
Caridade sem justiça aliena! Caridade sem justiça, é paternalismo puro! É próprio, e louvável, nesta época de festas de fim de ano se multiplicarem campanhas de solidariedade. Movidos por humanitários sentimentos, indivíduos e associações se organizam com o intuito de proporcionar a pessoas e famílias carentes condições materiais básicas para que se possam alegrar-se nesses tempos de festa. Louvam-se essas iniciativas humanitárias, mesmo porque encontram inspiração e amparo na mística do Advento. Para o cristão, celebrar o Natal de Jesus vai muito além de lembrar o acontecimento em Belém. O Natal evoca e convida a mergulhar no sublime mistério da Encarnação: o Filho de Deus assume a condição humana para abrir e mostrar ao homem o caminho da salvação, um resgate não limitado somente ao campo espiritual, mas extensivo também à dignidade do ser humano. Celebrar o Natal de Jesus significa, portanto, abraçar a proposta de salvação integral e universal. Significa unir-se a Cristo na tarefa de devolver ao Homem sua original dignidade.
A difusa injustiça representa uma das causas mais profundas da humilhação do ser humano. As infames desigualdades e as escandalosas apropriações de bens e conhecimentos, favorecidas por uma cultura do lucro e de ostentação, contribuem decisivamente para manter enormes setores da humanidade culturalmente marginalizados e materialmente carentes. É sabido que a miséria e a ignorância não se devem à falta de matéria prima. Resultam, principalmente, de uma gananciosa apropriação e de uma injusta distribuição das riquezas existentes. Fundamentalmente, as maiores carências de que padece a humanidade são a ausência de solidariedade e um ambíguo conceito de justiça. Escondidos atrás de uma cruel indiferença, esses desvios de conduta colaboram para tornar a miséria mais aguda. Justifica-se cinicamente a degradante situação de penúria de milhões de seres humanos com discursos fatalistas e cínica resignação: não há o que fazer, sempre foi assim!
Chega-se, então, a época de Natal, é se assiste a uma multiplicação de iniciativas beneméritas pontuais. Sem desmerecer nenhuma dessas campanhas, não é difícil, contudo, perceber que esses surtos de bondade não resolvem o vergonhoso drama da miséria. A multidão marginalizada, antes de se usufruir de um farto almoço no dia de Natal, almeja profundamente superar definitivamente a degradante situação de progressiva miséria. Antes da fome é preciso lutar por uma justiça restauradora. Caridade sem justiça, sem um decidido empenho para eliminar desigualdades e exorcizar indiferenças, não passa de paternalismo. Presta para anestesiar consciências! Resolve, e mal, o problema por um dia, sem, contudo, mexer com as reais raízes do degradante escândalo. Pode, paradoxalmente, agravá-lo, pois acostuma a classe carente a ver vantagens na dependência de pontuais assistências! É bem mais cômodo, afinal, ganhar comida que trabalhar para consegui-la.
Doar cestas básicas é auxílio emergencial e indispensável! Entregar brinquedos faz-se pontualmente louvável. Não esgota, porém, a dimensão da caridade. Na realidade, a maquia! Urge lutar contra as verdadeiras causas da miséria e do abandono: a insaciável ganância, a obsessão pela ostentação e a cínica indiferença. Vida digna não é concessão! É direito, e não restrito a minorias privilegiadas, mas extensivo a todo cidadão! Ensina a mística judaica, inspirada na Palavra divina: quem redime uma vida, salva o mundo! Caridade sem justiça age como analgésico: tira a dor, mas não cura!
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