sábado, 21 de setembro de 2013

DANÇA MEVLEVI

Ora-se dançando! Dança-se meditando! É, em resumo, o que realiza a comunidade dos dervishes ao dançar rodopiando, em compassos ora lentos, ora acelerados. A dança, hoje integrante do folclore turco, tem origem mística cujo inspirador é o sábio turco Mevlana. Este asceta muçulmano, considerado brilhante pensador islâmico do século XIII, fundou uma fraternidade monástica de rígidos costumes e altos padrões morais, semelhante às ordens mendicantes católicas, franciscanos e dominicanos, da mesma época. Curiosa coincidência! Para ingressar na fraternidade o postulante passa 1001 dias recluso em silêncio e dedicado á práticas de renúncia. Ao findar o primeiro estágio de preparação, o postulante que decide seguir na ordem submete-se aos exigentes exercícios de jejum, mendicância e obras de caridade. Somente então, considerado purificado, é admitido à escola de dança, peculiar distinção dos seguidores de Mevlevi, conhecidos como dervishes. É de se registrar que em 2007 a UNESCO integrou a dança no acervo cultural mundial a ser conservado. A dança é um ritual místico, repleta de passos e gestos simbólicos. O próprio espaço onde se executa a dança, conhecido como Sema, simboliza o amor divino, a êxtase em busca da perfeita comunhão com o sobrenatural. Compreende-se porque o espaço tem formato circular, o desenho geométrico indicativo de perfeição. É uma dança comunitária, da qual participam o superior da comunidade, conhecido como sheikh, os irmãos músicos e os monges dançarinos. Ao iniciar-se o ritual, o superior se posiciona sobre um estrado ou tapete vermelho, evocando a comunhão com o sobrenatural. Sua presença lembra o fundador Mevlevi. São recitados textos sagrados louvando e glorificando a Deus e outros que recordam os profetas e os heróis do islamismo. Finda a prece, toca-se o tambor, evocando a ordem divina no ato da criação. Emerge o som da flauta, considerada o instrumento símbolo da perfeição humana, instigando o homem a buscar a Verdade, Deus, Alah, para os muçulmanos. Marcados pelo compasso, os dançarinos dão várias voltas pelo Sema, cada uma das voltas com sua mensagem simbólica. A primeira volta representa a busca da Verdade por meio do conhecimento. A segunda, acena para o encontro com a Verdade. E a terceira, a comunhão com a Verdade. A esta altura, os dançarinos se despem da capa escura, aludindo ao total despojamento por interesses materiais. Inicia-se, então, a dança circular em ritmo acelerado e crescente. Neste estágio, praticamente em transe, cada dançarino reclina a cabeça com o rosto voltado para o céu, mantém a mão esquerda aberta em direção ao alto e a direita, também aberta, voltada para a terra. Com este gesto o monge invoca as bênçãos divinas que pretende partilhar com e distribuir entre os irmãos. O que de Deus se recebe deve ser multiplicado entre todos. Todo este movimento giratório, por sua vez, representa a comunhão cósmica, em constante movimento. Enquanto rodopiam os dançarinos executam três saudações. A primeira saudação evoca o poder de Deus ao criar o universo. A segunda acena para a sublime ordem presente na criação. E a terceira incentiva o ser humano a passar da admiração ao amor, dispondo-se a renunciar tudo em favor do amor. A esta altura os músicos diminuem o compasso e os dançarinos se dirigem ao sheikh que, ao acolhê-los e abençoá-los, os remete às tarefas cotidianas de zelar pela natureza e de servir aos irmãos. Cativante coreografia, mística em potencial e objetivo. Evidente, muito da riqueza simbólica deste ritual dançante se perde nas apresentações caricatas oferecidas aos turistas. Ao se inteirar, todavia, do real significado de todo ritual, a dança adquire elevada dimensão mística a envolver o expectador, instigando-o a prosseguir na busca da comunhão com o sobrenatural e no fortalecimento da solidariedade com os irmãos. Este projeto de vida, que os dervishes chamam de caminho da perfeição, é pautado por conselhos deixados pelo fundador Mevlevi. Assimila o adepto o mote fundamental: Apresente-se como você é: comporte-se de acordo com o que você representa! Radicalmente coerente, a fraternidade dos dervishes deve assimilar-se a uma porta sempre aberta e acolhedora, mesmo para quem quebra seus votos mais de cem vezes! Que se aproxime cada um, do jeito que é!

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