
Jesus pediu água! Em duas ocasiões distintas, o Mestre revelou estar com sede. E sem nenhum constrangimento, ao externar seu estado, quis que ficasse registrado. A primeira vez que pediu água foi em Samaria, e para uma mulher, enquanto sentava a beira do poço de Jaco. A segunda, foi na hora dramática da crucifixão. Com forte grito, Jesus revelou estar com muita sede. Ao analisar detidamente os acontecimentos é se induzido, todavia, a concluir que a sede de Jesus era de natureza diferente da necessidade natural de hidratar-se. Pois em ambas as circunstâncias não há registro que o Mestre tenha consumido alguma bebida.
No envolvente diálogo a beira do poço, Jesus usou a sede como estratégia para abrir a conversação com a mulher de Samaria. Nota-se que o evangelista não registra o nome da samaritana, detalhe que segundo os estudiosos, acena tratar-se não tanto de uma pessoa em particular, mas de uma categoria de gente. No caso, presume-se tratar de samaritanos, e por extensão, de todas aquelas outras categorias de pessoas cujo dogma ou ritual religioso encontra-se fora da ortodoxia oficial. Sabe-se que os judeus consideravam hereges e idólatras os samaritanos, povo a ser evitado. Jesus não somente não evita, como puxa conversa com a pagã. A maneira simples e direta de pedir água desconcerta a mulher e a induz a afrouxar a previsível resistência. Ela provoca-o e o ironiza, mas Jesus não perde o comando. Ao contrário, sutilmente vai expondo as fraquezas da mulher, não para humilhá-la, mas para ajudá-la a reconhecer os equívocos que a mantinham sedenta. Ao final, não sobra à mulher alternativa, ela reconhece Jesus como o Cristo que a humanidade aguarda. Registra-se, então, um detalhe significativo. Ao reconhecer a identidade de Jesus, a samaritana larga, espontaneamente, o cântaro e corre para anunciar a novidade a seus conterrâneos. O texto não explicita, mas insinua: a samaritana e Jesus tiveram sua sede satisfeita! Sem forçar situações, Jesus convence a mulher que a maior sede da vida dela não era de água material, mas de encontrar o verdadeiro sentido para sua existência. As bicas que ela procurava não satisfaziam seus anseios. Somente quando reconheceu a identidade de Jesus e nele depositou sua fé, sua sede ficou saciada, conforme a ousada afirmação do Mestre. A água que Ele tinha a dar não somente matava definitivamente a sede, como fazia brotar no coração do crente uma fonte a saciar a sede dos outros. Ao vê-la liberta, Jesus também satisfez sua sede.
A segunda ocasião quando Jesus revelou estar com muita sede, foi enquanto crucificado. Presume-se tratar-se de sede natural, afinal, Jesus devia estar seriamente desidratado após perder tanto sangue. Os soldados ofereceram-lhe vinagre, que Ele recusou. Ao rejeitar a bebida, Jesus, novamente, deixa transparecer que sua sede era de outra natureza. O grito na cruz escancara o enorme desejo em Jesus de ver o mundo compreender a singularidade de seu gesto e, ao compenetrar-se do imenso amor que Deus tem para com a humanidade, deixar-se cativar e para Ele voltar. A ânsia de Jesus de ver as pessoas libertas e vivas é tão urgente quanto o desespero do sedento em busca de alguma bica capaz de refrescar-lhe os lábios. Na cruz, Jesus expõe até onde chega o amor de Deus pela humanidade. Ama até o fim, literalmente! Importava, naquela hora, não tanto os atrozes sofrimentos, mas, sim, o resgate, a libertação de todas as pessoas!
Somente o apóstolo João registra a sede de Jesus, justamente o evangelista que recheia seu evangelho de alegorias. Fica claro, a sede de Jesus não é de água. É de gente! E esta sede aponta para a grande e fundamental verdade: somente em Jesus as pessoas encontram a resposta para os mais profundos anseios de vida. Enfaticamente, Jesus afirma: quem beber da água que tenho a dar, nunca mais passará sede! Ousada promessa. Feita, contudo, com a convicção e o carinho de quem conhece os mais urgentes anseios da alma humana e sabe possuir plenas, e únicas, condições de a satisfazer! Por outro lado, enquanto uma única criatura houver com sede de realizar-se como gente, o Mestre continua acusando sede. O sinal de que seu grito sensibiliza e comove é o empenho em colaborar com Ele na redenção da humanidade!
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