domingo, 8 de abril de 2012

ARTIGO DA SEMANA (17)


CENTRO
“Luz de Cristo”! É a aclamação que abre a solene Vigília Pascal, mãe de todas as vigílias. Ao acender a vela pascal e vê-la, solitária, vencer o espaço escuro do templo, a comunidade dos fieis saúda a vitória do Ressuscitado. Com inspiração pedagógica e intuição profundamente humana, a tradição cristã recorre à eloqüente simbologia da luz para externar a fé no mistério da Ressurreição de Jesus e confirmar a esperança em seus inevitáveis desdobramentos. Imprescindível, de fato, é a luz no cotidiano das pessoas. Desempenha vitais funções. A luz realça as cores. Amplia a alegria. Afugenta o medo do escuro. A luz motiva. Um detalhe intriga, entretanto, mesmo em cidades fartamente iluminadas o cidadão nem sempre consegue afugentar totalmente a desconfiança que acompanha a noite. As luzes artificiais, potentes e sedutoras, não são capazes de eliminar por completo a insegurança. Indicativo claro, que o Homem necessita mais que luzes artificiais para poder viver confiante, sem sobressalto. A luz artificial colabora sobremaneira, mas não dispensa aquela outra Luz que, imune a interferências exteriores, brilha e aquece por sua própria vitalidade. Esta luz pela qual a alma humana anela tão ansiosamente é Jesus Cristo ressuscitado. Vivo!
Seus adversários decidiram apagar Jesus. Incomodava a luz que Ele irradiava. Estranhamente preferiram as trevas à luz! Os evangelistas recorreram a uma eloqüente alegoria ao descrever a morte de Jesus. Registraram as grandes trevas que cobriram toda a terra durante sua agonia. Sem possuir plena consciência quanto às implicâncias da decisão de eliminar Jesus, o sinédrio, personificação dos adversários de Jesus de todos os tempos, condenou o mundo às trevas. A zombaria com que provocaram Jesus enquanto pregado na cruz, sintetiza com precisão cirúrgica a vida e missão do Nazareno e, ao mesmo tempo, expõe a triste incapacidade das lideranças da época de captar o profundo sentido de sua obra. Ironicamente, confessaram o despreparo em assimilar o autêntico sentido da Palavra Revelada, que tanto estudaram e pregaram. Caçoaram de Jesus por Ele ter salvado os outros, mas era incapaz de salvar a si mesmo. A gozação resume, paradoxalmente, a verdade maior pela qual Cristo dedicou todo seu ministério. Contrariando a habitual praxe, Jesus não pensou em si garantir, mas buscou elevar todos os caídos. O apelo fica óbvio, enquanto as pessoas persistirem a cuidar de seus exclusivos interesses, de salvar a própria pele, enquanto as lideranças religiosas persistirem a usar a religião para garantir privilégios, as trevas, a confusão, a morte em suma, continuarão reinando, impondo sobre os cidadãos a triste tirania do medo. Profunda consideração e comovente compaixão expressa a intercessão de Jesus quando suplica ao Pai, enquanto caçoado, que perdoasse seus perseguidores porque, de fato, não sabiam o que estavam fazendo.
Jesus sabia o que estava fazendo! Acreditava na sua proposta. Coerente e convicto, fez de sua jornada um constante, consciente e generoso serviço. E buscou convencer a quem se dispusesse escutá-lo que o Homem encontra o centro de sua existência quando abre mão do obsessivo egoísmo, para cuidar, antes, dos interesses do semelhante. Encontrar o centro representa viver articulado, motivado, com claro e inegociável objetivo. É seguir um programa coerente que dá sustentação e perseverança em todas as situações, inclusive, e principalmente, nas imprevistas. O Homem quer equilíbrio, busca harmonia, anela por uma serena e duradoura alegria, mas vive atabalhoado e atrapalhado. Falta-lhe a verdadeira Luz que o ajuda a encontrar a direção justa. Falta-lhe o centro a articular a sua jornada. As muitas luzes que brilham e apelam, ironicamente, mais confundem que orientam, fazendo persistir a angustiante desconfiança de se estar seguindo uma trilha ambígua. Sem referência confiável, o cidadão anda sem rumo. Vaga, excêntrico!
A Luz de Cristo ressuscitado anuncia uma aurora de esperança para todas as pessoas, sejam elas crentes ou sem fé. A Luz de Cristo aponta o centro, o eixo verdadeiro, que dá pleno sentido à vida, motiva a viver para amar e servir, independente de aplausos e censuras. Faz todo sentido a Igreja cantar jubilosa o Aleluia na noite de Páscoa e convidar o mundo inteiro a participar do reboar deste canto.
UMA FELIZ PÁSCOA!
www.pecharles.blogspot.com

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