sábado, 7 de fevereiro de 2015

SUAVE BRISA

Desesperadamente, procurava-se pelo cubo mágico! Ao longo do último mês de dezembro, centenas de pessoas vasculharam regiões e logradouros da cidade em busca frenética por tal cubo. A paróquia Santo Antônio foi um dos destinos preferidos dos caçadores, face às pistas sugeridas. Dezenas de pessoas andaram pelo adro da igreja, remexendo em folhas, vasculhando os jardins. Foi divertido acompanhar a ansiedade de muitos, jovens em particular, não fosse por um pequeno grupo de meninas que, na ânsia de encontrar o ‘tesouro’, remexeram com tamanha fúria nos enfeites natalinos que ornavam a área externa da igreja, a ponto de destruir a decoração, espalhar musgos pelo chão, deixando vasos completamente revirados. As câmeras de segurança registraram a irresponsável investida. O que era para ser uma divertida e louvável atividade cívica e cultural, em alguns casos, se transformou em lamentável exposição de despreparo e desrespeito. Na lógica da brincadeira, camuflar bem o cubo atiçava a curiosidade e provocava diligente procura. Para muitos, Deus também se esconde, como se mágico cubo fosse, demandando intenso trabalho para ser encontrado. Por causa dessas supostas dificuldades, muitos desistem de procurar por Ele. Julgam trabalhoso demais encontrá-lo e largam frustrados. A realidade é justamente o oposto. Ciente da grande necessidade que dele o Homem tem, Deus quer ser conhecido e da maneira mais simples. Exímio conhecedor do processo de entendimento do ser humano, cujo conhecimento depende dos sentidos e por eles passa, o Criador faz questão de apresentar-se para os sentidos humanos. Desta forma pode ser conhecido e admirado. É a estratégia assimilada e seguida pelos profissionais de propaganda: apareça e cresça! O Criador adota esta dinâmica, com uma sutil diferença, a estratégia a que Ele recorre difere daquela seguida pelos padrões humanos. Uma diferença que, quando bem entendida, revela a consideração pelos mais profundos requisitos da alma humana. Houve épocas quando a mente humana precisava que Deus se manifestasse através de fenômenos naturais espetaculares, como trovões, relâmpagos, terremotos. Feitos extraordinários, enfim! O Antigo Testamento está repleto dessas manifestações divinas, conhecidas como teofanias. A imponência dessas manifestações provocava compreensível medo da presença do divino. A majestade impunha distância. A santidade divina escancarava a total indignidade humana, marcada pelo pecado. Quem ousaria dele se aproximar? Embora prevalecesse este contexto de assombro, Deus dá indícios que prefere apresentar-se de maneiras diferentes. Registra-se, então, um episódio de singular beleza e impacto: a visita de Deus ao profeta Elias. Refugiado numa gruta, o profeta, abatido e desiludido, reconhece a presença divina na passagem de suave brisa. Inspirado e fortalecido por tão serena visita, o profeta deixa sublime recado: está bem mais em sintonia com as exigências da alma humana, é bem mais agradável reconhecer a presença de Deus na brisa suave que na violência de um terremoto! Deixando-se surpreender por esta mansa estratégia, Elias retoma, revigorado, sua jornada profética. Outros relatos semelhantes acenam que Deus prefere manifestar-se de maneiras mais simples e humildes, que em circunstâncias espetaculares. A evolução do conhecimento humano dispensa apresentações sensacionalistas e desconfia de teofanias nitidamente apelativas. Deus não explora a emoção. Tampouco se deixa enquadrar por esquemas preestabelecidos de rituais e cultos. Rotinas são tediosas e costumam ser estéreis. Ao contrário, Ele segue o paciente caminho da sedução pela verdade e do convencimento pela amorosa criatividade. À semelhança do amante apaixonado, Deus recusa ser previsível. Habilmente surpreende. Sem ferir derruba barreiras e cativa almas! Os idealizadores da brincadeira estudaram esconder o cubo num lugar inusitado e que desse trabalho para ser encontrado. Deus, ao contrário, adota estratégia diferente, basicamente, porque sabe o quanto é bom para o Homem encontra-lo. Ele, então, se apresenta sem aviso, de surpresa, a moda da suave brisa, tão refrescante e restauradora que fica impossível a ela resistir. Sem alarde, pois, Deus entra e na alma fixa morada!

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