sábado, 19 de maio de 2012

ARTIGO

COMUNICAÇÃO COM QUALIDADE O silêncio é criador. Diferente do vazio que é ausência, vácuo, o genuíno silêncio é hiato fecundo. Prenhe! Iniciativas e palavras geradas no silêncio são inovadoras. Ao contrário, sentenças ditas na agitação e atitudes tomadas sob o ímpeto da excitação carecem, geralmente, de substância e de consistência. Pedagógica, neste sentido, é a narrativa da criação registrada no primeiro capítulo do livro do Gênesis. Assinala o autor sagrado que sobre a indefinição original paira o Espírito de Deus que, com sua palavra, transforma o difuso caos em ordem. Significativamente a luz emerge como primeiro efeito da palavra criadora. O livro sagrado confirma a intima e fecunda química existente entre silêncio, palavra e vida. Palavras concebidas no silêncio possuem ressonância. Provocam impactos. Geram luz. Na atual cultura, o silêncio causa pavores. Insinua abandono, um vácuo torturante, ausência de atividade. Isolamento, enfim. É preciso estar com a Tv ou o rádio ligados para afastar a incômoda sensação de solidão. Quantos, ao entrar no carro, não acionam primeiro o sistema de som. O silêncio aflige, sugere inanição! Mesmo nas celebrações litúrgicas, pausas de silêncio são raras. Indesejadas. No ritmo moderno o silêncio é considerado como intervalo oco, nauseante. Uma pausa quase ameaçadora. No entanto, basta uma superficial observação para confirmar que o recolhimento é um requisito indispensável na geração de novas formas de vida. É no silêncio da terra que a semente nasce e brota. É no recôndito do útero que o ovulo fecundado desenvolve-se em bebê saudável. A incapacidade de enxergar a fecundidade e a necessidade da contemplação está certamente por detrás da superficialidade que caracteriza o nosso tempo. Incapaz de sossegar, o homem moderno precisa agitar-se, produzir ruídos. Confunde comunicação com poluição visual e sonora. A conseqüência lógica desta cultura agitada é a multiplicação de palavras. Fala-se muito! E das mais diversas maneiras, graças ao espaço aberto pelas ferramentas digitais. No entanto, está mais do que evidente que, apesar da enorme verborragia, poucos escutam. Compreensível até, pois envolvido por tanto palavrório fica impossível ao ser humano focar a atenção. Onde muitos falam, poucos escutam. Ademais, no muito falar, alerta o secular ditado, o risco de dizer bobagens aumenta consideravelmente. A maior ironia dos tempos modernos resume-se justamente na constatação; enquanto enormes sejam as facilidades e as oportunidades para uma pessoa se comunicar, reduzidas são as possibilidades de uma escuta consciente e proveitosa. Observando o processo natural de aprendizagem depara-se com a lição fundamental da comunicação humana. O ser humano começa a balbuciar palavras após habituar-se a escutar! Quem não escuta não fala. Em qualquer estágio de aprendizado, repete-se o mesmo processo, ouve-se primeiro para em seguida agir com responsabilidade e proveito. Na escola da vida, só é verdadeiramente sábio quem se dispõe a ouvir. A conclusão emerge espontânea, é a partir de uma escuta atenta que o ser humano cresce e se evolui genuinamente. Indispensável é a paciência para ouvir. Indispensável é a humildade para aprender. E são justamente essas virtudes que se encontram mais em falta no convívio moderno. Escasseando está a paciência para ouvir. Não se deixa o outro expressar-se adequadamente. O resultado é uma outra ironia característica dos tempos modernos, a dificuldade de expressar-se de uma maneira articulada e clara. Inteligível, em suma! As pessoas estão desaprendendo a conversar e a escrever decentemente. É flagrante a dificuldade, inclusive entre acadêmicos, em externar conceitos em sentenças claras e inteligíveis. Sem a premissa do silêncio é impossível comunicar-se com eficiência e prazer. Sábia e oportuna é a mensagem que o Papa Bento dirige às pessoas de boa vontade, em particular aos comunicadores, neste dia mundial da comunicação. Ao exaltar as enormes possibilidades e vantagens que a atual cultura digital oferece no campo da comunicação, o Papa lembra que uma das premissas indispensáveis para um intercâmbio eficaz e produtivo é justamente o cultivo do silêncio. O silêncio sinaliza respeito. Revela genuíno interesse pela pessoa do outro! Comunicação de qualidade demanda silêncio, na origem e no destino. WWW.pecharles.blogspot.com charlsbg@terra.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário