sábado, 27 de dezembro de 2014

INOCENTES

A criança estava somente correndo! Foi a reação de uma mãe contrariada ao ser solicitada educadamente para segurar sua filhinha que corria pela nave da igreja durante uma celebração religiosa. Pergunta-se: é correto criança correr na igreja durante a liturgia? É a platéia que está errada ao se aborrecer com uma criança inquieta durante a exibição de um filme? Em ambas as situações não é a criança que está errada, não é o celebrante que é exigente demais, não é a congregação que se vê prejudicada pela agitação da criança, mas seus responsáveis por se omitirem em educá-la. Obviamente, a orientação não pode ficar restrita somente ao tempo que a criança está na igreja ou em qualquer outro logradouro público. Deve ser feita em casa, com paciência, carinho e sistematicamente! A impressão que sobressai hoje, falando de uma forma geral, é que os pais, por algum motivo, estão deixando de lado uma das principais responsabilidades que lhes é própria e intransferível: educar os filhos. Educar não é somente mandar à escola. A escola alfabetiza. Como comportar-se a criança aprende em casa. Tarefa exigente, mas indispensável. Alertam os educadores que a instrução dos pais é insubstituível. A escola e a igreja representam suporte compensatório. A estes cabe complementar e, possivelmente, aperfeiçoar o que se aprende em casa. Professores e catequistas jamais conseguirão substituir a lacuna provocada pelo básico aprendizado familiar. O comportamento das crianças, em várias situações de convívio social, e sempre falando de forma genérica, parece confirmar o distanciamento entre pais e filhos em matéria de educação comportamental. Tenta-se explicar esta lacuna pelas exigências impostas sobre os pais pelo ritmo moderno de vida. Pai e mãe são obrigados a trabalhar para poder oferecer sobrevida decente à família. Escasso é o tempo, e, às vezes, até a disposição, para dedicar-se aos filhos. Embora real e grave esta situação, não se pode esquecer que a omissão dos pais na educação de filhos pequenos é irreparável. É próprio da criança querer aprender. Ora, se não aprende com os pais, vai se informar com outros agentes, nem sempre corretos, nem sempre bem intencionados e interessados em sua genuína formação. O ônus final, portanto, desta omissão, além de previsivelmente caro, recairá inevitavelmente sobre os ombros dos genitores. O tempo e a atenção que não foram dedicados na tenra infância terão que ser recompensados, e com juros, mais na frente. Criança mal educada certamente causará dissabores para a família. Entre as muitas violências cometidas contra as crianças, as mais graves são certamente a falta de orientação e o desinteresse para acompanhar o progresso. A criança tem direito a aprender o que é certo. E ninguém melhor que os pais para ensinar e dar exemplo. Vale, novamente, destacar a alerta dos educadores, as crianças são naturalmente curiosas, voyeurs, como se diz tecnicamente. Querem aprender e, geralmente, aprendem com o que vêem. Criança aprende imitando! Este detalhe deve despertar nos pais uma atenção sobre sua própria conduta, sobre as reais preferências que adotam na vida. A criança pode até cumprir o que os pais mandam, enquanto estiver sob a sua tutela. Basta, porém, os pais virarem o rosto, a criança segue o caminho que quer. Discurso não faltou, faltaram convicção e exemplo. Percebe-se este detalhe com clareza no campo religioso. Os pais obrigam os filhos a fazer catequese, mas eles mesmos dão pouca importância à vivencia religiosa. Ou, no máximo, suportam participar, preocupados apenas em fazer os filhos cumprir etapas. Passada a festa da Primeira Comunhão, filhos e pais somem da igreja. Julgam-se quites com as obrigações religiosas. Educar é tarefa árdua, exigente que repousa fundamentalmente em convicções. Não é raro verificar, quem instrui se aflige mais que o instruído, porque sabe que vai contrariar interesses e causar dissabores. No entanto, prefere ser temporariamente abominado que deixar na ignorância. Omitir-se é, sem dúvida, uma das falhas mais sérias de um educador e indubitavelmente uma das mais graves faltas de amor e de consideração. Não é autêntico o amor que recusa corrigir! As crianças são inocentes. São receptivas. É fascinante, embora exigente, a missão de ensinar valores às crianças e acompanhar para que sejam assimilados e praticados. E os pais devem ser os primeiros a reconhecer que esta tarefa lhes é própria, por direito e por afeto. Zelosos e corretamente ciumentos, não a delegam. Imensa é a satisfação ao acompanhar um filho crescer em sabedoria e amadurecer em responsabilidades!

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