sábado, 29 de março de 2014

EM MARCHA

Críticas são algumas situações registradas na Bíblia. Repletas de tensão, porque envolvem a sobrevivência de pessoas. Deus parece deliciar-se em colocar sua criatura dileta em apuros apenas para, no fim, demonstrar seu real envolvimento com a salvação da humanidade. Ou, como preferem alguns, atrelados à mentalidade do povo hebreu, para mostrar o seu poder. Teologicamente falando, não necessita Deus provar seu poder. Ao contrário, o objetivo real é firmar a confiança do Homem em suas promessas. Um episódio, conhecido, serve para ilustrar esta sublime verdade. Quando ordenou a Moisés a conduzir seu povo do regime da escravidão para a vida em liberdade, Deus escolheu como chão da promessa uma terra para lá do Mar Vermelho. Logicamente, era necessário atravessar o mar para alcançar o destino. Quando, então, o povo chegou às margens do Mar Vermelho deparou-se com o grande desafio: como fazer aquela multidão, que incluía mulheres, crianças e rebanhos, atravessar o mar. Para complicar e aterrorizar os hebreus, Faraó já tinha, àquela altura, se arrependido de ter solto seus escravos e havia decidido sair para arrastá-los de volta. Imagina-se a situação, registrada em toda dramaticidade, nas páginas sagradas. À frente, o mar, de difícil travessia, às costas, o formidável exército egípcio. Não é sem motivo que o povo apavorou-se e ensaiou rebelião contra Moisés e o próprio Deus. Presume-se que até Moisés devia ter ficado perplexo, a ponto de recorrer e pedir orientação divina. A resposta de Deus foi simples e direta: manda o povo caminhar em direção ao Mar Vermelho. O desfecho da história é conhecido. Passo ao largo de estudos críticos que creditam a espetacular travessia á coincidência de fenômenos naturais. O objetivo de Bíblia é a verdade transcendental. Perde tempo, energia e foco quem busca comprovar a veracidade histórica de alguns acontecimentos. O propósito da Bíblia é fortalecer a fé na grande e salutar verdade: Deus se envolve com o destino humano porque quer dar ao Homem vida plena. Se isso acontecer por meio de intervenção direta ou por confluência de fenômenos naturais é irrelevante. Fato é, que Deus, fiel à sua promessa, não abandona o ser humano e se interessa seriamente por salvá-lo. Esta salvação, contudo, exige uma atitude fundamental por parte do ser humano, crer no e corresponder ao amor de Deus! Situa-se aqui o grande conflito que tem atrapalhado a caminhada do ser humano. Inclusive de quem afirma crer em Deus! Dotado de inteligência o ser humano, naturalmente, busca entendimento mais apurado. Quanto mais preparado, mais crítico costuma ser. Submete tudo ao crivo da sua capacidade intelectual. E normalmente costuma resistir ao que não se enquadra em suas categorias racionais. Neste campo se dá a grande tensão entre fé e razão. Para os racionais, a inteligência deve sempre prevalecer, a ponto de rejeitarem tudo o que não se ajusta ao raciocínio humano. Para o crente, a fé deve preceder a razão, compreendendo a fé como a obediência às legítimas orientações divinas. Nesta perspectiva, quando executa o que Deus pede, mesmo se o ordenamento, em primeira instância, parece agredir a lógica humana, o ser humano acabará, no fim, compreendendo a propriedade da proposta divina, alargando, com sua obediência, e alimentando ainda mais, o seu entendimento. Restrita à verdades empíricas, a inteligência humana priva-se da dimensão transcendental que, não somente não ofende o intelecto, como, ao contrário, o dilata e o introduz a novas perspectivas que ampliam seu campo cognitivo. Curioso como a dinâmica de executar primeiro para depois entender é tranquilamente aceita em outras áreas do cotidiano. Quando, por exemplo, o aluno decide pautar-se exclusivamente pelo que ele julga racional ou conveniente, o seu progresso cultural e científico ficará seguramente comprometido! No dia-a-dia, o cristão experimenta situações tensas. Entra em conflito entre seguir a sua razão ou obedecer a Palavra, que, normalmente, soa estranha ou de duvidosa eficácia. Hesita e calcula! Nestas circunstâncias, a voz de Deus, forte e serena, ordena: põe-se em marcha! A história da humanidade teria se livrado de muitas tragédias se os homens de fé não tivessem hesitado tanto e se tivessem posto confiantemente em marcha!

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