sábado, 31 de março de 2012

ARTIGO DA SEMANA (16)


CRUCIFICADO
Crucifixos causam conflitos. Desde aquela memorável sexta feira, quando Jesus abraçou a cruz, este instrumento de tortura se transformou em símbolo de contradição. A propósito, tudo o que se relaciona com Jesus é motivo de polêmica. Nada estranho que o símbolo que mais bem O representa também o seja.
Freqüente é o questionamento acerca da presença vistosa deste símbolo em templos católicos. Interpelam os críticos quanto à coerência e à conveniência de tão vistosa exposição da cruz. Sendo um dos instrumentos mais cruéis de tortura, censuram o sadismo dos católicos que, parece, preferem ver seu Mestre amado coberto de feridas. Se Jesus ressuscitou por que insistir na trágica imagem da crucifixão? Tudo depende, na verdade, do filtro com que se enxerga a cruz de Jesus. Quem olha o crucifixo apoiado apenas no filtro humano, fica mesmo horrorizado. A imagem é cruel e profundamente questionadora, pois retrata com incômoda precisão o corriqueiro abuso de autoridade e a flagrante porosidade da justiça humana, condicionada a leituras subjetivas e preconceitos. Faz sentido, sim, questionar, usando apenas o filtro humano, como a imagem de Jesus pregado na cruz pode ser ocasião de devoção. Partilho, a propósito, a espontânea reação de uma criança que, ao contemplar o enorme crucifixo em uma igreja, exclamou: não me conformo! Loucura, para usar a definição do apóstolo Paulo. Ciente dos questionamentos que a crucifixão de Jesus provoca, inclusive suas subseqüentes representações artísticas, o mesmo apóstolo propõe usar outro filtro ao contemplar Jesus na cruz, o filtro da fé. Sim, para quem olha alem das aparências, Jesus pregado na cruz nada tem de insensatez nem de sadismo. Ao contrário, é salvação.
Na sua conversação com Nicodemos, um estudioso em conflito, Jesus fala da necessidade dEle ser elevado, referência explicita, e consciente, da sua futura morte na cruz. Declaradamente, Jesus associa esta elevação à salvação do mundo, intenção primeira do Deus-amor. A jornada de Jesus no mundo, incluindo a sua morte dolorosa, é manifestação deste imenso e imutável amor de Deus pela humanidade inteira. Explicitamente declara Jesus que Deus amou tanto o mundo a ponto de entregar seu Filho único, para que todos aqueles que nele crerem cheguem à vida plena! Embora soe estranho, na cruz, livremente abraçada, Jesus expressa o incomensurável amor de Deus. Amor maior não há, confidenciou Jesus, do que dar a vida pelos outros. Ele fez exatamente isto, deu a vida para redimir a humanidade. Mesmo em tese, esta verdade é muito distante da realidade humana, tão desacostumada e desconfiada de gestos generosos de bondade. O ser humano julga impossível alguém amar desse jeito. Se fosse por algum especial amigo, quem sabe se consegue assimilar tanto amor, mas morrer para eliminar os débitos de uma raça obstinadamente rebelde e de cabeça dura, fica mesmo difícil de aceitar. Sem o filtro da fé não se compreende o gesto de Jesus. E, consequentemente, não se vê motivos para reverenciar o símbolo que tão fielmente a representa.
Não é de se admirar, portanto, que o crucifixo continue causando polêmicas! Nada estranho se a sua exposição em logradouros públicos cause debates! Curioso, questiona-se a exposição do símbolo em espaços públicos, mas aceita-se serenamente o uso do mesmo símbolo como adorno. Na parede causa constrangimentos, todavia nunca, ninguém deixou de ir a um show porque o artista carrega a cruz no peito! É se induzido a concluir que o foco do debate não é a exposição da cruz. A polêmica visa atingir a Igreja Católica que, de certa forma, ‘apossou-se’ deste símbolo e ao patrocinar a sua exposição insinua tutela e hegemonia. Recai, portanto, sobre os católicos a grave responsabilidade de preservar da profanação a sacralidade deste precioso símbolo. Reverenciar o crucifixo significa externar profundos sentimentos de reconhecimento, de gratidão e de mudança de conduta diante do Filho de Deus que tanto amou. É Cristo crucificado que anunciamos, já declarou o aposto Paulo. É na condição de crucificado que Jesus quer ser conhecido. Enfaticamente profetizou, quando for levantado da terra atrairei todos a mim!
Que seja genuinamente santa esta semana!
www.pecharles.blogspot.com.

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