MULTIDÃO DE ANJOS
Pe. Charles Borg ( 11.XII.2011)
Símbolos evocam. Provocam. São gerados a partir do conceito original de uma situação e alimentados da finalidade a que se destinam. Os primeiros sinais que acompanharam o nascimento do Menino Deus foram anjos entoando hinos de glória a Deus e anunciando tempos de paz para os homens de boa vontade. Faz todo sentido, portanto, que figuras de anjos sejam adornos privilegiados na decoração natalina. O incômodo educativo-religioso se instala quando, como sucede com freqüência, a corrente indutiva de conceitos estaciona na silhueta dos anjos. Integram eles preferencialmente a decoração natalina não tanto pela graciosidade ou doçura de seus semblantes, mas em função do venturoso anúncio que portam. Anjos são mensageiros! E naquela noite em Belém anunciaram a aurora de novos tempos. A intuição humana percebe, especialmente quando educada na cultura cristã, que o sentimento difuso de bondade e de camaradagem tão peculiar a esta época do ano, repousa em realidades profundas e substanciosas. Pela fé iluminada e guiada a alma humana entende que a raiz sólida desta atmosfera leve e descontraída deve-se ao fato do Filho Amado de Deus, Jesus Cristo, aparecer como salvador da humanidade. Foi exatamente esta a boa notícia que os anjos mensageiros comunicaram aos pastores. O Libertador apareceu! Consola-se a humanidade. Respiram aliviados os miseráveis sem amparo.
A Encarnação do Filho de Deus é legitimo mistério. Ao assumir por completo a condição humana, menos o pecado, isto é menos a maldade, Jesus, o Filho de Deus, realizou uma obra que ultrapassa o entendimento racional. Pela humana lógica não é o superior que se rebaixa para atrair o subalterno, em especial quando este é um contumaz rebelde. A hierarquia precisa ser preservada! O subalterno que se esforce para granjear as boas graças do superior, particularmente quando está em débito com ele. Afinal, quem deve é que tem que pagar. Na Encarnação Jesus inverte a lógica humana. Não é o pecador que se desdobra para subir à montanha e assim, quem sabe, conseguir um mínimo de consideração e de atenção da divindade. Nascendo de Maria, o Credor veio ao encontro do devedor, não para cobrar e ameaçar, mas, suprema novidade, para perdoar todo transgressor. Esta ‘louca’ lógica divina induz o Homem a rever radicalmente seus conceitos sob pena, caso recuse a fazer seu dever de casa, de, além de nada entender do anúncio dos anjos, ainda venha a desqualificar o Filho de Deus. Muitos O rejeitam por não compreender a sua missão redentora. Por não conhecê-lo, em suma. Ao descarta-lO condenam-se a uma irreversível decadência, a inevitável desesperança.
A Jesus acolhendo, ao contrário, o ser humano recupera a sua autoestima. Motivo outro que emana do anúncio dos anjos e justifica a descontração deste período de festas. Segundo o evangelista João, Jesus assumiu a condição carnal do ser humano. Ele não assumiu somente os predicados nobres do Homem, vestiu-se também dos elementos corruptíveis. Ora, se Jesus o assume por inteiro, isto quer dizer que o ser humano é uma distinta criatura, mesmo incorporando elementos degenerativos. A real humanidade de Jesus confirma que o ser humano em sua essência é um ser nobre. Em sua humanidade Jesus confirma a excelência da raça humana. O Homem existe para ser senhor da história, protagonista do seu destino. Servido até por anjos! Nascendo homem Jesus ensina aos homens a olharem para si e para seus semelhantes não com olhos subjetivos, turvos, interesseiros, mas com os olhos puros de respeito, de admiração, de estima. Nenhum ser humano é desprezível, inútil ou descartável!
O nascimento de Jesus é um acontecimento eminentemente profético! Os anjos são os qualificados mensageiros. Jubilosamente anunciam o profundo apreço que Jesus tem pelo Homem e pela Mulher, sem exceções. Confirmam que a humanidade não está condenada a decadência. E conclamam a família humana a encher-se de boa vontade, pois o processo da paz e da salvação acontece a partir da estima e do intransferível valor que o Homem cultiva em relação a si próprio e ao semelhante! Encham-se os lares de uma multidão de anjos anunciando a paz!
charlsbg@terra.com.br
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