
Ousadas algumas das sentenças de Jesus! Com ênfase, em ocasiões diversas, Ele se apresenta capaz de saciar a sede e a fome das pessoas. Para a mulher samaritana declarou: quem beber da água que eu tenho a dar NUNCA MAIS terá sede. E para a multidão, entretida com seu discurso sobre o pão da vida, assevera: quem vem a mim não terá fome! Antes de operar a ressurreição de seu amigo Lázaro, afirma categoricamente: quem em mim acredita JAMAIS morrerá! Fica entendido, Jesus não fala da fome e sede naturais. Nem se refere à morte biológica. Usa linguagem figurada para focar o profundo anseio de vida plena, presente em cada ser humano, e afirmar ser Ele capaz de satisfazer.
As contingências e sobressaltos da vida induzem muita gente a duvidar na possibilidade real de alcançar esta beatitude. São tantas as turbulências e contratempos, que ficam plenamente justificados os questionamentos, tanto no campo acadêmico como existencial. Gente séria e estudada afirma categoricamente, amparada em experiências cientificas, que a tal felicidade plena é inatingível. No entanto, essas mesmas argumentações, ao invés de sossegar mentes e consciências, provocam novos questionamentos. O formidável avanço do pensamento humano, como também as fantásticas descobertas científicas e neurológicas, não conseguem apresentar soluções definitivas. Quando se pensa que, agora, encontrou-se a resposta final aguardada, o avanço conseguido aponta para uma ulterior fronteira a ser desbravada. Esta incapacidade de apresentar aquela resposta final, é evidência segundo outros igualmente renomados cientistas e gabaritados pensadores para reconhecer que a consciência humana exige a admissão da dimensão transcendental da existência humana. O respeito ao rigor científico não os autoriza a confirmar a existência do Criador e da imortalidade da alma humana. Ao consentir na real possibilidade dessas conclusões, acadêmicos sérios, nem todos crentes, insinuam não haver nenhum argumento cientifico capaz de desqualificar os dogmas da fé. Este embate acadêmico, nada tranquilo, evidente, mas envolvente, oferece preciosa luz ao crente desprovido de argumentações científicas. Crer na possibilidade real de uma realização plena não é coisa de ingênuo, nem de mentes simplórias e crédulas.
A fé ilumina onde a razão e a ciência empacam. Ao falar da eternidade, ao mencionar a possibilidade de saciar a sede e a fome de vida, Jesus abre o olho do ser humano quanto à verdadeira dimensão da vida. Insinua Ele que vista e vivida apenas em termos materiais, a existência humana não consegue responder a todos os anelos e exigências que a pessoa sente, mesmo quando não se vê capaz de externá-los articuladamente. Viver apenas materialmente, por mais fantástico e próspero, não esgota todos os clamores e aspirações da alma humana. É bom viver, é formidável usufruir de tantos avanços, mas não é tudo. Persiste a sensação que há ainda algo mais a ser alcançado, conhecido e vivido. Pela fé iluminado, o Homem compreende que a vida na terra é passageira. É boa, mas não é completa. Diverte, mas não assegura felicidade definitiva! Ao assimilar a contingência da existência material e se convencer que a plenitude da vida se alcança em um subsequente estágio, o Homem enxerga a morte não como intrusa cínica, mas como uma passagem necessária para alcançar a almejada beatitude. Racionalmente falando, a morte é uma provocação que agride e debocha de toda potencialidade do ser humano. Ela corta, em alguns casos de uma forma prematura, o fio condutor da vida! Pela fé iluminado, o crente compreende que a vida material não é tudo. É apenas um estágio preparatório. O bom, mesmo, está para acontecer!
As ousadas sentenças de Jesus têm por objetivo único despertar o Homem para a real dimensão da vida. Ao prometer saciar a fome e a sede, ao prometer vencer a morte para quem caminha com Ele, Jesus confirma que o Homem possui outras exigências, mais urgentes, mais reais do que as necessidades materiais. Aprendendo a colocar na justa perspectiva as delícias naturais, o Homem saberá usufruir-se delas plenamente, mas de forma livre e desapegada, convicto de que o verdadeiro gozo ainda está por vir!
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