sábado, 9 de maio de 2020

REAL PRESENÇA

REAL PRESENÇA “Devolvam-nos a missa”! Este apelo invade as redes sociais e representa uma bandeira seguida por um grupo, formado predominante de jovens, reclamando o retorno às celebrações eucarísticas nas igrejas. Propõem-se, inclusive, ajudar a manter a ordem estabelecida pelos órgãos de saúde, oferecendo máscaras, disponibilizando álcool em gel e desinfetando os templos após as celebrações. Legítimo anseio, desconexo, todavia, da realidade. Espiritualmente ambíguo e teologicamente discutível! Sem mencionar a dimensão surreal da sua logística. Onde encontrar suficiente gente para manter tantos templos desinfetados? Convém lembrar que em Israel, um grupo ultraconservador de judeus desobedeceu as orientações sanitárias do país e manteve as reuniões nas sinagogas. Enquanto no país a pandemia corre controlada, entre esses ortodoxos o índice de infectados e de óbitos se multiplica de maneira preocupante. Nós entendemos de teologia e de liturgia, mas quem orienta em questões de saúde são as autoridades sanitárias, afirma a Conferência dos Bispos dos Estados Unidos! Templos vazios não é realidade nova na história da Igreja. Nos primeiros trezentos anos de sua existência as comunidades reuniam-se clandestinamente nas catacumbas. Mesmo sem igrejas, o número de fiéis não parava de aumentar. Mais recentemente, nos países de Leste europeu, sob o regime comunista, as igrejas também andavam vazias. Nem por isso a religiosidade do povo ficou enfraquecida. Tanto na época do império romano como na era comunista, a Igreja encontrou meios criativos para manter viva a fé e a religiosidade de seus integrantes. É o desafio que se apresenta hoje para a Igreja, consciente de sua responsabilidade de manter aceso o fogo da fé dos fiéis sem deixar de colaborar com as autoridades sanitárias e evitar colocar em risco a saúde de seus integrantes. De forma alguma se minimiza a importância das celebrações eucarísticas. A Igreja vive da Eucaristia. A Igreja precisa da Eucaristia. Enquanto isso não for possível, por motivos que lhe são estranhos, cabe a ela indicar meios alternativos para manter os fiéis em comunhão fervorosa com o Cristo vivo e ressuscitado! Ele mesmo indicou caminhos. Prometeu estar presente onde duas ou três pessoas se reúnem em seu nome para orar. Presença esta real não fictícia. É real a comunhão com o Cristo vivo quando a família se reúne para orar. O desejo de comungar Cristo inspira famílias a reservarem tempo para orar. Educada em oração, a família viverá mais intensamente a alegria da comunhão eucarística quando as celebrações forem autorizadas. A meditação da palavra de Deus é outro caminho para viver a intensidade da comunhão com o Senhor. Nas Escrituras Sagradas é o próprio Cristo quem fala! Com a ajuda das ferramentas sociais é possível, inclusive, realizar reuniões virtuais onde se reflete e se compartilha a meditação sobre a Palavra de Deus. Salas de bate-papo são usadas para tantos variados assuntos, por que não para alimentar-se da palavra de Deus? É de consenso que a pandemia, apesar dos temores e restrições, serve como oportuníssima ocasião para que se reajustem conceitos e se reavaliem hábitos. O tempo é de se reinventar! No campo religioso, o retiro cívico conclama para um novo jeito de ser Igreja. É hora de fazer Cristo sair dos templos. Sua presença real é um mistério que ultrapassa confinamentos. Participar presencialmente da Missa, por ora, está desautorizado. Viver a comunhão com Cristo, todavia, continua imprescindível e urgente! Portas fechadas nunca são obstáculo para ele se fizer presente junto aos seus! Uma triste realidade desponta: acomodou-se a reduzir a comunhão com o Senhor ao templo. Limitou-se a sua influência à celebração litúrgica. Deixou-se de se surpreender com visitas fora da agenda! De forma alguma se quer minimizar a importância da celebração eucarística, mas, certamente, ela se tornará muito mais vital e transformadora se a intimidade com Cristo fosse uma busca permanente e uma onipresente experiência!

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