HUMOR
Produzido ficou o humor! Previsível a sátira, derrapando, frequentemente, para a grosseria. Riso é contagioso. Provocá-lo é arte pura, criação reservada a mentes brilhantes. Afirmava Buster Keaton, um dos mais renomados comediantes do século passado, que fazer rir é tarefa de gente séria. De fato, o segredo da boa piada é o desfecho inesperado. Inteligente. Sagaz. O humor atualmente produzido diverte pouco porque é previsível, cheio de situações repetitivas, geralmente de cunho indecoroso e de gosto discutível. Rareou a sátira inteligente, a piada sagaz que resiste ao tempo, a mímica divertida, que mesmo inspirada no cotidiano, não resvala no grotesco, não diminui pessoas nem desmoraliza classes ou minorias. Chaplin nunca apelou para o boçal e permanece admirado e fazendo escola. Foi mordaz e irreverente, mas sempre com classe. Tão diferente do humor atual, estereotipado. Do riso ensaiado, demarcado por claques. Será que o humor ficou sem sagacidade para adequar-se a atual indigência cultural? Ou será que a indolência cultural reinante impõe uma diversão insossa, artificial?
Curioso, o conceito e a diversão do Carnaval seguem a mesma sorte do humor. Considerando o contexto geral não há surpresas no Carnaval. Para quem associa o Carnaval ao desfile das Escolas de samba no Rio, as novidades ficam por conta da formidável criatividade dos carnavalescos apresentando majestosos carros alegóricos e uma e outra fantasia. A exibição de belos corpos, tanto masculinos como femininos, articulada para provocar impacto e sensacionalismo, é, igualmente, tão repetitiva e forçada que acaba resvalando para o lugar comum. Para quem curte as festas de salão, a folia, que, em tese, teria tudo para ser uma diversão saudável, fica igualmente desfigurada por conta de uma tácita imposição no estilo moderno de participar de festas, em especial entre a geração jovem. Reina soberano o imperativo do excessivo consumo de álcool e de outras substâncias químicas. Para se divertir é preciso beber, e beber muito! O grau etílico demarca a animação da festa. Garante a adrenalina. Complemento natural nesta equivocada mentalidade é a consentida, quando não promovida, licenciosidade. Diverte-se não fazendo graça, brincando despreocupadamente, mas dando vazão a instintos primitivos e dominadores. Não surpreende, portanto, o imperativo de carregar camisinha. Dispensam-se as fantasias, mas recomenda-se como adereço obrigatório, o preservativo. Francamente, a concepção moderna de alegria e de descontração ficou muito indigente, arriscada inclusive, pois envolve o real perigo de contrair doenças e de descambar para a violência.
Abomina-se, então, o Carnaval? Censuram-se os programas humorísticos? Proibir e censurar nunca foram estratégias saneadoras. Condenações e anátemas pouco contribuíram para melhorar o mundo. Urge, na verdade, reafirmar, e com convicção, um pressuposto que Jesus enfaticamente aponta com a sua conduta. No tempo dele, pessoas consideradas pecadoras eram escorraçadas. Correto e louvável era repelir esses ímpios transgressores. Com atitudes corajosas e inspiradoras, o Mestre Jesus ensina que o que suja uma pessoa não o que vem de fora, mas o que sai do coração! Coerente, Ele não se acanhava em misturar-se com gente considerada relapsa. Nem receava freqüentar residências de gente ímproba. A sua presença invariavelmente transformava pessoas e ambientes. Não é o impuro que contamina o puro. Ao contrário, a pessoa genuinamente íntegra transforma ambientes e pessoas. Quanto mais íntegro o cidadão, mais saudável fica o convívio social. O Carnaval ficou indecoroso, a piada ficou sem graça porque o Homem perdeu o equilíbrio, ficou refém do sucesso fácil e rápido. O riso ficou debochado. A bufonaria virou zombaria. A sátira virou achincalhação.
O humor é elemento essencial para uma boa vida. O bufo integrava as cortes medievais justamente para descontrair ambientes soturnos e carregados. O comediante é coadjuvante imprescindível no enredo de uma boa novela. É preciso reaprender a divertir-se com as cômicas e inesperadas situações da vida. Afinal, rir permanece recomendada terapia!
Nenhum comentário:
Postar um comentário