sábado, 1 de março de 2014

FAMA OU FRUTOS

Carnaval combina com descontração! Acontece que, ocasionalmente, a descontração é confundida com exposição. Por conta de alguns segundinhos de notoriedade, cidadãos disputam espaço e atenção. Dá prazer aparecer! Alguns, na verdade, extrapolam na ânsia de conseguir glória. Os tais 'reality shows' comprovam as concessões que as pessoas se permitem para chamar atenção. Nem hesitam apelar para a vulgaridade, conquanto se destaquem. Faz sucesso quem cai no agrado popular. E para cair na aprovação popular basta oferecer o que alegra o povo. Esta é a razão porque o sucesso, geralmente, é tão passageiro. Falta-lhe consistência. Depende muito do gosto. E gosto é volúvel! E frequentemente de duvidoso valor, porque atrelado a satisfações momentâneas ou impulsivas. Francamente, cada sucesso oco! Por esta razão, quem busca fama abdica, em geral, da ética, de princípios e até de bom gosto. Explora ao máximo seus atributos e suas habilidades que garantem a tão almejada exposição. Em instantes, imagens, músicas e outras façanhas correm o mundo, assegurando a ambicionada popularidade. Fazer sucesso é diferente de produzir frutos. A aclamação popular não é garantia que determinado produto ou artista apresenta algo objetivamente novo, capaz de enriquecer a cultura da humanidade. Por outro lado, quando um artista produz uma obra com intrínseca consistência reconhece-se nela valor transcendente. A obra tem ressonância. Se impõe por seu próprio e perene valor. Sua vitalidade é inspiradora. Produz frutos, em suma. É arte. Para fazer arte não basta possuir técnica. Para fazer arte é imprescindível ter conteúdo e uma apurada habilidade de comunicação. Obras de arte são resultado de um impulso forte presente no sujeito que quer comunicar com habilidade convicções que alimentam o mais íntimo do seu ser. Por esta razão, a primeira preocupação do legitimo artista não é com o reconhecimento popular, mas sim com a competente transmissão da mensagem que pulsa dentro dele. Na raiz, o artista quer dividir uma inspiração e uma intuição. Normalmente, é um sujeito que consegue ler nas entrelinhas da vida e dos acontecimentos. Enxerga o que outros não vêem. Sua percepção é singular e subjetiva, mas que o marca com tal veemência que ele não consegue segurá-la para si. Luta bravamente para encontrar a linguagem adequada para passar seu recado. E somente sossega quando a ferramenta utilizada consegue expressar satisfatoriamente seu pensamento. Bons artistas costumam demorar em suas produções e facilmente se irritam com interrupções e imposições. Não é fácil para o escritor encontrar a palavra certa, formular a expressão precisa. Como não é fácil para o pintor encontrar a composição certa para o seu quadro e a tonalidade exata das cores. Habilidade e conteúdo produzem obras capazes de transcender fronteiras tanto de tempo como de espaço. São produções perenemente fecundas! Fato curioso, raros são os artistas que fazem sucesso imediato. Explica-se este fenômeno por um sutil detalhe, o artista genuíno produz não necessariamente para agradar, mas para externar intuições que julga iluminadoras. Suas obras normalmente resultam de prolongadas reflexões e análises. Entende-se porque obras de arte representam algo novo para o acervo cultural humano, novo no conteúdo e novo também na linguagem. Ao fugir do convencional, o artista induz o destinatário a assimilar com percepção suas ideais e sobre elas refletir. Demora-se normalmente para reconhecer e apreciar obras de valor. Embora a ausência de reconhecimento costume ter reflexos negativos em sua vida, o artista prefere não se vulgarizar nem fazer concessões. Obstinado, permanece fiel às suas convicções, desejoso apenas que um dia, alguém entenda e expanda suas intuições. Criar normalmente resulta de esforços solitários e arriscados! Quem produz algo de genuinamente valioso sempre se arrisca: arrisca-se a reputação, a competência, a compreensão. Está explicado porque são raros os artistas! Atiça a imaginação ser destaque. Infla o ego a fama. O ser humano se realiza, contudo, quando produz frutos, e frutos duradouros. Fama é passageira. Frutos são perenes.

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