sábado, 11 de junho de 2016

INFÂNCIA FELIZ

Genética ou cultural? É a temática que pontua o debate entre estudiosos e observadores motivado pelos recentes episódios criminosos envolvendo crianças e adolescentes. Num breve espaço de tempo, um surto de delinquências praticadas por jovens e crianças tomou conta das manchetes na mídia. O grau de agressividade e a sucessão dos delitos assustam a sociedade, provocando análises e levantando encaminhamentos. Alarga o horizonte do debate um intrigante detalhe: entre os delinquentes encontram-se jovens vindos de famílias abastadas. Este fato já elimina um desgastado preconceito, atrelando a criminalidade a uma específica classe social, como se a condição social fosse fator determinante para a prática do ilícito. Está evidente que este preconceito largamente presumido está totalmente infundado. Serve apenas para alimentar divisões e desconfianças entre classes sociais e raças. Uma escola de pensamento associa a prática de criminalidade à fatores genéticos. Amparada em pesquisas sérias, essa tese mostra a grande probabilidade de pais criminosos gerarem filhos igualmente propensos a delinquência. Da mesma forma como pais alcoólatras e/ou viciados em entorpecentes tendem a deixar seus filhos altamente vulneráveis diante desses vícios. Embora se reconheça a importância de fatores genéticos, psicólogos, pedagogos e neurocientistas estão cada vez mais convencidos que o vetor preponderante na formação do caráter de uma criança encontra-se nas relações que ela vive. Insistem esses profissionais na dimensão de pessoa presente em cada ser humano. Um infante não é objeto, é gente. Possui consciência, inteligência, vontade. Um bebê é um ser com imprevisíveis potencialidades e infinitas capacitações. Embora carregue geneticamente algumas predisposições, no fim das contas não são essas heranças que determinam o rumo da sua vida, mas sim a intensidade e o nível de relacionamentos que experimenta. A insistência nos fatores genéticos induz, previsivelmente, a conclusões fatalistas, dificilmente reversíveis. Consequências incompatíveis com a individualidade de cada ser humano. Estudos e análises realizados em vários partes do mundo confirmam a fundamental importância da presença dos pais na formação da personalidade dos filhos. A intensidade e o nível da presença dos pais exercem considerável influência na evolução da individualidade do filho. Uma ilação emerge espontaneamente: a ausência física e condutas impróprias por parte dos pais no convívio familiar acarretam graves e perigosos desdobramentos. Está comprovado, os filhos não necessitam de pais perfeitos, apenas os querem presentes. Entende-se a presença como participação efetiva e afetiva no cotidiano do filho. Forma personalidade o nível de conversação que rola no aconchego familiar, como também o enfoque com que se lêem os acontecimentos sociais. Determina a potencialidade afetiva do filho o grau e a intensidade de relacionamentos que se cultivam em família; se a atenção e o respeito são sinceros, malgrado os inevitáveis desencontros. Filhos não esperam perfeição nos pais, eles os querem bem intencionados e dedicados. Particular importância têm as oportunidades de lazer. Pedagogos destacam a importância das brincadeiras na infância, especialmente com a participação dos pais. Pais que se dispõem e sabem brincar com os filhos aumentam sobremaneira suas potencialidades para um futuro convívio social saudável. Esta valiosa interação lúdica exerce papel inestimável na prevenção contra solidões e depressões. Sensíveis, as crianças percebem quando o brinquedo caro visa encobrir a ausência física. Inconformados, descontam a falta de atenção, tornando os pais reféns de seus caprichos e humores. Para crescer sociável, a criança necessita apenas interagir saudavelmente com os pais. É relativamente bem mais acessível, e certamente mais econômico, evitar o aparecimento de crianças infratoras: basta saber dar-lhes atenção. Basta saber amá-las, em suma! Impacta a afirmação de James Heckman, prêmio Nobel de Economia: ilusão pensar que o mundo gira em torno do dinheiro. A referência é o amor. Criança amada é garantia de infância feliz. E infância feliz é prevenção segura contra crime!

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