FESTA SEM FIM
Pe. Charles Borg ( 01.XII.2011)
Sair na frente! Eis o dogma que rege as iniciativas na vida moderna. Esta mentalidade apressada representa uma das características marcantes da cultura atual. Em todas as áreas a precocidade está evidente. Objetivo claro desta estratégia agressiva é polarizar a atenção sobre o ‘produto’ que se quer ‘vender’. Quem sai na frente tem mais probabilidade de atrair atenção e, consequentemente, conseguir vantagens sobre os concorrentes. Reflexo desta mentalidade agressiva é a precocidade da decoração natalina. Mal começou o mês de outubro e vários estabelecimentos comerciais ostentavam os habituais motivos natalinos. Contagiadas, outras instituições, como o poder público, sentiram-se socialmente pressionadas, a ponto de decorar ruas e avenidas já em meados de novembro! Ate a chegada do dia do Natal toda esta decoração ficará enjoativa, desgastada, e provavelmente danificada, tanta foi a inexplicável pressa para monta-la. No período festivo mesmo, os motivos natalinos não exercerão mais nenhum apelo sobre a população.
Esta estranha pressa em ostentar os motivos natalinos denuncia, na verdade, o conceito que passou a configurar as comemorações de fim do ano. Insiste-se a associar a época do Natal a uma farra no consumo. Natal é sinônimo de gastos. A dimensão religiosa, razão primeira deste tempo festivo, encontra-se significativamente reduzida. Fala-se do Natal com uma vaga, quase acidental, alusão ao nascimento do Filho de Deus. Esta mentalidade profana se difunde com tamanha velocidade e agressividade a ponto de contaminar hábitos tradicionais de famílias cristãs. Já na decoração de casa a árvore de Natal substitui em importância o presépio. Nas sacadas e nos jardins a estrela de Belém cede lugar a jogos de luzes, duendes e bonecos de papai noel. Na observação precisa de um colega sacerdote, Jesus, pela segunda vez, se vê trocado pela multidão. Na primeira, quando perdeu para o celerado Barrabás. Ultimamente, para papai noel! Curioso, censura-se tanto as imagens religiosas, mas não se ouve um protesto contra este ídolo caricato que aliena tanta gente! Quanto às tradições, por nenhuma razão a família católica perdia a Missa do Galo. Com ansiedade aguardava-se a celebração noturna da Missa festiva, para e somente depois se deleitava na saudável confraternização. Atualmente, sem nenhum remorso e com várias justificativas na ponta da língua, deixa-se a Missa para dar preferência à ceia natalina! Ouso afirmar que são muitas as famílias que passam o Natal sem encontrar tempo para ir à Missa! Algumas comunidades tentam acomodar as tensões antecipando o horário da missa do Galo. Uma estratégia ambígua, pois além de tirar a peculiaridade da data, na realidade admite-se e submete-se à supremacia dos valores profanos.
Lamentar não é o caso. O foco não está na saudade de outros tempos. A questão é de valores. Importa mais a festa do que o mistério religioso. Celebrar o Natal sem destacar a marcante presença de Jesus é privar-se da razão fundamental de todo clima de alegria. A humanidade se rejubila porque Jesus, o Filho de Deus, veio fixar morada com os homens. Veio para restaurar a desfigurada imagem do ser humano. Jesus nasceu para devolver ao Homem a sua original dignidade, o seu legitimo esplendor. Um motivo que justifica e configura sobremaneira todo clima de festa e de alegria. O que parecia impensável, o Filho de Deus realizou. Abertos os céus, Deus assumiu a forma carnal para dar sentido à história humana. Assumindo a carne humana, Jesus recoloca o Homem, apesar de toda a fragilidade e imperfeição, no digno pedestal que é seu por desígnio divino. Na feliz expressão do apóstolo Paulo, Deus Pai, em Jesus, enriqueceu a humanidade com todas as bênçãos. Por Ele se dão ao mundo todo bem e toda graça, repete, com convicção a liturgia católica.
A precocidade na exposição dos símbolos natalinos desvia a atenção da razão principal da festa. Cuida-se do assessório e olvida-se do essencial. É a alma humana que precisa estar enfeitada, disposta e pronta para acolher e abrigar o Redentor. Descurando do essencial, as comemorações natalinas ficam enjoativas e artificiais, obrigatoriamente ruidosas, com dia e hora para terminar. Tão distante da intenção primeira do menino Deus, que nasceu para que os homens, sem exceção, vivam uma festa sem fim!
charlsbg@terra.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário