sábado, 20 de fevereiro de 2016

CASA COMUM

O planeta terra é o habitat da humanidade. Graças à globalização, a humanidade toma consciência da interdependência entre raças e países. Essa mútua dependência não é obra da globalização, apenas ficou mais evidente a partir do vertiginoso progresso alcançado pelas redes virtuais. A humanidade está, hoje, convencida que não existe bem-estar pontual, exclusivo e circunscrito. O novo esquema de condomínios que garante espaços privilegiados a seletos setores das comunidades, na verdade assegura questionável conforto. Restrito é o consolo de quem mora em um bolsão de tranquilidade, quando tudo em volta está imerso no caos e na degradação. Mais cedo ou mais tarde a situação de desordem invadirá o sossego desses pseudo-refúgios. Não haverá paz constante nem tranquilidade segura se não forem universais. Urge, portanto, despertar e ampliar a visão e entender que ou a humanidade toda se salva ou integralmente afunda. Inspiradas nesta elementar verdade, e cientes de sua responsabilidade pastoral, várias igrejas cristãs estão juntando forças na realização da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016. Somente pelo fato dessas igrejas cristãs se unirem para, juntas, colaborar na realização de um objetivo comum a favorecer toda a sociedade a iniciativa já merece respeito, atenção e apoio. Quando, então, se toma consciência da urgência do objetivo abraçado, o estímulo para aderir se consolida consideravelmente. Nesse ano de 2016, aproveitando-se do tempo litúrgico da Quaresma, considerado no calendário cristão como especialmente favorável a uma profunda renovação e restauração na condição de discípulos, essas igrejas estão conclamando seus fiéis a olhar o planeta terra com responsabilidade e, a partir daí, colaborar para que a casa comum da humanidade ofereça dignas condições de vida a todos os cidadãos. Pode-se estranhar o fato de igrejas tratarem de assuntos ecológicos, aparentemente estranhos a propósitos religiosos. Habitou-se a restringir atividades religiosas a temas espirituais. No entanto, quando se toma conta da grave deterioração porque passa o mundo e dos sérios reflexos na saúde das pessoas que provoca, se entende com facilidade que pouco resolve cuidar somente da alma e ignorar o corpo e as graves agressões ao ambiente em torno. Há de se lembrar que no seguimento de Jesus Cristo duas virtudes transparecem com destaque: a justiça e a caridade. Uma completa a outra. Com justiça compreende-se o tratamento digno devido a cada ser humano, em sua condição essencial de imagem e semelhança de Deus. Por caridade, entende-se o interesse sincero com o semelhante, qualidade definida pelo próprio Mestre Jesus como qualificativa de seus discípulos. Esses somente serão reconhecidos como tais se tiverem amor uns pelos outros, não um amor platônico, vago e neutro, mas uma caridade comprometida, disposta a carregar o fardo do semelhante. Pois bem, alguns dados estatísticos revelam a calamitosa situação de muitos irmãos vitimas de um saneamento básico deficiente ou inexistente. Sim, dentre o vasto conjunto de assuntos relacionados com a Casa Comum, as igrejas escolheram o saneamento básico e o uso responsável da água como foco principal de reflexão e de ação. Em nosso país, mais de 4000 crianças morrem por ano por falta de acesso à água potável e ao saneamento básico! A CEBDS estima em R$1.112 bilhão as horas pagas, mas não trabalhadas em função de afastamento de trabalho por licenças associadas a insalubridades oriundas da falta de saneamento básico. Estima-se ainda que 19 milhões de pessoas podem ser alimentadas diariamente com as sobras de comida desperdiçadas! Em compensação, está estatisticamente comprovado que na AL é mais fácil ter acesso a telefone celular que a banheiros! Esses poucos dados são suficientes para despertar a consciência e avivar a responsabilidade, não somente do cristão, mas, igualmente, de todo cidadão bem intencionado. Permanecer indiferente diante dessa calamitosa situação significa agir em favor da decomposição do ambiente. Por mais bem protegidos e aparelhados, nações prósperas e condomínios fechados não escaparão das tristes consequências de um mundo enfermo e insalubre. A justificada apreensão provocada pelo mosquito Aedes confirma a vulnerabilidade coletiva e comprova a urgência de iniciativas solidárias. Somos todos responsáveis pela preservação e promoção da Casa Comum.

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