
Atônito está o mundo! As constantes notícias relatando o drama de centenas de migrantes africanos que tentam chegar à Europa afligem. As imagens que retratam a exaustão dessa gente, aliadas à informação de que já se perdeu a conta de quantos não conseguem vencer a travessia, tendo o mar como sepultura, causam consternação e compreensível clamor. Num primeiro momento, a frieza com que os governos dos chamados países desenvolvidos lidam com a questão mexe com os sentimentos humanitários. Não se consegue entender porque esses países do Mediterrâneo, ricos e prósperos, colocam tantos obstáculos para acolher os refugiados. Uma análise criteriosa revela, todavia, que a situação é bem complexa. Essa gente está fugindo da miséria, dos conflitos e das perseguições que pautam o cotidiano dos países do Norte da África. É de se registrar, igualmente, a infame e oportunista exploração adotada por agentes sem escrúpulo que aliciam nativos, prometendo prosperidade e fartura, ao mesmo tempo que os espoliam de seus míseros pertences. Em mais este caso, verdadeiras máfias se enriquecem a custa da miséria alheia. A mesquinharia desconhece limites de decência e de moral.
Por questão de justiça e respeito histórico é preciso que se lembre que, durante séculos, os europeus exploraram e saquearam até onde puderam riquezas naturais e humanas do continente africano. A infame história da escravidão representa apenas o dado mais sensível do arrogante e articulado regime colonialista, tornado ainda mais imoral por causa da cultura cristã que supostamente pautava a conduta desses impérios. O colonialismo levou, sem dúvida, benefícios, mas deixou, igualmente, rastros sangrentos de exploração e dominação. Que os africanos recorram à Europa em busca da redenção é perfeitamente compreensível. Justo, inclusive! Acolher e acudir refugiados representaria um gesto de reparação por anos de sofrimentos e de humilhações. Os colonizadores devem reconhecer sua responsabilidade pela situação de miséria que arrasa certos países africanos. A questão passa a focar então a logística desta reparação. Se se concentra a atenção somente na aventura dos barquinhos é grande a probabilidade de se dar soluções ambíguas para uma situação que precisa urgentemente de encaminhamentos justos e duradouras.
Provocados pelos constantes apelos do Papa Francisco, pensadores europeus passam a exigir dos governos uma abordagem mais pontual da situação. A começar pela identificação e punição dos inescrupulosos criminosos que se enriquecem a custa da miséria alheia. Suspeita-se inclusive, que graduados funcionários públicos nesses países miseráveis estejam envolvidos nas traficâncias. Urge, então, considerar a situação social e política dos países de onde saem as levas de migrantes. Elementar raciocínio induz a concluir que, promovendo condições decentes de vida, os nativos não teriam motivos para abandonar parentes, terras e culturas, arriscando-se perder a vida, em busca de uma hipotética fartura. Bastava, portanto, os países ditos desenvolvidos optarem investir com consciência e responsabilidade, gerando nessas terras miseráveis reais condições para uma sobrevida digna. Ao inverter o processo de colonização, os países ricos reparam as humilhações e saques praticados com tanto despudor e prepotência. Estudos sérios apontam ainda que mesmo do ponto de vista econômico, esta seria a solução mais vantajosa. Migrantes afetam seriamente as economias dos países acolhedores.
Outro complicador nefasto neste conturbado cenário é a lucrativa comercialização de armas bélicas. Os governos desses países pobres gastam fortunas em arsenais bélicos. As populações passam fome, mas os exércitos e as milícias desfilam fartamente armados, protegendo déspotas e caçando confusões. Ora, são os países ricos que fabricam armamentos! A indústria bélica escancara a hipocrisia de tantos governos que, nos discursos juram querer a paz, enquanto, nos bastidores, se locupletam ao alimentar rivalidades e intrigas.
Gente humilde está sendo manipulada e explorada. Usada, em suma! Não se pode ignorar a dramática situação de migrantes e refugiados. A questão, pois, é fundamentalmente humanitária. Outros tantos naufrágios podem suceder se a humanidade não despertar e não se articular para assegurar que todos os povos tenham uma sobrevivência que seja justa, decente e digna!
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