Reflexões para crescer no amor a Deus, no amor aos irmãos e fortalecer-se na fé cristã.Viver, em suma!
sábado, 22 de setembro de 2012
BIG MATCH
Ensolarado amanheceu o domingo. Coisa rara na chuvosa Irlanda. No caminho à missa chamou-me a atenção o fato de muita gente, famílias inteiras, estar trajando camisas do que me pareceu times de futebol. Na igreja, o mesmo fenômeno. Participando da missa, gente com camisa vermelha e outros com amarela, sentados um ao lado do outro, sem nenhum aparente incômodo. Ao final da missa, perguntei a um senhor o porque dos uniformes. Disse-me que era dia de jogo, um clássico de futebol irlandês – BIG MATCH – entre dois times rivais na cidade. Disputavam os amarelos contra os vermelhos um jogo de semi-final da copa da Irlanda. Saindo da igreja, passeei pela avenida principal de Dublin, simplesmente tomada pelas duas torcidas rivais, que aguardavam a hora do jogo na maior paz. Embora tratasse de BIG MATCH, as torcidas, famílias inteiras, com crianças pequenas inclusive, andavam descontraídos e tranqüilos, sem provocações e sem conflitos. Não se via nenhuma barricada, nenhum policiamento ostensivo! Confesso que me deu vontade de ir assistir ao jogo. O comportamento das torcidas, ao mesmo tempo explícito e fiel, a ponto de ostensivamente vestir a camisa do time, mas também tranqüilo e sem provocação, atiçava-me. No fim preferi seguir o meu roteiro preestabelecido, participar da oração de Vésperas na catedral anglicana de Saint Patrick.
O termino do culto coincidiu com o fim do jogo. O mesmo fenômeno se repetiu. A multidão saiu do estádio na maior tranqüilidade, gente de amarelo voltando para casa misturada com a torcida dos vermelhos Assistindo pela Tv, á noite, notei que o estádio estava lotado e o time amarelo havia aplicado uma surra nos vermelhos. Contudo, nenhuma briga entre as torcidas, nenhum confronto, nenhum cenário de guerra. Impossível não fazer comparações. Fiquei imaginando o habitual cenário que antecede e segue o clássico entre Palmeiras e Corinthians. Que diferença de contexto! O clima, aqui, é sempre de tensão, de apreensão. Avalia-se não somente se vale a pena ir ao estádio uniformizado, mas, o cúmulo do absurdo, se vale arriscar e ir assistir ao jogo! Quanto receio no torcedor que quer apenas viver o prazer de apoiar seu time. O medo, no entanto, anda prevalecendo e afastando muito torcedor do estádio. Naquele domingo percebi que em Dublin as torcidas não exibiam nenhum traço de medo. Torcer pelo time de coração não apresentava absolutamente nenhum risco, independentemente do resultado da partida.
A violência, como a paz, é questão de cultura, um processo longo de definição de valores e formação de mentalidade. Em muitos países, como se sabe, as casas não precisam de grades de proteção. Os carros pousam na rua. Vários os fatores que explicam e geram tanta segurança. O primeiro, evidente, é a tradição familiar que educa os filhos a respeitar o semelhante. Aprende-se a respeitar o direito do vizinho de pensar e de agir de forma diferente, sem que isso apresente ameaça para os demais. Aprende-se a não temer o outro, como também a valorizar as próprias convicções. Educa-se, enfim, para conviver com o diferente sem sentir-se diminuído e sem sucumbir ao impulso de querer desqualificar o outro. Nota-se, lamentavelmente, entre nós um triste e ameaçador retrocesso nos costumes. Impulsiona-se a intolerância. Acirra-se a tirania do medo. A truculência é vista como expressão de autoafirmação! Equívoco total! A vigente cultura de agressão, na realidade, denuncia uma terrível lacuna de autoestima e uma suicida inversão de logística. Pois no afã de querer eliminar o adversário, descuida-se de consolidar-se com os mais consistentes valores. Nenhuma causa subsiste quando recorre ao medo como principal ferramenta. Ao contrário, ao se abdicar do terror, naturalmente sobressai a honradez da causa defendida e desabilita-se, inapelavelmente, toda estúpida rejeição!
A vida é um BIG MATCH, jogo de campeonato. É legitimo que cidadãos e agremiações queiram ganhar. Muito do êxito depende da estratégia. Ao optar pela truculência e pelo medo o cidadão já entre no jogo perdendo, vulnerável e inferiorizado. O jogador que, ao contrário, investe sabiamente em talento e qualidade consolida a autoestima e se impõe pela saudável personalidade, ingredientes valiosos no caminho para o sucesso.
WWW.pecharles.blogspot.com.br
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Graaaaaaaaaaaannnnnnnde
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