
"Vivemos dias difíceis"! A afirmação é do apóstolo Paulo em sua carta aos Efésios, escrita por volta do ano 60. As circunstâncias são diversas, evidente, mas a sensação é idêntica! A atualidade da frase, espantosa! Vivemos dias turbulentos e incertos. Na ocasião, o apóstolo sugere que os cristãos mantenham viva sua vida de oração e assídua sua participação na liturgia. Exorta, igualmente, com fervor para que vigiem sobre a própria conduta. Que tenham posturas sábias. Conselhos que permanecem pertinentes, particularmente para os cristãos. Na turbulência pela qual passa a sociedade atualmente, os cristãos têm a obrigação de testemunhar sua fé mediante conduta iluminada, geradora de esperança. Vive-se o teste do testemunho!
Muitos dos problemas e contratempos que perturbam a vida da sociedade moderna são endêmicos. Quem observa a natureza aprende que quando um problema reaparece insistentemente é porque foi mal resolvido. Toma-se, a título de exemplo, as tristes e trágicas ocorrências de enchentes. É fácil e cômodo culpar excessos pluviométricos, quando, na realidade, as causas verdadeiras por enxurradas e erosões são outras. Enquanto as reais causas não forem satisfatoriamente resolvidas as consequências trágicas das enchentes continuarão a acontecer. O mesmo fenômeno se verifica com a questão da violência, que amedronta e acua a sociedade. O bom senso exige que se identifiquem as verdadeiras causas dessas absurdas ondas de brutalidades. Desperdiça-se oratória, energia e dinheiro em repressão. Como o problema persiste, fica claro que a solução não está na repressão. Entupir cadeias de delinquentes, construir novos presídios não passam de estratégias paliativas e de emergência. É preciso ir mais a fundo. E com celeridade!
Mesmo uma superficial análise da realidade já basta para apontar, como uma das causas da presente convulsão social, fatores estruturais. São evidentes e múltiplas as desigualdades na sociedade. Esta situação gera outra natural e nefasta consequência, a falta de oportunidades para um bom número de cidadãos. Presume-se que nas classes sociais mais carentes encontram-se pessoas de talento, mas, como faltam oportunidades, alguns desses talentos se desperdiçam enquanto outros podem estar sendo aproveitados na direção contrária. É verdade, que de vez em quando algum desses talentos vence a barreira da marginalização e 'estoura' no campo esportivo e artístico. É a exceção que confirma a infeliz situação. Por ser acontecimento tão raro, não pode ser usado como parâmetro nem como justificativa da teoria do mérito. Pensadores oportunistas preferem argumentar que a indigência deve-se à indolência dos cidadãos. As pessoas, dizem, preferem a acomodação ao esforço. Generalização francamente cínica e inconsistente.
Enquanto não acontecer uma reforma radical nas estruturas sociais a violência continuará a reincidir. No entanto, a sensatez recomendada pelo apóstolo Paulo aos efésios, aponta também para uma igual urgência de mudança de mentalidade na vida do cidadão. Não somente o Estado precisa ajustar-se. O cidadão também! As trágicas e reincidentes ocorrências de violência estão afetando o sentimento das pessoas. Tanto por motivo instintivo de proteção como por causa dos difusos e descontrolados impulsos de vingança e de agressão, o cidadão, em geral, está ficando mais embrutecido e mais insensível! As reações coletivas deixam a impressão que o cidadão está incorporando, sem ressalvas, a violência como caminho normal de conduta. Só se protege e só progride quem agride. Paz as custas de armas!
Em tempos difíceis as soluções precisam ser claras e decididas! Jesus veio para salvar a humanidade e enviou seus seguidores a levar esta boa notícia aos confins da terra. Na condição de discípulos de Jesus, os cristãos não podem permanecer neutros. Nem esconder-se. Muito menos conformar-se com as realidades da desigualdade e da violência. A hora é de levantar a cabeça e reafirmar com obstinada convicção a fé nos valores evangélicos. Sem se incomodar com comentários e críticas, os cristãos devem reconhecer-se convocados a testemunhar a justiça evangélica, a praticar aquela peculiar bondade que os faz restauradores de uma ordem social justa. Em tempos difíceis não se pode falhar! Crer nos e viver os valores do evangelho é salvar o mundo da destruição!
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