
Faltou estratégia! Ao escolher o deserto para realizar a missão de preparar a chegada do Messias, João, o Batista, equivocou-se. O bom senso sugeria que o profeta pregasse onde ficasse mais fácil alcançar o maior número de pessoas. Jerusalém, por exemplo. Pregando na cidade santa, destino de peregrinos e centro administrativo e comercial, mais gente certamente ouviria sua mensagem. Atingiria, em tese, gente graúda, influente, alargando a possibilidade de maior número de conterrâneos acolhesse Jesus. Fiel, no entanto, ao que os profetas haviam predito, João preferiu ser a voz a clamar no deserto.
Pedagógica e historicamente, tudo o que é fácil perde o valor! Faz-se bom uso de elementos que exigem esforço e empenho. Ao decidir pregar no deserto, João, implicitamente, insinuava a seus conterrâneos que a preparação para a chegada do Messias exigia sacrifícios. Induzia as pessoas a abrir mão do comodismo do seu cotidiano e do conforto de seus lares e enfrentar o acidentado e inclemente caminho até o deserto!Quem aceitou o desafio foi premiado com a manifestação de Jesus Cristo. Foi ali, no estéril solo do deserto, que Jesus foi aclamado pelo Pai como o Filho querido, a ser escutado e seguido. Em compensação, quem preferiu permanecer na sombra, perdeu a singular e salutar oportunidade de conhecer o Messias. Outro detalhe salta aos olhos nas romarias para o deserto. Subentende-se que havia, certamente, gente sincera que queria mesmo purificar-se para merecer conhecer o Ungido de Deus. Mas havia também gente estudada e influente que aproximava-se de João com ceticismo e desconfiança. Era gente que queria provas, julgava imperioso conferir as credenciais do Batista para poder dar crédito à sua pregação. Fariseus e escribas foram ao deserto, presumivelmente viram o Messias, mas não O reconheceram. Estavam por demais condicionados a seus esquemas e padrões. Não bastava ir ao deserto. Era preciso entrar 'no clima'.
A estratégia tinha sentido e sua propriedade pedagógica preserva sua eficácia até o dia de hoje. Para conhecer Jesus é preciso desinstalar-se. É próprio ao ser humano acomodar-se a uma rotina de atividades. A repetição de tarefas além de exigir o mínimo do esforço, dá segurança. Engata-se no automático e segue viagem! Compreende-se que muitos relutam mudar de marcha. Satisfeitos com sua rotina, acomodam-se. O que nem sempre conseguem perceber, todavia, é que a pasmaceira leva a estagnação. Águas que não correm ficam turvas e geram lodo. Paradoxalmente, esta é a realidade que se verifica no tal clima de Natal. Sem dar se conta, as pessoas estão ficando acomodadas aos tradicionais esquemas de fim de ano. É ceia. São presentes e confraternizações. Abraços artificiais e risos forçados! Comidas e bebidas em excesso. Tudo, em suma, repetido, rotineiro. A ponto de, para muitos, perdeu-se o encanto nesta tal euforia de fim de ano! Inclusive, do ponto de vista religioso! A missa do Natal, tradicionalmente revestida de especial encanto e significado, celebrada propositalmente em horário inusitado para realçar cronologicamente a hora do nascimento do Menino Jesus, perdeu a poesia para a praticidade. Sob o pretexto dúbio de agradar os fiéis, adianta-se o horário da missa do 'galo' para não atrapalhar as ceias familiares. A principal celebração de Natal ficou próxima do horário usual das missas. Perdeu a singularidade e a especificidade! Quando o mistério cessa, cessa também a reverência.
A figura de João, o Batista, no deserto interpela seriamente! Com sutileza, o Batista lembra aos que desejam encontrar o Messias que é preciso abrir mão do conforto, do comodismo e enfrentar o inóspito caminho ate o deserto! Procura-se muito hoje descobrir porque tantas pessoas andam distantes das igrejas, acomodadas em sua fé. Uma das possíveis razões é porque, equivocadamente, está se facilitando demais o acesso às coisas de Deus e da fé. Afrouxam-se exigências e fazem-se indevidas concessões sob o pretexto de não afastar fiéis. Ambígua estratégia! Ora, casamentos são marcados para as 22h e os convidados não somente não reclamam como fazem questão de vestir-se segundo exige o protocolo! Quando tudo fica fácil demais perde o valor! Especialmente na religião! Quando se perde a aura do sagrado, perde-se também a reverência. E o respeito!
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