sábado, 26 de maio de 2012

ARTIGO

O POMAR DO SENHOR “Rompeu a rede”! Este lamento o Papa Bento XVI externou ao iniciar seu pontificado. Comentava a aparição do Senhor ressuscitado junto ao lago de Tiberíades. Tinham seus discípulos passado uma noite difícil, sem nada pescar. Ao aproximarem-se da praia, já clareando o dia, um desconhecido sugeriu que jogassem as redes ao lado direito da barca. Obedeceram. E apanharam 153 grandes peixes – número simbólico, representando a totalidade das espécies marinhas conhecidas na época. A rede, para surpresa do todos, não rompeu! Foi uma das fundamentais lições que o Senhor ressuscitado queria passar a seus seguidores. Almejava que a ‘rede’ carregada de gente pescada pelos apóstolos e seus sucessores permanecesse intacta. Um dos sinais maiores que, de fato, um novo tempo estava surgindo, seria a unidade e a consistência da rede, referência clara à comunidade dos seguidores de Jesus. A leitura atenta das narrativas evangélicas revela quanto prezava Jesus a união entre seus seguidores. Falava do único rebanho que segue o mesmo pastor. Falava da videira, cujo único tronco, Ele mesmo, alimentava todos os ramos. Impensável existir divisão entre ramos alimentados por uma mesma seiva. São iguais! São irmãos! Rogou ao Pai, antes de oferecer sua vida em resgate por todos, que seus seguidores se mantivessem unidos com a mesma união que O unia ao Pai. Não qualquer unidade, mas a perfeita unidade que, por si só, convenceria o mundo a acreditar e aceitar Jesus Cristo como o enviado do Pai. Discute-se muito o fenômeno do esfriamento religioso, como também o crescente número de ‘sem-religião’. Buscam-se motivos para a deserção religiosa. Acolhendo o raciocínio de Jesus como referência, é se induzido a concluir que um dos fatores preponderantes, embora não o mais comentado, pelo desprestígio crescente do cristianismo, seja a divisão entre os cristãos. Tanto no interior de uma mesma comunidade, como também na pública e notória ruptura entre as várias denominações cristãs. Rompida encontra-se a rede! Mutilada a comunhão! Realidade não somente incompreensível, mas especialmente escandalosa, motivo de tropeços. Inadmissível. Pois, como se explica que pessoas que professam seguir um mesmo Mestre vivam divididas entre si? Como se explica que um rebanho que diz seguir um mesmo Pastor vague de um jeito tão disperso? Como se explica que ramos que dizem receber a mesma seiva vivam em constante conflito entre si? Essas divisões, tanto no campo interno das comunidades, como no campo público das igrejas cristãs, alijam o Evangelho de Jesus Cristo, pulverizam sensivelmente o impacto de sua vitória. Injustificáveis são as divisões entre as comunidades cristãs. Se um só é o Mestre, se um só é o Espírito que anima indivíduos e comunidades, se um só é o Batismo que expressa a incondicional adesão a Jesus Cristo, a lógica conclusão exige que exista um só rebanho e um só Pastor. Esta verdade é inquestionável! O rebanho de Jesus Cristo só pode ser um. A Igreja de Jesus Cristo só pode ser uma! E ela existe e se compõe por todos que seguem Jesus com fidelidade, não importa a denominação exterior. Pena que falta a este rebanho a visibilidade necessária. Sim, inúmeros são os irmãos que enxergam alem das fronteiras de suas ‘igrejas’, que entendem que não se pode estar unido a Jesus e, simultaneamente, desligado dos demais seguidores. Anelam por uma comunhão mais visível, uma união mais explícita. O rebanho é único. E não pode ser diferente. Afinal, estão os cristãos unidos na raiz pela mesma fé e pelo mesmo amor a Jesus Cristo. União, frisa-se, não quer dizer necessariamente uniformidade. Os primitivos autores cristãos amavam falar do pomar do Senhor, repleto de árvores de variadas espécies, regadas embora pela mesma água da chuva. A rede de Pedro, recorda-se, ficou cheia de várias espécies de peixes. A diversidade não anula a união. Antes a torna mais vistosa e atraente. Em tese, falta o mais fácil, tornar essa união visível. Kierkegaard, filósofo destacado no século passado, deixou escrito que a motivação maior do ser humano é cultivar a paixão pelo possível! Ao enxergar uma meta como possível, luta-se por ela com paixão e garra. Que se reconheça, é perfeitamente possível cultivar o pomar do Senhor preservando a rica diversidade de espécies! WWW.pecharles.blogspot.com

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