
Benditas férias! A agenda menos apertada proporciona descanso psicológico. Premissa imprescindível para poder relaxar, diminuir consciente e livremente o passo. A despreocupação mental faculta condições para usufruir-se, sem remorsos, de amenidades e diversões, inacessíveis no ritmo acelerado marcado por agendas e pressões. Período de folga, prazerosa experiência de liberdade, capaz de renovar forças e recarregar baterias gastas.
É comum as pessoas alargarem a sensação de renovação, entregando-se, prazerosamente, a fazer detida faxina em guarda roupas, gavetas e outras bugigangas, acumuladas na presunção de que um dia viessem a serem úteis. Sem que a ocasião, na realidade, nunca aparece. Separam roupas para doar, enchem sacolas de comprovantes de recibos e cadernos amarelados, saboreando a sensação feliz de uma libertação física e mental reconquistada. Esse impulso renovador, que deleita a alma humana, é reflexo do ritmo presente na natureza. Periodicamente, a natureza passa por processos de faxina e de renovação. Os agricultores, constante e intimamente ligados ao ritmo da natureza, sabem que, antes do novo período de plantio, é preciso revolver a terra para proporcionar-lhe novo oxigênio e a limpar de ervas daninhas. Caso contrário, a produção ficará seriamente prejudicada e a qualidade do produto afetada. Dedicados curadores, regular e diligentemente afofam a terra. Em consonância com o processo natural, a Bíblia recomenda períodos sabáticos, tanto para a terra como para o ser humano. Muito antes do aparecimento de sindicatos, o Livro Sagrado já determinara o descanso semanal para as pessoas, livres ou escravos, como também para os animais e para a terra. E de sete em sete anos determinava um período de repouso mais longo. Descansar é remédio e vitamina.
Aproveitar o período de férias, como também os ocasionais dias de feriado, para diminuir o ritmo e aliviar a pressão é uma necessidade cada vez mais urgente. De forma sutil e perniciosa, o ser humano está sendo induzido a restringir cada vez mais, não tanto a extensão cronológica do descanso, mas seu sentido profundo de repouso, de quebra de ritmo. Muitos estão se vendo, hoje, incapazes de desligar-se de seus afazeres e compromissos. Além da previsível estafa que esta mórbida mentalidade provoca, com as inevitáveis consequências de irritação e impaciência, depara-se com o desgaste nos relacionamentos, particularmente os familiares, e, obviamente, com o distanciamento da própria íntima individualidade. O desfecho previsível dessa amalucada carga é o colapso físico, emocional e espiritual. A incidência de gente deprimida e solitária representa a triste comprovação do desumano ritmo imposto sobre o cidadão.
Urgente é saber desacelerar! Distingue-se descanso do ócio. A inação enjoa. A desocupação deprime. Ao reportar o descanso do Criador, a Bíblia o associa à contemplação. Deus admirou e descansou. Descansar é agir diferente. É criar condições para, por exemplo, escutar e deliciar-se com as melodias, naturais ou compostas, que no ritmo frenético dos dias úteis passam desapercebidas. É contemplar a natureza, as pessoas, no compasso folgado de visita à pinacoteca. Sem olvidar-se, evidente, de olhar para si próprio com a mesma diligência com que o agricultor contempla a terra a ser arada. Começa a descansar de verdade a pessoa que aprende a olhar para si mesma com amor, analisando, sem remorsos, a própria identidade, o grau e a motivação de seus relacionamentos, a relevância da sua dimensão espiritual. É provável que encontre entulhos a serem removidos, poeira acumulada ofuscando o brilho original da alma. Dócil à sabedoria da natureza e livre, aplica-se a eliminar o que não possui mais serventia e a ajustar o que necessita de conserto. É no equilíbrio entre o espiritual e o material que se encontra o verdadeiro descanso. Porque, afinal, não é somente o físico que anda sobrecarregado, o espiritual, provavelmente, também encontra-se descuidado. Paga-se preço muito caro quando se desaprende a contemplar.
Folga bendita! Privilegiada ocasião para restaurações e renovações!
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