O MENINO DE MARIA
Pe. Charles Borg (18.XII.2011)
Festas sem graça! Muitas gente não vê nenhum atrativo para tanta comemoração nesta época de ano. Discordam das tradições habituais e se isolam. Algumas chegam a ficar até deprimidas. Julgam as confraternizações forçadas e artificiais, desprovidas de genuína motivação. Criticam, inclusive, os pretextos religiosos e censuram os cristãos por seguir uma moral ambígua e hipócrita. Afinal, fala-se tanto em pobreza e solidariedade, mas consente-se em patrocinar um espetáculo de esbanjamento supostamente para comemorar o nascimento do Menino Deus que, ironicamente, teve uma manjedoura como disponível berço. Levando em conta os inegáveis excessos tão corriqueiros nessas festas há de se concordar que a censura não está totalmente infundada. Em especial, quando se acrescenta um condimento apimentado nesta receita, a maioria que comemora a data sequer vai à igreja para agradecer a Deus e fortalecer-se na fé. Deseja-se ruidosamente um Feliz Natal sem evocar a presença do Menino Deus! Para muitos, Natal é uma data no calendário que estimula sofisticação gastronômica e alimenta impulsos consumistas.
A leitura atenta dos textos bíblicos relacionados ao nascimento do Jesus esbanja, contudo, júbilo e alegria. Desde o anúncio da singular concepção do Filho de Deus no ventre de Maria até o seu nascimento a narrativa é carregada de gáudio. Os personagens diretamente envolvidos, Maria, José, Isabel, Zacarias e parentes próximos irrompem espontaneamente em cânticos de louvor a Deus! Claramente, o clima é de exultação, com desdobramentos universais! Culminando na mais emblemática manifestação de júbilo executada pelo coro dos exércitos celestes saudando o nascimento do Menino de Maria com hinos de glória ao Criador, seguido do venturoso anúncio feito aos pastores comunicando-lhes o nascimento do Salvador e os convocando a ir conhecê-lO. Quem contempla o Menino de Maria também se vê contagiado por sentimentos de alegria e de reverência, sejam pastores, sejam sábios do Oriente. Apenas uma categoria de pessoas fica perturbada com a notícia do nascimento de Messias, Herodes e sua corte! Mesmo conhecendo as Escrituras, o governador e seus auxiliares enxergam o Menino como concorrente e decidem elimina-lO!
O Menino de Maria é mesmo um sinal de contradição! A razão da controvérsia acerca da pessoa de Jesus se dá, principalmente, porque Ele segue uma lógica muito diferente da dos padrões humanos. João Batista já alertava os judeus que aquele que esperavam se encontrava no meio deles, mas permanecia desconhecido. Não porque quisesse se fazer difícil, ou quisesse brincar de esconde-esconde. Permanecia desconhecido porque as pessoas da época recusavam assimilar a lógica de Jesus! Queriam enxergá-lO ajustado ao modelo por eles imaginado. A missão de João Batista foi justamente aplainar o caminho, orientar o povo a desfazer-se das caricaturas para, assim, acolher o Messias. Nos dias atuais, diante da imensa confusão de conceitos e doutrinas sobre Jesus, como também diante das inúmeras prioridades que atormentam o cotidiano das pessoas, urge surgirem novas vozes capazes de purificar e centrar mentes e libertar corações e assim pode acolher, na simplicidade, o Menino de Maria. É preciso insistir, Jesus assumiu a condição humana para tornar mais fácil reconhecê-lO e acolhê-lO. Quem se abre para Ele e O reconhece como Salvador sente-se invadido por sentimentos de alegria e gratidão e prorrompe, espontaneamente, em hinos de louvor a Deus. Afinal, Deus cumpriu sua promessa e confirmou, no Menino de Maria, o seu amor providente pela humanidade. Jesus nasceu na carne para ensinar aos homens que é possível relacionar-se com o outro com respeito e dignidade, quaisquer que fossem as circunstâncias. Sem a sua passagem a raça humana seguiria em progressiva decadência.
A dimensão restauradora da Encarnação justifica, e muito, este clima de festa. A verdade cristã moldou a cultura de muitas raças. Hoje, conceda-se, muitos se confraternizam e celebram por pura tradição. Mesmo assim, vejo o Menino de Maria feliz ao contemplar seus irmãos se confraternizando, estreitando entre si laços de amizade e companheirismo. Quem sabe, superando mágoas e enterrando diferenças. Afinal, não foi para ensinar os homens a conviverem em paz que o Menino de Maria nasceu e fixou morada com a humanidade?
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