
VISIBILIDADE
A sociedade convive com seres invisíveis! Infelizmente, esta experiência é recorrente entre as comunidades humanas. Na cultura ocidental são tratadas como invisíveis pessoas de classes sociais mais humildes ou gente que não gera riqueza, idosos, doentes e similares. Em certas culturas africanas mulheres e crianças andam ignoradas, recebendo tratamento humilhante e atenção periférica. Em tempos bíblicos, mulheres e crianças também permaneciam ignoradas. Esta mentalidade originou a classe de cidadãos invisíveis. Profeticamente, Jesus rompe barreiras neste contexto dominado pela discriminação. Chama mulheres a integrarem sua comitiva e, ousadia maior, apresenta uma criança como modelo do discipulado. Se os pretensos seguidores não se transformarem em crianças permanecerão excluídos do convívio do Reino. Chega o Mestre a pronunciar sentença contundente: o tratamento dado a uma criança corresponde com precisão ao conceito que se faz de Deus e o tipo de reverência a Ele prestada (Mc 9, 37)! Ao se prestar a devida atenção a esta assertiva é se induzido, espontaneamente, a examinar o tipo de conduta que se segue no trato de uma criança. E isto, claro, tanto no âmbito individual como social. Para o crente, Deus se identifica com a criança!
Emerge, como primeiro ponto de reflexão, o direito à vida! É elementar garantir a toda criança a oportunidade para uma vida digna. Assegurar-lhe não apenas uma sobrevida, mas um futuro promissor e seguro, protegido contra todas as ameaças. Aparece, neste contexto, com dramática pertinência, a questão do aborto. Do ponto de vista biológico e psicológico sabe-se que desde o primeiro instante da concepção já se tem um ser humano com todas as características e especificações de sua personalidade. O que sucede após a fecundação é uma natural evolução daquele ser! Ao permitir transcorrer o curso natural da evolução, não se verifica nenhuma mudança radical no feto, sucede apenas o desenvolvimento de órgãos e potencialidades já existentes. Tenta-se justificar o aborto, alegando o direito da mãe de dispor-se de seu próprio corpo. Mesmo a mais elementar inteligência percebe a ambiguidade nessa argumentação. A criança no ventre da mãe é um ser diferente, com individualidade e identidade próprias. É outro. Para sua infelicidade, este bebê encontra-se no ventre de uma mãe que o trata como invisível. Tragicamente, nesta circunstância, o ventre, preparado pela natureza como o espaço ideal para um ser humano crescer e desenvolver-se saudavelmente, é transformado numa zona criticamente perigosa e o bebê, totalmente indefeso. Absurda deformação!
Acolher uma criança é assegurar-lhe também segurança afetiva. Os pais e as sociedades em geral costumam ocupar-se, com diligência, em garantir-lhe uma sobrevida material. Nem sempre, contudo, esta justa preocupação com o material é acompanhada por um empenho, igualmente imprescindível, com a segurança afetiva. Além do pão, uma criança precisa também de afeto. Precisa de um ambiente que ela reconhece como lar, onde se abriga, se refugia, onde pode brincar, descontrair-se. Em suma, se curar. Claro, lar não se faz com tijolos, mas com a presença amorosa, provedora e educadora dos pais. A estabilidade familiar é requisito indispensável para a formação e o amadurecimento afetivo dos filhos. Não são raros os comentários que minimizam a importância da estabilidade familiar. Comenta-se que separações dos pais são assimiladas e administradas com naturalidade pelos filhos. Multiplicam-se comentários nesta ordem para justificar separações, algumas demasiadamente apressadas e irresponsáveis. Basta consultar, contudo, professores, em especial do ensino fundamental, catequistas, funcionários e assistentes sociais que trabalham em creches, para conhecer a dimensão correta dos traumas e bloqueios na saúde afetiva que separações provocam no inconsciente de uma criança. Na mesma línea de raciocínio, consequências graves, algumas de difícil conserto, são causadas em crianças que presenciam regularmente agressões e brigas entre pais. Instintivamente, criança exige lar estável e feliz!
Biologicamente, é fácil fazer filho. Exigente é reconhecer sua identidade e respeitar sua dignidade. Ele é ‘outro’ desde o momento da concepção. Prover, criar, educar e preparar para a vida é assegurar-lhe visibilidade.
FELIZ DIA DA CRIANÇA!
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