sábado, 24 de fevereiro de 2018

MANCHETE

O jogo da paz acabou em pancadaria! O noticiário esportivo do último final de semana registrou as cenas lamentáveis do final do jogo entre os times do Bahia e do Vitória, lá em Salvador! Ironicamente, antes do início da partida, os jogadores se confraternizaram num bonito apelo em favor da paz. Um gesto de um jogador foi entendido como provocação pelo time adversário e fez evaporar o orvalho da paz e escancarou o latente, mas muito ativo, impulso agressivo. A desmedida arruaça no estádio Barradão reflete, com triste precisão, a cultura da violência que contamina a atual sociedade. Assusta a escalada da violência. Preocupa, sobremaneira, não somente pelo difuso alastramento, mas, e principalmente, pela desenvoltura e crueldade crescente dos agentes do mal. O descontrole é evidente e insinua uma perigosa situação, a inversão de comando. Quem anda determinando o compasso da sociedade não são mais os governos constituídos, mas as organizações criminosas. Evidente, esta calamitosa situação é resultado de sucessivos desgovernos e de omissões, como também da contumaz e infame promiscuidade entre as legítimas autoridades e os barões do crime. Subornados e cooptados, os governos perderam a autoridade e a moral para impor ordem e disciplina. Perplexa e amedrontada, a população debate se a situação tem conserto. Existe retorno. Existem, igualmente, ferramentas capazes de reverter a medonha situação. É preciso, primeiro, recuperar a legitima hierarquia. Os postos de comando não podem ser rifados entre correligionários e aliados. No quesito justiça e segurança, este pressuposto assume dimensão estratégica. Somente com competência e caráter pode-se almejar um tenaz combate contra as bem-articuladas e disciplinadas organizações criminosas. É preciso restabelecer o respeito pela lei, é preciso retomar o comando, condições básicas para que a população supere o medo e volte a circular sem sobressaltos. A repressão e a punibilidade, por mais urgentes, representam apenas uma peça em um conjunto de ações articuladas em favor da paz e da ordem. O avanço da criminalidade se explica, paradoxalmente, pelo respeito à hierarquia, pela disciplina e pela ação articulada entre as diversas células que integram uma organização criminosa. O seu combate, portanto, será eficaz na media em que a sociedade também se articule. É totalmente ambíguo, e cômodo, deixar aos governos a exclusiva responsabilidade de garantir tranquilidade e segurança. A sociedade, em suas diversas células, também precisa se articular, caso se queira realmente recuperar o sossego e a tranquilidade. A Campanha da Fraternidade deste ano, oportunamente, convoca as diversas entidades sociais a se unirem no combate à violência, com especial destaque à família e às próprias organizações religiosas. A meta e a inspiração é o cultivo da cultura da paz! Cultivar envolve labor, dedicação e persistência. A mais elementar análise convence que a violência que se percebe solta e atrevida nas ruas e praças encontra-se igualmente presente nas células básicas da estrutura social, nas famílias, nas escolas, nos ambientes de trabalho. É desses ambientes conturbados que saem os bandidos, tantos os de pés de chinelo como os de colarinho branco! É nessas áreas miúdas, portanto, que se deve preferencialmente investir na implantação da cultura da paz. Se nesses ambientes básicos se aprende a praticar a honestidade, a tolerância, a compreensão, o perdão, a reconciliação, o respeito, se habitue, em suma, a enxergar o outro como irmão, pode-se confiar, a infame cadeia da violência começará a ruir. Omitir-se, por outro lado, torna a sociedade conivente! Objeta-se, muitas vezes, que embora louváveis, essas medidas são inócuas diante da dimensão monstruosa da atual violência. Rechaça-se esse pessimismo resignado com a convicta fé na força do bem! Se uma única luz é suficiente para dissipar trevas, que impacto luminoso não conseguirão várias luzes reunidas! É preciso acreditar que o bem também contagia. Tratamento respeitoso, bem temperado, também pode ser manchete! Abaixo o pessimismo! Abaixo a acomodação! Articuladas e determinadas, as diversas entidades do bem reúnem formidáveis energias para alimentar e manter viva a alvissareira cultura da paz!

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