentável foi o progresso. Olha-se o início da chamada Idade Média. A Igreja passava por graves tensões, de identidade interna e também com relação à forte e agressiva presença do império otomano. Elucidativas bastante são as iniciativas com que a Igreja administrou esse conflito. Uma escola de pensamento buscou enfrentar o poderio bélico turco com uma correspondente campanha militar. Na convicção política de que o invasor precisava ser combatido e na obrigação mística de que o infiel precisava ser derrotado, investiu dinheiro ingente e prestígio e provocou diretamente o sacrifico de milhares de vidas. Integrar as cruzadas era estimulado como ato de fé, morrer em batalha igualava-se à glória do martírio. Imaginava-se exaltar a cruz com a força da espada. Típica reação de quem cogita resolver as tensões com medidas enérgicas e de efeito imediato. Comprova a história a total ambiguidade dessa estratégia. Por outro lado, neste mesmo período conturbado, surge na Igreja outra mentalidade, defendida por figuras humildes, mas não menos eminentes, que, compenetrados da gravidade da situação, buscam soluções menos sensacionalistas, mas de efeito mais prolongado. São desta época, figuras de singular perspicácia e forte caráter que vão induzir a Igreja a administrar com sabedoria evangélica as terríveis tensões internas e externas. Homens como são Francisco de Assis, são Domingos de Gusman, santo Antônio de Pádua. Na esteira deles, outros formidáveis pilares emergem, gente da envergadura de um santo Tomás de Aquino, santo Alberto Magno, são Boaventura, santa Catarina de Sena. Essa gente, convicta da força da simplicidade evangélica, possuidora de extraordinária percepção de tempo e de história, profundamente comprometida com a Igreja, ensina, sem alarde, que tensões se administram a partir de valores intrínsecos. Ao invés de atacar e desqualificar o adversário, cuida-se de aprimorar e valorizar os valores inerentes à pessoa e à instituição. Trevas se combatem com a luz. Críticas com valores. Compenetrados nesta estratégia, essa gente de Deus, pessoas místicas, lança-se, com coragem e afinco, cada qual segundo a própria aptidão, a ascender luzes e revigorar princípios. Enfrenta desconfianças e oposições, mas não se apequena, persevera resoluta e confiante, numa admirável sintonia. Conhecida e exaltada é a enriquecedora afinidade entre franciscanos e dominicanos, que tanto bem fez á Igreja durante os séculos posteriores. Tensões são ocasião de avanços. Não há progresso sustentável sem opiniões divergentes. Querer calar quem pensa diferente é sinal de extrema fraqueza e prenúncio de estagnação. Conflitos são positivos, divergências são sinais de vitalidade, basta aprender a administrá-los com percepção e perspicácia.

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