sábado, 10 de junho de 2017

LUMINÁRIAS

O silêncio tempera as palavras! Por ser tão ruidoso, o mundo está ficando cada vez mais refém de comunicações apressadas. Prefere-se recorrer a bordões de moda, acomodando as pessoas a uma dramática redução de vocabulário. Para complicar, na pressa de falar, muitos não conseguem pronunciar direito as palavras, dificultando ainda mais a comunicação. Como, no entanto, a vida está cheia de imprevistos, quando o sujeito se vê na necessidade de partilhar algo mais profundo, se enxerga completamente desprovido e incapaz de comunicar-se. Os tantos ruídos bloqueiam a serenidade que ajuda a pensar e formular expressões adequadas e particularizadas. Recorre-se, frequentemente, ao expediente do colar e copiar. É mais fácil e rápido usar cola do que se dar ao trabalho de formular o próprio discurso. Emerge a enfadonha repetição. A nauseante superficialidade. Sem silêncio as palavras perdem efeito. E deixam de encantar. Tanto aos que as pronunciam como aos que as escutam. Essa incapacidade de garimpar o verdadeiro sentido e peso nas palavras e frases induz a pessoa a, frequentemente, ignorar a riqueza de conteúdo apresentado. Leiam-se textos sem atentar a seu rico conteúdo, desperdiçando dessa forma preciosa oportunidade para ampliar conhecimentos e aprofundar entendimentos. Essa limitação verifica-se de forma dramática na leitura de textos bíblicos e litúrgicos. Nessa literatura, tanto bíblica como litúrgica, encontram-se frases e expressões que carregam verdadeiras minas de conteúdo teológico e místico, mas que, na maioria das vezes, ficam, simplesmente, ignoradas. Ao ler, sem parar para garimpar o verdadeiro significado e alcance de palavras e frases, desperdiça-se fabuloso conteúdo. Isso fica claro ao notar a superficialidade no uso de termos, frases ou figuras clássicas que tem por intenção provocar profundo impacto e alterar situações. Toma-se, como exemplo desse desperdício, a figura usada por Jesus para definir o tipo de relacionamento que deseja ver existir entre si e seus seguidores. Ele recorre à figura do pastor. Alerta à possibilidade de existirem condutores irresponsáveis que fingem cuidar do rebanho, mas na realidade zelam por garantir seus próprios interesses. O que diferencia o pastor bom do mercenário é, segundo Jesus, a capacidade de conhecer e chamar cada ovelha pelo nome. Ora, o termo ‘conhecer’ na Bíblia envolve muito mais de que juntar informações. Conhecer é amar, e amar significa criar vínculos. Ao afirmar, portanto, que o pastor bom conhece as ovelhas, Jesus indica que o sinal de um pastoreio correto é o envolvimento com a vida de cada integrante do rebanho. Esta verdade fica explícita quando o próprio Bom Pastor declara que é amado pelo Pai porque dá a vida pelas ovelhas. Ele não somente conhece a história de cada ovelha, mas se envolve com a vida de cada uma a ponto de estar pronto de dar a vida por elas. De onde emerge outra dimensão nesse relacionamento. O anelo de mantê-lo e vivo e pulsante. Ora, relacionamentos se mantêm vivos a partir de experiências de convívio contínuo e envolvente. Presume-se estar Jesus expressando o desejo de motivar cada membro de seu rebanho a viver a experiência de um permanente encontro pessoal e íntimo com seu pastor. Quanta verdade preciosa se embute na palavra ‘conhecer’! E quantos a leem sem dar-se ao trabalho de ruminar seu profundo conteúdo! Emergem, desse descuido, dramáticas consequências espirituais! Pessoas muitas há que frequentam igrejas, cultos e missas, sem experimentar a mística experiência do encontro pessoal com o Bom Pastor! Fiéis há que não dispõem de tempo, para ficar a sós com o Bom Pastor, ouvindo-o chama-los pelo nome! Na verdade, dando-lhe a alegria de revelar-lhes a profundidade do seu amor, a realidade do vínculo que o liga a cada um! Preciosas palavras desperdiçadas! Urge diminuir o passo. Urge reduzir ruídos. Urge compenetrar-se que palavras têm peso e frases possuem sentido. Demandam, então, atenção, empenho e interesse para decifrar sentidos e garimpar alcances, alargando conhecimentos e aprofundando sentimentos, indispensáveis premissas para saborear singulares experiências. Palavras são luminosas!

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