sábado, 25 de fevereiro de 2012

ARTIGO DA SEMANA (13)


JOVIALIDADE
A alegria pauta a vida cristã! Os dois grandes mistérios que pontuam o cristianismo são ocasiões eminentemente festivas. O nascimento de Jesus e sua ressurreição. O clima jubiloso que acompanha os dois eventos é tão intenso que extrapola as fronteiras religiosas. É próprio da alegria, quando genuína, ser contagiante. Dando sequência lógica à tese, deduz-se que a vocação cristã é um chamado para a alegria. O entusiasmo e a felicidade são conseqüências naturais da vida plena, objetivo explícito da missão de Jesus – vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância. A marca que distingue o discípulo, portanto, deve ser o otimismo. Já diz o ditado popular: um santo triste e um triste santo! Fica esta verdade mais reforçada quando se leva em conta que o mandamento primeiro a guiar o comportamento do discípulo é o amor fraterno. Ora, não se concebe amor sem alegria. Não se concebe fraternidade sem descontração. As celebrações litúrgicas devem desembocar no aperfeiçoamento do amor fraterno. Os exercícios piedosos devem estimular a prática da caridade. Conclui-se, então, que todas as atividades religiosas cristãs devem alimentar o veio otimista tanto dos indivíduos como das comunidades. Referencial interessante para verificar a fidelidade a Jesus e ao seu evangelho passa a ser o estado de bem-aventurança. Religião é para ser uma perene fonte de júbilo e de esperança e não apenas esparsas ocasiões de animação passageira, artificial.
Ratifica-se, neste contexto, a importância do tempo da Quaresma. Em primeiro lugar, porque este tempo litúrgico tem por objetivo principal preparar os cristãos a celebrar uma grande festa. Integra o esquema de toda festa o ritual de preparativos. Todo evento significativo demanda preparação. Dependendo da importância do acontecimento, mais minuciosos ficam os preliminares. Sugestivamente, ao longo da preparação a excitação que envolve a festa vai se tornando mais intensa. A espera ativa antecipa o entusiasmo que cerca a celebração. É justamente esta a motivação que deve pautar o ciclo da Quaresma, preparar o próprio coração, como também o ambiente da comunidade, para celebrar com pleno e justificado júbilo a festa da Páscoa. Páscoa é vitória! Coerente com a dinâmica de toda preparação, os preliminares levam em conta, obrigatoriamente, a destinação final. Quando faltar a clareza da meta corre-se o risco de desperdiçar energias e tempo. Igualmente, ao faltar a clara noção do destino da jornada, cai-se no equívoco de dispensar os preparativos ou fazer pouco delas. Afinal, graça nenhuma há em preparar-se por algo irrelevante. É o que está acontecendo atualmente com o precioso tempo da Quaresma. Configurado por uma mentalidade demasiadamente conservadora, o ciclo da Quaresma é concebido e vivido como um período de penitências, jejuns e renunciais praticadas muitas vezes pelo valor que em si carregam. Jejua-se pelo jejum. Faz-se penitência pela penitência. Desprovida de um objetivo digno, a mortificação fica sem motivação. Algumas delas, como a abstinência da carne e o jejum de alimentos, atualmente inócuas. Grande, de fato, é o número de pessoas que não consome carne regularmente, ou por opção vegetariana ou por imposição orçamentária. Igualmente, o ritmo maluco de vida moderna reduz drasticamente para muitos a possibilidade de uma decente refeição. As tradicionais penitências da Quaresma perderam o impacto, esta é a verdade. Inadvertida e precipitadamente pode-se querer concluir que, no contexto da vida moderna, a Quaresma tornou-se irrelevante. Ficou obsoleta.
Dedução equivocada. Basta reparar o aumento da angústia que tira o sossego e a alegria de muito cristão. Muitos são os cristãos agitados, intranqüilos, nervosos, irados. Há de se admitir, o cristão anda muito distante, e por culpa própria em grande parte, daquela jovialidade tão querida pelo Mestre Jesus, e pela qual, é sempre importante lembrar, Ele pagou alto preço. O estado agoniado tão difuso confirma a urgência de realizar uma parada espiritual e examinar o grau da fidelidade da adesão a Jesus Cristo. Quaresma é esta oportunidade favorável para avaliarmos preferências e comportamentos. Deduziremos, provavelmente, que é preciso ‘oxigenar’ as práticas quaresmais para que, de fato, nos auxiliem a darmos a guinada necessária em nossa conduta e assim renasceremos mais otimistas na manhã da Ressurreição.

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