sábado, 2 de abril de 2016

CARTILHA

Jesus está solto! Foi a resposta dada por um garoto à catequista que sondava os conceitos que seus catequizandos faziam de Jesus ressuscitado! Com precisa percepção o garoto intuiu que, ressuscitado, Jesus passava a ser humanamente irrefreável! Em seu corpo glorioso, Jesus se tornara completamente livre das limitações impostas pelo corpo físico. Ressurreição é diferente de reanimação! Em corpo ressuscitado, nenhum obstáculo físico impede sua presença e sua ação! Como tudo na vida de Jesus, a ressurreição é mistério, isto é, uma verdade que ultrapassa a dimensão sensível. Seu entendimento demanda serena contemplação e o substrato da fé. Especialmente quando se verifica a ausência de testemunhas oculares a descrever a saída de Jesus do túmulo. Os guardas responsáveis pela segurança da sepultura percebem o terremoto, vêem a pedra ser rolada, atestam a presença de anjos, mas a Jesus mesmo, ninguém vê. Fato, racionalmente decepcionante, uma vez que a ressurreição representa o momento mais glorioso da vida do Mestre. Pela lógica humana, deveria acontecer de maneira espetacular, uma produção impactante. Repete-se a mesma estratégia verificada no nascimento. Na ocasião, numa obscura gruta, longe de olhares humanos, o Filho de Deus iniciava modestamente sua jornada humana a terminar, igualmente solitária, na gloriosa ressurreição. Confessa-se a ressurreição de Jesus não em bases de testemunhas oculares, mas unicamente na fé, suportada, é verdade, em evidências complementares. A fé dispensa provas, mas alimenta um lógico e coerente raciocínio. A vida de Jesus seguiu primoroso plano! Pregava Ele, transmitia sua mensagem e praticava o bem por onde passasse. Segundo o testemunho de seus discípulos, curava todas as espécies de enfermidades, libertava, em suma, as pessoas de suas tribulações. Essa trajetória deixou rastros de benemerências em inúmeras pessoas, favorecendo compreensível aceitação popular e alimentando, naturalmente, a excitação em um final apoteótico. Quando, então, se viu o Mestre morrer na cruz, confundido com criminosos, a frustração era total. Doeu! Naturalmente surgiram questionamentos pragmáticos: como explicar? Afinal, que adiantou fazer tanto bem, e terminar tão vergonhosamente rejeitado? É a frequente indagação que mais atormenta a mente humana, particularmente no esquema calculista, obcecado em avaliar iniciativas pelo crivo do custo/benefício. A morte na cruz desapontou dolorosamente os amigos mais próximos de Jesus. Os deixou confusos e desolados. Quando, contudo, ficou claro que Ele havia ressuscitado, que estava vivo em suma, a percepção mudou completamente de perspectiva. O caminho seguido por Jesus não foi um fracasso, ao contrário, foi uma experiência de estrondoso sucesso, não somente pelos inegáveis benefícios causados na caminhada, mas principalmente pela nova compreensão que oferecia sobre o sentido da vida. É sempre arriscado avaliar iniciativas pelos resultados imediatos. É preciso tempo, para certos projetos maturarem-se, confirmarem seu intrínseco valor. Lição preciosa, especialmente para gente que anda acelerada e impaciente atrás de resultados! A atual ansiedade priva as pessoas de convicções enraizadas, formando e favorecendo mentalidades superficiais que preferem êxitos imediatos, embora de objetiva eficácia duvidosa. A percepção que a ressurreição de Jesus provoca foca justamente esta verdade: é preciso saber discernir o que é objetivamente proveitoso para o ser humano e aplicar-se em sua efetivação, sem se importar com aplausos imediatos. No contexto conflagrado por que passa o mundo atualmente, e nosso país em particular, está se dando preferência a encaminhamentos provisórios, resoluções de impacto, mas de eficácia duradoura duvidosa. Festejam-se mortes de terroristas, mas não se investe em melhorar as condições de vida de seus países de origem. Articula-se a remoção de governantes, mas não se aplica em erradicar o rasteiro oportunismo! Essa percepção profundamente libertadora que emerge da realidade da ressurreição de Jesus, convence os cristãos da sua responsabilidade perante o mundo. Reconhecem-se moralmente comprometidos a mostrar que o caminho que atende aos anseios mais profundos da alma humana é o da prática da caridade generosa e gratuita, a caridade sem cálculos. De Cristo revestidos, dispõem-se a seguir a mesma cartilha, na certeza de ressuscitar com Ele, igualmente soltos, na glória eterna!

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