sábado, 15 de março de 2014

A ESCOLA DE JUDAS

Liberdade e dignidade se complementam. O ser humano alcança a verdadeira dimensão da sua identidade quando vive e age com liberdade. Agir com liberdade representa possuir totais condições para a prática do bem. Manifesta estima para com o ser humano quem lhe preserva a liberdade e promove sua dignidade. No dogma cristão, Deus é o maior defensor da condição humana, pois encarnou-se com o específico objetivo de oferecer sua vida para restaurar e assegurar a independência da família humana. Custou caro a Deus a liberdade humana. Se o custo foi tão elevado é sinal que a causa merece. Pela lógica dogmática, todas as tentativas para cercear ou mesmo para sufocar a liberdade humana ferem diretamente a ternura que o Criador guarda por sua criatura predileta. E o clamor do ser humano reduzido à condição de objeto e de escravo sempre atravessa os céus. E, assim como outrora Deus sensibilizou Moisés e o enviou para libertar seus conterrâneos, explorados pela ganância de Faraó, quer, nesses tempos, despertar seus filhos para sensibilizarem-se diante de uma forma aviltante de escravidão que explora milhões de seres humanos. Segundo estatísticas oficiais mais de dois milhões de pessoas são traficadas anualmente gerando um lucro infame de mais de 32bilhões de dólares. Este vergonhoso faturamento explica, sem justificar evidente, porque existe e persiste este vil comércio. Simultaneamente, deve fazer despertar um profundo sentimento de repúdio na consciência de todas as pessoas de boa vontade, em especial no coração daqueles que professam e chamam Deus de Pai. Afinal, que filhos são se, ao verem explorados e humilhados seus irmãos, filhas e filhos amados do mesmo Pai, redimidos pelo mesmo divino sangue do Redentor, permanecem calados ou omissos. Em boa hora, a Igreja Católica coloca este doloroso assunto em foco ao escolhê-lo como tema da Campanha da Fraternidade do corrente ano. E o faz na justa perspectiva da Quaresma, tempo litúrgico dedicado à revisão e renovação da identidade cristã. Aplicado nas tradicionais exercícios do jejum, da oração e da esmola, o cristão busca limpar a poeira acumulada na sua consciência e na sua conduta com a intenção de recuperar o brilho original do candelabro colocado sobre a mesa para iluminar a todos que estão em volta. Ao focar o tráfico humano como referência principal nesta jornada renovadora, a Igreja propõe como objetivo geral de sua campanha fraterna a identificação e a consequente denúncia de todas as formas de mercantilização do ser humano. Alicerçada na profunda convicção da dignidade inerente a cada ser humano, criado a imagem e semelhança de Deus, reconhece como infame este comércio e quer sensibilizar e motivar não somente seus fiéis, mas toda a sociedade para combatê-lo e erradicá-lo. Sob pretexto nenhum o ser humano pode ser reduzido à condição de mercadoria, ter o nome substituído por um código de barras, com vistas à exploração e com a aviltante finalidade de lucro. Para alcançar o objetivo de assegurar a dignidade e a liberdade a todo ser humano, a Igreja propõe, sempre na perspectiva de fraternidade, vários meios operacionais. É preciso identificar e denunciar causas e estruturas que favorecem o tráfico como também alertar para as falsas promessas usadas para confundir, iludir e, no fim, aliciar as vítimas. Se a dimensão é estrutural, é evidente que o poder público, em todas as suas esferas, precisa intervir não somente para coibir, mas principalmente para prevenir que inocentes criaturas caiam vítimas de agentes gananciosos e inescrupulosos. Enfim, inspirada no exemplo de Jesus Cristo que com ternura olhava, se aproximava e tocava o rosto dos aflitos que clamavam por Ele, pedindo piedade e misericórdia, a Igreja urge seus fiéis a olharem de frente e com coragem ao cruel desafio que anda desfigurando tantos rostos humanos. A escola de Judas Iscariotes continua atraindo alunos. O tilintar das moedas os cega e os torna insensíveis, a ponto de os transformar em traidores de sua própria raça. Vendem por dinheiro gente iguais a eles! Sensibilizados por mais esta vergonha humana, que tanto sofrimento provoca, os cristãos, em sua peregrinação rumo à Páscoa, abraçam a causa de tantos irmãos e irmãs e comprometem-se na superação desta flagelo, assegurando a todos uma digna vida de liberdade e de paz! É para a liberdade que Cristo nos libertou!

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