sábado, 15 de setembro de 2012

DUBLIN

Dublin é a cidade do livro. A capital irlandesa se destaque pela quantidade de livrarias. É uma das primeiras impressões que se impõem ao visitante. Não é sem motivo que Dublin é também a cidade com maior número de agraciados com o Prêmio Nobel de literatura. São três os dublinenses condecorados: William Yeats, Ezra Pound e Samuel Beckett. Estranho como o mais ilustre dos clássicos irlandeses, James Joyce, não ter sido agraciado pela distinta honraria. Um dos principais motivos pela exclusão do ilustre romancista é o fato dele ter sido rejeitado, inclusive pelos próprios compatriotas, pela linguagem vulgar e ultrajante em sua obra mais conhecida – Ulysses. Conhecido pelo temperamento forte, Joyce exilou-se no continente europeu, por conta dessa rejeição, sem, contudo, jamais esquecer sua terra. A Irlanda, e Dublin em especial, ocupam espaço privilegiado em sua obra. Notável é a lista de autores outros consagrados da literatura irlandesa, Jonathan Swift, Oscar Wilde, George Bernard Shaw – outro inexplicavelmente esquecido pela Academia Nobel. Dublin é, sem dúvida, a cidade da literatura. Significativamente, encontra-se, em uma de suas mais famosas bibliotecas, o ‘livro’ mais antigo da Europa, o Livro de Kells. Esta obra, na verdade trata-se não de um livro propriamente dito, mas de um manuscrito sobre pele bovina, reproduz os quatro evangelhos na versão latina do Vulgata. A transcrição feita por monges, aproximadamente no ano 800 dc, é de uma impressionante meticulosidade. São 340 folhas ricamente ornadas, originariamente inclusive por fios de ouro, motivo pelo qual sempre correu sério risco de roubo. Felizmente foi entregue no sec. XVII à universidade. O manuscrito encontra-se separado em quatro volumes. Apenas um desses volumes pode ser visto na maior biblioteca do Reino Unido, a biblioteca do Trinity College, a Universidade de Dublin. Ao pisar no imenso salão da biblioteca, são 65m de cumprimento, apropriadamente chamado de LONG ROOM - o salão cumprido - o visitante se pasma diante da imponência do conjunto. É quase um espaço sagrado, uma catedral de literatura. São mais de dois milhões de obras meticulosamente arrumados, vigiados pelos bustos dos mais ilustres pensadores de todos os séculos e povos. Embora seja um dos pontos turísticos da cidade, sempre freqüentado por conta do Livro de Kells, o silêncio dentro da biblioteca impressiona. O salão impõe reverência. O conhecimento é, sem dúvida, uma das mais nobres e perenes conquistas da alma humana. Dublin da literatura é também a cidade da religiosidade. Convivem hoje, sem sobressaltos, católicos e protestantes. A presença de muçulmanos é também notável. Nem sempre o convívio foi, todavia, pacífico. A intolerância religiosa é uma das paginas mais tristes da história do Reino Unido. Exemplo clássico desta intolerância foi a determinação da rainha Elizabete I obrigando católicos que quisessem estudar no Trinity College a renunciar à sua fé e se converterem ao anglicanismo! A mentalidade, hoje, é outra. O mesmo College exibe como uma das mais notáveis conquistas, a capela ecumênica, onde acontecem regularmente cultos de todos os credos. Apesar dos antigos conflitos, chama atenção a valorização que os anglicanos dão à rica herança católica. Nas catedrais anglicanas encontram-se capelas dedicadas à Nossa Senhora, usadas inclusive como espaço de devoção e culto. Quem visitar as igrejas, católicas ou protestantes, em horário de culto, observa a maciça participação de fiéis. Voluntários cuidam de acolher e orientar os visitantes. A hospitalidade e a espontânea descontração são outros traços marcantes da cultura irlandesa. Conversam muito os nativos e riem alto, especialmente nos pubs,que são muito mais que bares. São legítimos espaços de encontros de famílias e de amigos, onde os freqüentadores passam horas, saboreando a cerveja local, animados por pequenas bandas executando as melodiosas e alegres canções tradicionais do país. A descontração não elimina a disciplina. Os parques, mesmo os localizados na área central da cidade, são um convite ao relaxamento. Impecavelmente conservados, exuberantes no seu verde peculiar, representam um sedutor convite para sentar ou deitar na grama, conversar, ler, brincar. Relaxar, em suma! Pena que os dias de sol são tão raros na culta e verde Dublin! WWW.pecharles.blogspot.com.br

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