sábado, 14 de janeiro de 2012

Artigo da Semana (7)


VOZ DA ALMA
“Só Deus”! Foi o desabafo que o cidadão haitiano conseguiu balbuciar ao repórter que indagou como andava a vida dois anos após o terrível terremoto que arrasou o país. A entrevista foi feita ao final da missa dominical no que sobrou da antiga catedral de Porto Príncipe. Segundo o repórter, grande parte do país atingida pelo abalo continua em ruínas. Triste coincidência entre a desolação do haitiano e o abatimento de inúmeras famílias arrasadas novamente pelas enchentes do começo do verão no centro-oeste brasileiro. Por aqui, o desconsolo facilmente evolui para a mágoa. E com razão! Terremotos são imprevisíveis. Chuva forte, ao contrário, é corriqueira neste período do ano. Culpar S. Pedro pelo volume de água é, francamente, desculpa cínica demais. É somar deboche à dor. É insultar o cidadão que vê o patrimônio de toda uma vida, apesar dos impostos pagos, sendo arrastado pelas águas em segundos, culpa da incúria de administradores que pensam mais em suas carreiras e projetos políticos do que desempenhar com responsabilidade e dedicação suas tarefas de zeladores e promotores do bem público.
Faz todo sentido olhar para o céu e apelar ao Criador. Somente Ele cuida dos pobres e dos mais abandonados. Nessas horas e nessas situações somente a presença de Deus consola e fortalece. O pobre sabe, como aliás qualquer pessoa de bom senso entende, que não é Deus o culpado por essas tragédias. Não se vê pobre revoltado contra Deus por causa da chuva. Ao contrário, busca em sua presença o consolo que o sustenta e não permite que ele se abata. A presença de Deus fortalece a alma do pobre, porque este acredita e sabe que o Criador não o abandona. Diferente da presença de autoridades que nessas horas exibem semblantes de comiseração, fazem discursos emotivos, liberam verbas de socorro, mandam executar obras de emergência, imaginando impressionar a população com a pronta assistência. Ninguém é bobo, no entanto. Qualquer cidadão entende que se as providências tivessem sido tomadas no tempo certo e de maneira planejada e articulada, muitas das conseqüências desastrosas dessas intempéries teriam sido evitadas. Muitas vidas teriam sido poupadas. O volume de recursos destinado para obras de emergência confirma que as providências preventivas deixaram de ser tomadas não por falta de dinheiro. Dinheiro há, e como há! Que se contabilizem as ingentes somas desviadas pelos atalhos da corrupção ou dos apadrinhamentos! Sem mencionar os absurdos orçamentos consumidos pela inchada burocracia nas repartições públicas em todas as esferas administrativas. O que falta mesmo é interesse. Consciência do dever. Responsabilidade ética. Com as exceções de praxe, os políticos cuidam de si. Ocupam-se preferencialmente com suas carreiras. Repare-se nas emendas que incluem nos vários orçamentos, a grande maioria de apelo popular, de beneficio meramente cosmético.
Ressalva-se, contudo, político não se elege. É eleito. É cômodo, e também cínico, culpar somente os políticos pelas desventuras. Na verdade, e sempre com as devidas exceções, a classe política reflete a mentalidade que rege a sociedade. Ao votar, os eleitores nem sempre sufragam candidatos genuinamente empenhados em promover o bem comum. Preferem indicar nomes que prometem defender causas mais próximas e particulares. A mentalidade que prevalece, tanto em eleitores quanto em candidatos, é tirar proveito da política. A triste verdade é que a sociedade, como um todo e em graus diferentes, está contaminada por esta perversa moléstia do egoísmo. Obcecada, passiva e surda permanece diante dos apelos divinos em prol da justiça. Enquanto a voz de Deus continuar ignorada, mínimas serão as esperanças para uma substancial mudança de referências e de valores. As conseqüências previsíveis dessa soberba negligência serão as tragédias, tanto as maiores, com suas comoções, como as menores, ignoradas geralmente, mas não menos doídas.
Somente Deus para curar a humanidade, para transformar em corações de carne os corações de pedra. Somente Deus para escutar e atender a voz que sai do mais profundo da alma humana e clama por vida. Suplica respeito e dignidade. É natural que quem se diz de Deus reage e age!
WWW.pecharles.blogspot.com charlsbg@terra.com.br

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