
Em pauta prosseguem as perseguições. Particularmente contra cristãos. Chocantes são os relatos de agressões contra cristãos. Não bastassem as atrocidades patrocinadas pelo Estado Islâmico, outros países, até então defensores da liberdade religiosa, como a Índia, registram absurdas violências praticadas por fundamentalistas hindus. O cristianismo padece, contudo, de outros tipos de perseguição, igualmente agressivos embora não sangrentos. Afinal, a tortura psicológica por que cristãos no primeiro mundo passam diante da crítica sistemática proveniente do racionalismo não é menos angustiante. Muitos são os cristãos, especialmente jovens, que se sentem acuados e arbitrariamente agredidos por colegas ou professores que fazem leituras ambíguas e tendenciosas da história e dos dogmas cristãos. Apuro semelhante passam cristãos no chamado terceiro mundo por causa da opção pelos mais excluídos, censurados como subversivos da fé, demagogos místicos a serviço de causas políticas e ideológicas! Para completar o quadro constrangedor, o consumismo e o hedonismo materialistas caçoam dos fiéis, expondo-os como irrecuperáveis carolas, desconectados da realidade da vida! Perseguições prosseguem em pauta! A comunidade de fiéis sente-se frágil, exposta demais diante de tantas ondas ameaçadoras. O quadro desalentador induz os hesitantes a duvidar seriamente da racionalidade e da conveniência da fé. Emerge, espontaneamente, o questionamento: se Jesus está presente, como prometeu estar, como se explica tanta agressão? Por que permite Ele que a comunidade passe por tanta provação? Crer soa obsoleto!
Deixou registrado Jesus, em várias ocasiões e de diversas maneiras, que a travessia pelo mundo da comunidade dos fiéis nunca seria tranquila. Várias vezes alertou a respeito de perseguições e de violentas turbulências por que a comunidade devia passar. Aplicado mestre que foi, Jesus reservou uma singular experiência para o grupo que o acompanhava com o objetivo não somente de adestrá-lo para os inevitáveis turbulências que deviam enfrentar como também para ajudá-lo a entender a dimensão da verdadeira fé. Convidou-se Jesus certa vez para acompanhar o grupo na travessia pelo mar da Galiléia. Segundo os geólogos, o fato do lago da Galileia encontrar-se abaixo do nível do mar o torna sujeito a repentinas mudanças climáticas. Foi o que aconteceu na ocasião. Uma súbita tempestade de descomunal violência pôs em pânico aqueles experimentados pescadores. O mais angustiante, todavia, foi o aparente descaso de Jesus. O evangelista Marcos carrega no drama ao descrever o Mestre dormindo placidamente sobre um travesseiro. Mesmo uma leitura superficial induz a concluir que Jesus armava uma situação com vistas à lição que pretendia administrar. Em sua hora, ele desperta e com uma única ordem doma a tempestade. Turbulências são inevitáveis na travessia da Igreja, algumas excepcional e inexplicavelmente violentas, mas nenhuma superior à presença divina de Cristo. Bastou uma única ordem!
Transparece outra provocação oportuna: como reagir diante do 'sono', do 'silêncio' do Mestre? O mar furioso deixa a impressão de ser capaz de engolir a frágil embarcação, não fosse a presença discreta do Mestre. Mesmo dormindo, está não somente presente, como permanece senhor da situação. Crer nesta verdade é não deixar-se dominar pelo pânico. Medo e pânico costumam provocar irracionais reações, desastradas consequências. É o que acontece com quem se foca apenas no furor da tempestade, olvidando-se da presença discreta, mas eficaz, do Senhor da história. Na hora certa, ele se levanta e acalma a tempestade. A história da Igreja está repleta de exemplos semelhantes! A embarcação é frágil, de verdade, mas as forças adversárias não prevalecerão sobre ela. É a promessa do Mestre! É igualmente a certeza a acompanhar e sustentar as comunidades de discípulos, onde quer que se encontrem!
Perseguições, violentas algumas outras inexplicavelmente arbitrárias, são inevitáveis durante a travessia. A presença de Jesus não é para ser entendida como blindagem contra turbulências, mas, sim, como inspiração para manter-se firme ao leme e não perder o rumo. Perseguições não são obstáculos, mas singulares oportunidades para um evangelizador testemunho!
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