sábado, 24 de março de 2012

ARTIGO DA SEMANA (16)

PARA TUDO!


Deus quer seguidores que O escutam. Afirmativa esta que arrepia filósofos e psicólogos adeptos à soberania da pessoa humana. Ouvir Deus, segundo a corrente iluminista e racionalista, é rebaixar-se, é desqualificar-se. É abrir mão, em suma, da própria dignidade. O Homem não precisa de tutores! Curioso, o mesmo racionalismo que enaltece a quem segue gurus, desprestigia a pessoa que se submete a Deus! Dar atenção a Deus representa, para certo tipo de pensador, um atraso de vida. Puro preconceito!
Ouvir, como enxergar, vai além da percepção sensível. Quem acompanha deficientes visuais percebe que eles também ‘ enxergam’, a moda deles. O deficiente visual enxerga de dentro para fora. O natural instinto da sobrevivência adestra o deficiente visual a desenvolver uma sensibilidade perceptiva peculiar. Pela tonalidade de voz, pela maneira de aproximação, ele forma o perfil do interlocutor, com uma adicional vantagem, não se deixa influenciar pela aparência, tão frequentemente enganadora. O vidente, ao valorizar em demasia a aparência, deixa de enxergar predicados mais valiosos, mais consistentes, mais profundos. O essencial é invisível aos olhos!
O mesmo diagnóstico vale para a audição. Captar sons e escutar palavras é apenas parte do processo auditivo. Ouvir representa acolher, assimilar e transformar sons e frases em fonte de amadurecimento. Envolve distinguir o peso de cada sentença a partir do interlocutor, como também do seu específico contexto. Quando não se atenta ao interlocutor e ao contexto corre-se o grave risco de atrofiar a escuta. Capta-se o som sem transformá-lo em fonte energética interior. As frases ficam desconexas. Incompreensíveis. Incompletas. A falha, evidente, não está no aparelho auditivo, mas na falta da complementação cognitiva que dá sustentação e vibração às afirmações. As conseqüências previsíveis dessa ruptura são os inúmeros desentendimentos que surgem no cotidiano da vida. Quantas brigas e quantas ofensas já não foram causadas porque as pessoas estacionam em vocábulos e em sentimentos transitórios, ignorando o perfil do interlocutor. É preciso que se aprenda a ouvir não somente com o ouvido, mas também com a mente e com o coração.
Sapientíssimo é Deus, e profundo conhecedor da alma humana, quando, ao propor o primeiro mandamento, o prefaciou com o apelo: ESCUTA, ISRAEL! O desejo mais premente de Deus, é que as pessoas parem para poderem escutar de verdade. Recorrendo a uma gíria atual, para escutar bem é preciso parar com tudo. É preciso que se escute mais que palavras. Com facilidade se percebe que a preocupação do Altíssimo não é com a escuta auricular, mas com a abertura do coração. O apelo para escutar embute o profundo desejo de Deus que o Homem capte suas intenções, ‘escute’ seus sentimentos. Se tivesse aprendido esta lição, o Homem estaria genuinamente feliz, vivendo na plenitude da paz e da harmonia. Se tivesse dado ouvido à voz de Deus, uma enormidade de barbaridades e de sofrimentos teria sido evitada. Por não escutar com o coração, o Homem perverte os mandamentos. Deixa de entendê-los e vivê-los como caminhos para uma vida comunitária plena, e passa a encará-los como normas a engessar condutas e limitar liberdades. Faz todo sentido o lamento de Deus, reproduzido pelo salmista: Ah! se meu povo me escutasse, afastaria bem longe dele todo sofrimento.
Escutar implica aplicação e atenção. Em especial, demanda uma rigorosa disciplina. Escuta bem quem permite que o outro expresse integralmente seu pensamento, sem interrupções. É uma das limitações mais freqüentes e desastrosas no ser humano. Não tem paciência para deixar o outro expressar satisfatoriamente seu pensamento. Ao interromper a conversação corta o pensamento e inibe a comunicação. E o interlocutor se chateia por não conseguir comunicar com a devida propriedade o seu verdadeiro pensamento. Fica, então, uma conversação truncada, frustrante, distante do foco central. O mesmo procedimento leviano se verifica com frequência no diálogo com Deus. Muitos não abrem espaço para Deus falar. Não avaliam o privilégio de poder ouvir sua Palavra. Apenas ouvem, mas não entendem porque não ‘mastigam’ suas palavras, as tiram do contexto e vão formulando teses, doutrinas e preconceitos absurdos, cujo maior prejudicado, na realidade, é o próprio ser humano. Quando a Deus não escuta o Homem sofre.
É preciso mesmo parar tudo para poder ouvir a voz de Deus e viver!
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