
Apreensivo andava José. O carpinteiro de Nazaré, noivo de Maria, vivia dias de profunda angústia. Sua noiva confidenciou-lhe que estava grávida! Não bastasse o inesperado susto, Maria, com compreensível embaraço e ciente que lhe devia satisfações, narrou-lhe a origem daquela gravidez. Contou-lhe da visita de um anjo que lhe comunicara que Deus havia lhe escolhido para ser a mãe do futuro Salvador. Jurou que resistiu à solicitação, porque queria primeiro oficializar o seu casamento. Para seu espanto, o anjo lhe afirmou que o filho seria gerado de maneira inusitada. Ela seria fecundada pela ação do Espírito Santo. Reconhecendo o plano sobrenatural, Maria se colocou inteiramente à disposição de Deus. Afinal, como José bem sabia, ela sempre se portou como servidora do Senhor! Estranha história a confundir a cabeça de José! Não estaria Maria delirando! E se ela estivesse inventando todo este enredo para desmanchar o casamento! Estaria, quem sabe, arrependida de casar-se com um humilde carpinteiro! Outro raciocínio começou também a atormentá-lo. E se a história que ela estava contando fosse verdadeira? Comentava-se na sinagoga que o tempo da vinda do Messias estava próximo. Refletia-se sobre a profecia de Isaias, dando conta que o sinal maior da intervenção divina seria um filho nascido de uma jovem! Se Maria fosse essa jovem - e José reconhecia que ela possuía todos os atributos para que fosse - então caberia a ele, meu Deus, ser o provedor do Ungido! Mas, quem era ele para uma missão tão nobre! Por onde olhava, enxergava somente mistério, essa é que era a verdade! Indeciso e hesitante, justo que era, decidiu sair de cena! Comunicou a Maria que queria dar um tempo!
Sabe-se como Deus socorreu José nesta primeira grande crise do casal. Confirmou, em primeiro lugar, a origem sobrenatural do Filho de Maria. Confiava ao mesmo tempo a José, na condição de esposo e futuro pai adotivo, o cuidado da criança. A ponto de caber a ele dar a criança o nome de Jesus! De um jeito nada sutil, Deus confirmava e abençoava a união matrimonial entre José e Maria! Em família humana quis Deus que seu Filho nascesse, crescesse, se educasse! A família é o espaço privilegiado para uma criança nascer e crescer saudavelmente. Outra verdade preciosa emerge desta primeira crise na família de Nazaré. A tensão entre o casal foi provocada por assunto religioso. Foi porque Maria escolheu agir como serva fiel, mesmo prevendo o desconforto de José. Por outro lado, o caráter de homem de bem de José impediu que ele agisse com precipitação. Não conseguindo entender, preferiu pedir tempo! É justo supor que tanto Maria como José confiavam que Deus haveria de mostrar-lhes a verdade! Ele nunca abandona seus amados. Mais, o Altíssimo nunca é causa de divisão. Verdade que precisa, hoje, ser assimilada por tantos casais que enfrentam crises por motivos religiosos. Fato recente é o aumento de matrimônios entre esposos que seguem confissões diferentes, em especial entre católicos e evangélicos. Não é raro, por causa dessas diferenças, surgirem discussões e desgostos, tanto entre o casal quanto entre as famílias envolvidas! A descontração do amor fica aleijada por controvérsias dogmáticas ou rituais. Situação insustentável, pois afinal, como é possível que pessoas que servem a um mesmo Deus possam viver divididas entre si? Deus une, nunca separa! Em semelhantes circunstâncias, o que se espera é que o casal e as demais pessoas envolvidas ajam com prudência e discernimento. Afinal, os valores que os unem, a caridade e a fé em Deus, são mais valiosos que doutrinas e ritos. Em essência as partes convergem.
O casal de Nazaré ensina outra formidável atitude. Ao reconhecer a vontade de Deus, ambos aceitam mudar seus planos originais. A vida deles mudou radicalmente. Reconhece-se, nem todos os casais que enfrentam crises possuem a maturidade suficiente para avaliar se há necessidade de mudar rumos ou corrigir atitudes. Aferram-se obstinadamente às próprias opiniões. Culpam-se mutuamente pelo desentendimento e, incapazes de rebaixar-se, partem, precipitadamente, para a separação. Esquecem, ou não avaliam suficientemente que, nas crises ou ambos saem ganhando ou ambos saem perdendo!
Crises são previsíveis, mesmo nas melhores famílias. Maria e José ensinam que, quando o casal se deixa orientar por Deus, enormes são as probabilidades de as crises se transformarem em preciosas oportunidades de amadurecimento no amor e no companheirismo.
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