sábado, 28 de novembro de 2015

IMAGINE

Religião melhora condutas. Lembro comentário repetido ainda por muitos pais aconselhando seus filhos/filhas a dar preferência a namoradas/namorados que têm religião. Quem tem religião tem valores, ou freios, como se dizia antigamente. A propósito, vários articulistas publicaram recentemente artigos em diversos jornais, inclusive neste matutino (vide, CIÊNCIA, RELIGIÃO E MORAL, professor Roelf C Rizzolo,24.XI.2015) divulgando um estudo que teve por finalidade definir a influência da religião na vida de crianças entre 5 e 12 anos de idade. Pelo resultado da pesquisa, os organizadores concluíram que a influência da religião nas escolhas comportamentais de crianças é mínima. Na pesquisa, realizada com crianças de vários países e com identidades religiosas diversas, os entrevistados sem religião mostraram disposições mais éticas que seus pares, criados e educados em contexto religioso. Religião é supérflua, concluíram os cientistas! O resultado da pesquisa é, de fato, revelador e merece sérias reflexões. Passo ao largo do critério usado para definir o grau do envolvimento religioso das crianças submetida ao teste. Certidão de batismo não representa nenhuma garantia de maturidade religiosa. Tomando por base a experiência local, é, lamentavelmente, comum famílias e indivíduos abraçarem formalmente uma confissão religiosa sem, contudo, identificar-se radicalmente com seus propósitos. Leitura paralela do resultado da pesquisa acima referida enxerga, não tanto a inutilidade da religião, mas, sim, a forma superficial e abordagem convencional com que se abraça a identidade religiosa. Não é de hoje que se chama a atenção para a real e preocupante distância que se nota entre a fé que se professa e a vida que se vive. Desde tempos antigos, os profetas advertem contra a incongruência de fiéis que se deleitam em louvar a Deus com os lábios, mas cujos corações andam distantes dos mandamentos divinos. Para o criterioso crente, a pesquisa acima revela quanto é urgente e indispensável o testemunho de uma conduta pautada pelos reais padrões evangélicos. E quanto é prejudicial a imagem da religião o comportamento que não corresponde às propostas básicas do Mestre Jesus. Outra leitura interessante a ser feita a partir do resultado da pesquisa referida acima foca o tipo de conteúdo que se está administrando na formação religiosa. Durante anos a catequese, católica e protestante, centrou suas energias sobre a chamada ortodoxia da fé. O enfoque privilegiava a doutrina e a consequente disciplina que dela emanava. O fiel católico, de forma geral – foco o catolicismo apenas como referência - acostumou-se a centrar sua religiosidade na prática sacramental: ao nascer precisa-se do batismo, depois, fazer primeira comunhão, crismar, casar na igreja. O prontuário religioso está completo! Ao estacionar nos sacramentos considera-se satisfeita a identidade religiosa. Pouca consideração se dá ao sentido de passagem - páscoa - embutido em cada celebração sacramental, sua real influência na conduta cotidiana. O ritual é um fim, como se fosse mercadoria que se compra. Reconhece-se, bastante difusa é a ignorância religiosa. Inúmeras são as ambiguidades, costumes e superstições que, ao se infiltrar, acabam distorcendo a essência da religião, projetando imagem caricata. Corrigir esses nocivos equívocos representa prioritário desafio na ação pastoral das igrejas cristãs. Fiéis desinformados e mal preparados retardam sobremaneira a vinda do que Jesus chama de reino de Deus, a vida nova inspirada e pautada por valores evangélicos. Investir na e estimular a formação catequética, não somente de crianças, mas principalmente de adultos, é missão urgentíssima para quem se sente empenhado em fazer o Reino de Deus acontecer. Se não se está conseguindo mostrar na prática a positiva potencialidade dos valores evangélicos, a culpa não é da religião, mas de quem ainda não a compreende adequadamente ou não a abraça radicalmente. Graves equívocos na identidade cristã induzem pessoas a declarar irrelevante a religião. Quando não atrapalha, a religião em nada ajuda! Vive-se muito bem sem ela! Na antológica canção, IMAGINE, John Lennon sonha com um mundo fraterno e pacífico, dispensando, entre outras coisas, a ajuda da religião. Como Lennon, muitos almejam este mundo solidário. Recai sobre nós, cristãos, mostrar, não com argumentos, mas com a coerência da vida, que a religião contribui decisivamente na construção desta nova sociedade.

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